Importados absorvem dois terços do aumento do consumo
A produção industrial brasileira e as vendas no varejo seguiram a tendência de alta no primeiro trimestre deste ano, mas um levantamento da Fiesp revela que o consumidor está gastando mais na compra de importados.
A indústria nacional aproveitou apenas um terço, ou 35,9%, do crescimento de 4% do consumo aparente, sobre o primeiro trimestre de 2010, enquanto os produtos estrangeiros captaram 64,1% do mercado interno.
Os dados são dos Coeficientes de Exportação e Importação (CEI) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que foram divulgados nesta segunda-feira (9/5). O CEI é calculado trimestralmente pelo Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da entidade.
“Vemos um mercado interno robusto, mas não é a produção brasileira que está se beneficiando disso”, avaliou Roberto Giannetti da Fonseca, diretor-titular do Derex. “Para reverter esse quadro precisamos de medidas macroeconômicas, como uma política industrial competitiva, e estímulos à reação dos empresários”, observou.
Coeficientes
O coeficiente de exportação da indústria, que representa o volume total exportado sobre a produção, subiu 0,4 ponto percentual (de 17,1% para 17,5%) nos três primeiros meses do ano sobre o mesmo período de 2010, o que mantém o índice bem abaixo do patamar histórico para os primeiros trimestres — em torno de 21% em 2007. “O aumento ainda é tímido, com um viés anti-exportador”, concluiu Giannetti.
Já no coeficiente de importação da indústria, o avanço de 1,7 ponto percentual nesse mesmo período (de 19,9% para 21,6%) contribuiu para sustentar o índice em nível acima da média histórica, que gira em torno de 18%.
Segundo Giannetti, a progressão acelerada desse coeficiente nos últimos dois anos caracteriza um processo de desindustrialização no Brasil.
“A desindustrialização ocorre quando há substituição da produção interna pela importada, e isso tem acontecido no Brasil de forma mais acelerada que em outros países”, avaliou. “A perda de competitividade da indústria é sistêmica, porque nesse processo o empresário deixa de investir e pode ficar defasado lá na frente. É preciso romper a inércia”, frisou.
Pela primeira vez, o levantamento fez um recorte para a indústria de transformação, que exclui a extrativa, e o cenário para o setor é mais modesto ainda em exportação.
O coeficiente do volume exportado sobre o produzido obteve o segundo pior resultado da série (14,7%), considerando os primeiros trimestres. Houve alta de 0,7 ponto percentual em relação ao acumulado de janeiro a março de 2010, mas o índice ficou 1,2 ponto percentual abaixo do registrado no último trimestre do ano passado.
Já a taxa de importados sobre o consumo aparente é semelhante à da indústria geral (20,4%).
Se comparada ao movimento da exportação, subiu mais em relação ao primeiro trimestre de 2010 (1,8 ponto percentual) e caiu menos sobre os últimos três meses do ano passado (0,8 ponto percentual).
Setores
Em exportação, 16 dos 33 setores analisados pela pesquisa estão retomando o patamar pré-crise. Os principais são ferro-gusa e ferroligas (51,5%), máquinas para agricultura (33,3%) e siderurgia (20,5%).
Já segmentos como o de aeronaves (32,8%), calçados (18,8%) e produtos de madeira (22,2%) ainda não retomaram o ritmo anterior à crise financeira de 2008.
A maioria dos setores, ou 26 deles, continua apresentando alta no coeficiente de importação. Os principais são máquinas, aparelhos e materiais elétricos (33,5%), produtos de couro (30,7%) e máquinas industriais 49,2%.
A metalurgia de metais não-ferrosos (31,8%), a fabricação de aeronaves (38,2%) e de equipamentos médico-hospitalares (60,8%) são três dos seis setores que estabilizaram ou diminuíram o coeficiente de importação.
Do Brasil Econômico