Fiel aos EUA e querido pelo mercado, México ´criou´ 2,5 milhões de pobres após a crise
Banco Mundial não apresenta explicação conclusiva sobre os motivos da pobreza elevada no México
País responde por 83% dos latino-americanos lançados abaixo da linha de pobreza, segundo Banco Mundial. Nações que apostaram em fortalecimento do papel do Estado tiveram resultado oposto
Os dois primeiros anos da crise econômica que teve início em 2008 e ainda hoje prejudica as economias dos países desenvolvidos fizeram com que 3 milhões de latino-americanos fossem empurrados para a pobreza ou não conseguissem sair dela – desses, 83% são mexicanos, o equivalente a 2,5 milhões de pessoas. Os dados são de um estudo do Banco Mundial cuja íntegra será publicada em junho.
O México foi um dos países da região que adotaram a receita ditada por Europa e Estados Unidos para lidar com os efeitos da crise: corte dos investimentos do governo em benefícios sociais e programas de criação de emprego e renda, além de pagar auxílios ao combalido mercado financeiro para salvar bancos da falência.
A diretora de Economia e Desenvolvimento Humano na América Latina do Banco Mundial, Margaret Grosh, uma das autoras do estudo, disse à Agência Efe que a queda dos trabalhadores à pobreza se deve à depressão econômica e à diminuição de renda. Ao mesmo tempo, um grande contingente que “teria saído da pobreza porque seus países estavam crescendo antes de 2008” não cruzou a linha pois a crise não os permitiu, afirmou Margaret.
“É importante considerar isso, porque quando apareceram os primeiros números de pobreza, a tendência foi pensar ´ah, a situação não é tão ruim´, mas muitos poderiam ter abandonado a pobreza, e a oportunidade se perdeu”, explicou. Margaret também observou durante a elaboração do estudo que, na maioria dos países, o maior impacto da crise foi sentido entre as pessoas que mantiveram seus empregos, mas que, no entanto, perderam entre 10% e 15% de sua renda.
O efeito sobre a pobreza na região foi especialmente sensível, na opinião de Margaret, porque a região “é particularmente desigual, por isso existe uma preocupação especial com a pobreza e a distribuição de renda, porque as famílias mais pobres simplesmente não podem se permitir uma queda de sua renda”.
Ainda assim, países como Brasil, Uruguai e Equador, que apostaram em uma orientação inversa para o poder público, com manutenção dos programas sociais e maior investimento no setor produtivo do que no mercado de capitais, conseguiram continuar crescendo e sem aprofundar desigualdades. “O impacto foi muito diferente de um país para o outro”, comentou a especialista.
Apesar dos dados e de sua particular sensibilidade diante de um potencial aumento da pobreza, Margaret destacou que a América Latina não foi a região mais afetada pela crise, pois ficou atrás de Europa Oriental e Ásia Central. Os problemas na região foram consequência em grande parte “dos modelos de comércio e dos parceiros comerciais” da América Latina. Este segundo ponto afetou especialmente o México, já que grande parte dos parceiros comerciais do país são dos Estados Unidos, onde a crise teve um impacto direto.
Da Rede Brasil Atual