Brasil se firma como quarto mercado de carros

Favorecido pela combinação de crise na Europa e recorde nas vendas domésticas, o Brasil está se consolidando neste ano como o quarto maior mercado automotivo do mundo, distanciando-se da Alemanha e encurtando a distância, ainda considerável, em relação ao Japão, terceiro colocado, mas onde as vendas estão em queda devido à retirada de estímulos dados para a compra de carros após o tsunami que atingiu o país em março de 2011.

A Alemanha, que há três anos perdeu a quarta colocação para o Brasil, ficou ainda mais para trás na corrida dos maiores mercados globais após registrar queda de 6,8% nas vendas de veículos nos sete primeiros meses deste ano. A diferença da demanda brasileira – que subiu quase 3% nesse período – em relação à alemã já passa de 215 mil veículos, incluindo caminhões e ônibus.

Outros mercados que poderiam ameaçar a posição do Brasil, como a Rússia e a Índia – onde as vendas de carros cedem, respectivamente, 6,2% e 9,5% -, também estão em queda, o que torna ainda mais confortável a situação brasileira nesse ranking.

A ascensão do Brasil entre os grandes mercados automotivos do mundo é um fenômeno relativamente recente, sendo resultado dos sucessivos recordes no consumo de veículos nos últimos dez anos. Até 2006, o país não passava do nono maior mercado mundial, com vendas de carros que somavam apenas metade dos volumes atuais. Desde então, o consumo evoluiu a um ritmo médio anual superior a 11%, refletindo, principalmente, a maior disponibilidade de crédito, a expansão da renda e os incentivos fiscais concedidos pelo governo nos momentos de crise.

Montadoras que já estavam posicionadas aqui com produção local puderam aproveitar bem esse movimento para amenizar as turbulências vividas por suas matrizes nos Estados Unidos e na Europa, sobretudo após a crise financeira de 2008. O Brasil passou a ser o terceiro maior mercado do mundo para grupos como Volkswagen, General Motors (GM), Ford e Renault, ou o segundo maior para a Fiat, quando se inclui as vendas da Chrysler.

Estudos publicados por consultorias, o que inclui uma pesquisa da KPMG com executivos das maiores empresas automobilísticas do mundo, chegaram a projetar o Brasil como o terceiro maior mercado global, superando o Japão até 2016.

O protagonismo internacional do consumo de carros no Brasil, contudo, não se repete quando se olha para a atividade das montadoras. Embora tenha o quarto maior mercado, o Brasil é apenas o sétimo maior produtor de veículos do mundo – com, segundo números do ano passado, 1,2 milhão de unidades a menos do que a Coreia, que nem chega a estar entre os dez maiores mercados mundiais.

Ainda que esteja mais próximo no consumo de carros, o Brasil não chega a ter metade da produção japonesa. Em 2012, o Japão fabricou quase 10 milhões de veículos, enquanto o volume do Brasil foi de 3,4 milhões de unidades, segundo dados compilados em anuário da Anfavea, a entidade que representa a indústria automotiva brasileira. Na comparação com a Alemanha, a produção brasileira é inferior em mais de 2 milhões de unidades.

A diferença para esses países é que o Brasil ainda não tem uma indústria exportadora, assim como não desenvolveu marcas genuinamente nacionais com projeção para o exterior. O Japão, por exemplo, exportou, em 2012, 4,8 milhões de veículos – quase onze vezes acima dos embarques brasileiros – e suas montadoras têm 168 fábricas espalhadas por todo o mundo.

No Brasil, sem competitividade para atingir mercados mais desenvolvidos, as exportações ficam demasiadamente concentradas em países da América do Sul. “Temos uma capacidade de produção que é o desejo de grandes países industrializados, mas precisamos recuperar nossa capacidade de competir”, afirma Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford no Brasil.

No momento, a Anfavea trabalha em um conjunto de propostas a ser apresentado ao governo para incentivar as vendas externas. O texto deve incluir medidas como a desoneração das exportações. A meta traçada pela entidade é elevar para 1 milhão de veículos – o dobro do volume atual – as exportações de veículos produzidos no Brasil, recuperando o superávit comercial no setor.

As montadoras avaliam que a retomada das exportações será fundamental para evitar uma ociosidade na indústria, já que os investimentos em curso devem elevar a capacidade produtiva anual da indústria automobilística brasileira em mais de 1 milhão de veículos até 2017. Com as restrições a produtos importados do novo regime automotivo, a produção local se tornou o único caminho para se ter alta escala de vendas no Brasil. Por isso, uma série de montadoras tem anunciado projetos para instalar fábricas no país.

Do Valor Econômico