Incentivo à tecnologia pode recuperar autopeças

Comissão discute plano para recuperar setor; empresas sofrem com a concorrência de importados

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o MDIC (Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio) e o Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) formulam um plano nacional de recuperação tecnológica para o setor de autopeças. O objetivo é tornar as fornecedoras nacionais competitivas e evitar a defasagem das pequenas fabricantes em relação à necessidade das montadoras.

O conteúdo da proposta começou a ser desenvolvido pelos representantes do grupo tripartite após reunião em Brasília com o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, no começo do mês.

Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sergio Nobre, a concorrência dos produtos importados torna urgente a busca por uma solução para a manutenção das empresas no mercado nacional. “Entre outras medidas, a proposta deveria contemplar um plano de apoio técnico e financeiro, via BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para que as empresas, principalmente as pequenas, que são as mais prejudicadas pela atual política de importação, tenham capacidade de investimento.”

Além de se beneficiarem, desde 2000, do redutor de 40% sobre o imposto de importação de autopeças, as subsidiárias brasileiras de montadoras alegam que os fornecedores nacionais não produzem peças e componentes com a mesma qualidade dos importados.

Reduzir ou acabar com a alíquota, entretanto, seria uma solução paliativa, na opinião de representantes do setor. “As empresas se acomodam”, aponta o presidente da regional de Diadema do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), José Gason Fernandes. O dirigente sugere a redução da carga tributária como incentivo para tornar as empresas nacionais do setor mais competitivas. “Se a carga caísse de 50% para 30%, daria para começar a viabilizar a produção interna”, aponta.

Modernas
As autopeças do setor da borracha enfrentam o desafio de estarem diante de um mercado aquecido, mas pouco lucrativo. O presidente da Produflex, em Diadema, Edgar Solano Marreiros, afirma que as indústrias do setor têm condições de competir com empresas internacionais porque investiram em modernização. Marreiros destaca a compra de 11 máquinas e o plano de expansão de três anos do parque industrial.

Atualmente, a Produflex produz 420 toneladas por mês em artefatos de borracha e tem 640 trabalhadores. “As empresas operam em dois turnos e com 100% da capacidade. Poderiam abrir o terceiro turno, mas é inviável porque não é possível absorver o gasto, já que as montadoras não aceitam o repasse do custo”, comenta. De acordo com o empresário, que também é presidente do Sindibor (Sindicato da Indústria de Artefatos de Borracha), o aumento da alíquota de importação de matéria-prima, de 12% para 25%, afeta a lucratividade do setor.

‘Autopeças não acompanham crescimento do setor automotivo’
As empresas do APL (Arranjo Produtivo Local) Metalmecânico do ABCD, formado por 50 empresas, sentem os efeitos da política de importações de autopeças no País. O integrante do comitê gestor do grupo, Norberto Perrela, afirma que enquanto a produção e vendas do setor automotivo batem recordes de produção, o volume produzido pela cadeia produtiva não acompanha o crescimento do seu principal cliente. “Os segmentos integrantes da cadeia automobilística têm de enfrentar os seus concorrentes internacionais em condições inferiores”, ressalta.

Perrela, que também é diretor da Ferkoda, no polo industrial de Sertãozinho, em Mauá, fabricante de peças em alumínio e subfornecedora do segmento automotivo, afirma que a concorrência com o mercado externo é inviável. “Se continuar como está, a indústria nacional acabará em 10 anos”, acredita. A Ferkoda fornece 25% do que produz para a cadeia automotiva, o restante é direcionado ao setor de linha branca. O executivo aponta que as maiores prejudicadas são as fábricas de pequeno porte, já que as grandes fornecedoras têm fábricas em outros locais do mundo e importam das filiais.

Desde 2007, o setor de autopeças do País registra importações maiores que exportações. Neste ano, a previsão do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) é de déficit de US$ 4 bilhões na balança comercial. Para diminuir a substituição da produção local pelas importações, o governo federal retirará gradualmente o redutor de 40 % sobre a alíquota de importação.
No entanto, as montadoras alegam a necessidade de importar 75 itens e componentes que não têm similar no mercado nacional. As empresas do setor de autopeças consideram que apenas 13 não têm condições de serem produzidos no Brasil. Entre eles, estão itens como o air bag e componentes eletrônicos.

Do ABCD Maior