Siderúrgicas iniciam bem o ano de 2011, após 2010 negativo para o setor

Após um 2010 digno de ser esquecido – com duas das três siderúrgicas listadas na bolsa tendo perdido quase um quarto de seu valor de mercado -, as ações do setor têm tido um ótimo começo de ano, com CSN (CSAN3, +11,92%), Gerdau Met (GOAU4, +7,84%), Gerdau (GGBR4, +6,75%) e Usiminas (USIM3, +8,9% e USIM5, +6,21%) acumulando ganhos bem acima do Ibovespa, que subiu 2,36% nas primeiras duas semanas de 2011.

Quem olhar apenas para o desempenho das ações pode supor que esse momentum favorável é apenas um movimento de correção às fortes perdas de 2010, hipótese que poderia ganhar ainda mais sustentação se olhássemos para as perspectivas nada animadoras dos analistas para o setor em 2011, esperando que os mesmo fatores que conturbaram os mercados no ano passado, tais como a valorização das commodities metálicas e o aumento da concorrência externa, deverão persistir nos próximos 12 meses.

No entanto, a percepção dos investidores em relação ao horizonte de CSN, Gerdau e Usiminas parece estar melhorando gradualmente. É o que diz a equipe do BTG Pactual em relatório, que cita eventos recentes, tais como o declínio nas importações, o aumento da demanda doméstica à medida que os estoques diminuem e os preços em alta no mercado externo como determinantes para essa melhor percepção em relação ao setor.

Essa visão apresenta riscos, pois ainda há excesso de capacidade em termos globais e as siderúrgicas brasileiras não apresentam valuation barato, alerta o time de análise do BTG. Ainda assim, a instituição projeta uma grande melhora do cenário no final deste ano e início de 2012, o que fica evidente com o fluxo carregado de notícias envolvendo o setor.

Menor concorrência chinesa
Uma dessas novidades vieram do IABr (Instituto Aço Brasil), cujos dados mais recentes mostraram um declínio nas importações da matéria-prima no Brasil. Os dados trazem algum alento às siderúrgicas locais”, escreveu na época em relatório o analista Rodrigo Ferraz, da Brascan, que acredita que o volume de importação deverá continuar a cair nos próximos três ou quatro meses, “como resposta ao alto nível de estoques na cadeia.

Em 2010, a apreciação do real tornou os produtos estrangeiros mais atrativos para o mercado interno, aumentando a participação principalmente dos produtos chineses. Por conta disso, as siderúrgicas nacionais reduziram os seus preços para competir com esses novos entrantes, o que acabou deteriorando suas margens operacionais e, consequentemente, resultando na forte desvalorização das ações.

No entanto, as medidas anunciadas recentemente pelo governo chinês para inibir que o forte crescimento da economia local fuja do controle deverão diminuir a participação desses players no mercado brasileiro, afirma Eduardo Dias, da PAX Corretora. “Como você tem uma concorrência menor por conta da China, a tendência é que os papéis andem mais nesse ano”, explica o analista.

Bons números da economia doméstica…
Além de uma menor participação do aço internacional no País, os dados recentes da economia brasileira também inspiram confiança, com a produção industrial tendo registrado evolução na passagem de outubro para novembro em metade das regiões pesquisadas.

A indústria automobilística, por sua vez, reportou um forte resultado em 2010, atingindo um total de 3,64 milhões de veículos produzidos, alta de 14,3% em relação a 2009, mostrou a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), que espera ver a manutenção dessa tendência em 2011.

…e dos Estados Unidos
Esses primeiros dias do ano não contaram apenas com novidades no front doméstico. Na agenda norte-americana, embora o ISM Index tenha mostrado um nível de atividade industrial levemente abaixo do esperado em dezembro, a produção industrial do país acelerou seu crescimento no mês passado, passando de 0,3% para 0,8% – as expectativas apontavam para uma expansão de 0,4%.

E não é apenas da pauta econômica que surgiram referências positivas da economia dos EUA. Historicamente visto como um termômetro da temporada de resultados no país, o balanço da Alcoa mostrou que a siderúrgica teve seu maior lucro líquido desde 2008, alcançando US$ 258 milhões no quarto trimestre de 2010, o equivalente a US$ 0,24 por ação – analistas projetavam ganhos por ação de US$ 0,19 no período.

Além de tudo, futuro permanece bastante favorável Em meio a tantos acontecimentos envolvendo o setor siderúrgico nesse curto espaço de tempo, o analista da PAX Corretora não deixa de ressaltar que o horizonte de longo prazo dessas empresas permanece bastante favorável, levando-se em consideração os grandes eventos esportivos que ocorrerão no País, como a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, bem como as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que ainda devem atrair fortes volumes de investimento.

“Os projetos de infraestrutura básica envolvendo a Copa do Mundo não devem caminhar muito neste ano. O foco deverá ficar mesmo a partir de 2012, mas de certa forma as ações acabam se influenciando em 2011”, diz o analista da corretora Eduardo Dias, que não descarta a possibilidade dos investidores estarem aproveitando as recentes quedas das ações e o fluxo favorável de notícias para já montarem posições no setor, visando esses acontecimentos futuros.

Gerdau: preferência do mercado
Diante desse cenário, a empresa que aparece como a principal aposta dos analistas no setor é a Gerdau, que foi citada em oito das 28 carteiras recomendadas compiladas pela InfoMoney em janeiro. Além de bem posicionada para se beneficiar dos investimentos em infraestrutura que o Brasil deverá receber, a companhia também possui forte exposição à economia norte-americana, a qual espera-se que apresente sinais mais sólidos de recuperação nesse ano, após ter derrapado em seu processo de retomada em 2010.

A elevação de preços de produtos siderúrgicos nos mercados internacionais também ajuda a colocar a empresa frente aos seus pares brasileiros. “Acompanhamos diversas notícias sobre reajustes positivos de preço para diversos produtos siderúrgicos em locais como EUA, Europa e Ásia, o que pode contribuir para a retirada dos descontos no preço do aço concedidos pelas siderúrgicas brasileiras às distribuidoras desde agosto”, escreveu a equipe da SLW Corretora em relatório.

Por fim, Dias explica que tanto a Gerdau quanto a Usiminas deverão implementar ao longo do ano novos projetos que visam a redução de custos, com a primeira devendo apresentar mais novidades nesse âmbito. “Por isso que a Gerdau é hoje a top pick do mercado para o setor”, conclui o analista da PAX.

CSN e Usiminas
Sobre a CSN, Dias ressalta sua forte exposição ao mercado de minério de ferro, o que acabou servindo de proteção para a empresa em 2010, tendo em vista o forte rali de alta da commodity durante o ano – enquanto os papéis de Gerdau e Usiminas acumularam perdas de mais de 20% no ano passado, as ações da CSN recuaram apenas 1,61%. Por conta dessa diversificação de negócios, o Citigroup recomenda a compra de CSNA3, projetando uma valorização de 9% no minério durante o primeiro trimestre de 2011.

No entanto, o fluxo de caixa estável da empresa não atrai a equipe de análise do BTG, que prefere se posicionar em Usiminas e Gerdau, por estas empresas utilizarem maior alavancagem operacional, o que pode resultar em um potencial aumento nos preços. Os analistas elevaram a recomendação de USIM5 para compra, revisando o preço-alvo esperado ao final de 2011, que era de R$ 20, para R$ 26. A Gerdau, que segue como preferência do banco no setor, teve o target elevado de R$ 27 para R$ 30.

Discordando da avaliação do BTG, o analista da PAX não vê com bons olhos a estrutura de capital da Usiminas. “É uma empresa que não arrisca muito. Poderia se alavancar um pouco mais”, diz Dias, que também não demonstra empolgação com sua exposição à indústria automobilística. “Eu não acredito que, com as recentes medidas adotadas pelo governo para restringir o crédito, o mercado não vai andar tanto para os setores automobilístico e imobiliário”, explica.

Do Infomoney