Produção industrial brasileira surpreende positivamente

O curto-prazismo e a exploração desmedida de qualquer informação se tornaram uma das pragas centrais da discussão pública atual

Os dados da produção industrial do país em outubro surpreenderam positivamente. Houve avanço de 0,6% em outubro, terceiro mês consecutivo de aumento – 0,2% e 0,5% respectivamente em agosto e setembro.

O crescimento de 0,6% em relação ao mês anterior e de 0,9% em relação a outubro de 2012 supera as expectativas do mercado, que apostava respectivamente em 0,1% e 0,4%.

Das quatro categorias de uso, houve queda no setor de bens de consumo duráveis (menor do que se previa); e alta para a produção de bens de capital e de consumo de semiduráveis e não-duráveis.

Assim como os dados do PIB (Produto Interno Bruto), a volatilidade registrada nos últimos tempos não permite ainda fixar uma tendência.

O IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), centro de inteligência do pensamento industrial em São Paulo, indaga-se se, com três meses seguidos de alta, acabou o “efeito-gangorra” do ano, que registrava altas inesperadas seguidas de quedas imprevistas.

Apesar de julgar que ainda é cedo para uma conclusão definitiva, o IEDI acredita em 2014 com taxas de crescimento positivas. Mas a expectativa é que o ano comece com ritmo modesto de crescimento.

Essa indefinição permeia também as análises do Banco Itaú.

O dado otimista é a disseminação do crescimento entre os subsetores industriais, a maior em quatro meses, com expansão em 21 das 27 atividades abrangidas pela pesquisa. Além disso, o índice mensal de formação bruta de capital cresceu 6,4% em relação a outubro de 2012.

Mesmo assim, o Itaú acredita em uma moderação no crescimento industrial nos próximos meses. Identificou sinais crescentes de arrefecimento da demanda por bens de capital. Esse mesmo movimento foi captado pelo Departamento Econômico do Bradesco.

Apesar do respiro dos três últimos meses, não foi um bom ano para a indústria, segundo o IEDI. Nos dez primeiros meses do ano, a produção industrial cresceu apenas 1,6%. E isso graças à recuperação dos setores de bens de capital e de bens duráveis, crescimento respectivamente de 14,9% e 1,6% no período.

Mas o setor de maior peso da indústria é a de bens intermediários. Este aumentou apenas 0,1% no período, devido à forte concorrência dos importados.

A atividade que mais puxou a indústria foi a da produção de veículos automotores, com alta de 10,3% nos dez meses.

O Itaú admite que esse crescimento da produção industrial diminui o risco de um PIB negativo no quarto trimestre. Com esses dados, as projeções do Bradesco são de um crescimento do PIB de 2,2% no ano, similares às do Itaú antes da divulgação desses indicadores.

O mais curioso nesse jogo de dados é a dimensão política que passou a se dar a esses indicadores. A cada índice positivo, o governo acena como o fim do Pibinho. A cada índice negativo, oposição e mídia acenam com a recessão e o desespero.

Esse curto-prazismo e essa exploração desmedida de qualquer informação ou dado tornaram-se uma das pragas centrais da discussão pública atual. É de um ridículo atroz criar cavalos de batalha em torno de variações de 0,2, 0,3% de qualquer índice.

O país merecia uma discussão estratégica mais elevada.

Da Carta Capital