Brics podem reter US$ 75 bi para o FMI

As maiores economias emergentes, que formam o bloco de países denominado Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, estão decepcionadas com novo atraso na redistribuição de poder no Fundo Monetário Internacional (FMI) e isso complicará a liberação de US$ 75 bilhões que haviam prometido ao Fundo.

O secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Carlos Márcio Cozendey, chamou de “uma surpresa negativa” a nova recusa pelo Congresso dos Estados Unidos, em meados de janeiro, de ratificar o aumento de capital e reforma no FMI, o que bloqueia na prática mais poder para os emergentes.

“A instituição (FMI) perde credibilidade, o que é ruim para todos, e a médio prazo pode perder também recursos”, afirmou. “Hoje boa parte dos recursos do FMI são empréstimos bilaterais temporários que foram feitos à espera da reforma de cotas.”

Em negociações desde 2008, quando começou a crise global, países desenvolvidos e emergentes chegaram a um acordo político, pelo qual o fundo seria fortalecido com recursos adicionais em troca de mais participação dos emergentes nas decisões.

Foi nesse contexto que em 2012 Brasil, Rússia e Índia prometeram fazer empréstimo bilateral de US$ 10 bilhões ao FMI, cada um; a China comprometeu-se com US$ 43 bilhoes, e, a África do Sul com outros US$ 2 bilhões.

Só que os atrasos se acumulam na reforma do Fundo. Diante da irritação dos Brics, o governo dos EUA pediu em setembro de 2013, na Rússia, para os emergentes abafarem suas críticas, prometendo a ratificação da reforma de 2010 do FMI, por meio da lei orçamentária submetida no início deste ano ao Congresso.

Ocorre que a nova recusa dos congressistas, neste começo de 2014, teve dois efeitos. Primeiro, mantém o bloqueio à entrada em vigor de aumento das cotas para os emergentes ainda por um bom tempo. Pelo arranjo, o Brasil ficaria entre os dez maiores em cotas e em poder de voto na instituição. O que vai ocorrer é a Europa continuando a ser excessivamente representada. O segundo ponto é que sem a ratificação pelos EUA, que tem mais de 15% de poder de voto, ficou comprometida outra etapa das mudanças, que é a revisão da fórmula e novo aumento de cotas. Isso deveria ocorrer em janeiro deste ano. Foi empurrada agora para janeiro de 2015.

Na Índia, fontes do governo manifestaram quase alívio com a rejeição do Congresso dos EUA, apesar de insistência na entrada em vigor da reforma do FMI. É que assim não precisam fornecer agora os US$ 10 bilhões prometidos ao Fundo, diminuindo a pressão sobre o orçamento deste ano.

Do Valor Econômico