Com crescimento econômico campanha salarial deve superar 2009
Em entrevista ao ABCD Maior, o presidente do Sindicato, Sérgio Nobre, avalia recuperação no setor e diz que ABC tem potencial para Polo Tecnológico
Na próxima quarta (23/06), o Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD vai discutir e votar em assembleia as reivindicações que serão levadas à Fiesp, dentro da campanha salarial deste ano.
O presidente da entidade, Sérgio Nobre, avalia que o cenário econômico é positivo e propício a uma campanha salarial com excelentes resultados. “No ano passado, em plena crise econômica internacional, conseguimos aumento real acima da inflação. Neste ano a tendência é de conquistas superiores”, afirma. Nobre lembra que a luta será também pela efetivação dos trabalhadores contratados por tempo determinado. A seguir, os principais trechos da entrevista:
ABCD MAIOR – No ano passado, a crise financeira mundial influenciou os resultados da campanha salarial em todo o País. No entanto entre 2009 e 2010 o setor automotivo acumula recordes de produção e vendas. A situação econômica é garantia de bons reajustes salariais neste ano no Brasil? E no ABCD?
SÉRGIO NOBRE – O Brasil entrou e saiu da crise em melhores condições que a Europa e os Estados Unidos. A indústria automobilística retomou os níveis de crescimento pré-crise já no primeiro trimestre, com consequente retomada do nível de emprego. As exportações de caminhões, muito impactadas pela crise, também dão sinais de que vão se recuperar a níveis pré-crise. Todo esse cenário, com projeção de novos recordes de produção e vendas e um PIB (Produto Interno Bruto) acima do previsto, é positivo e propício para uma campanha salarial com excelentes resultados.
ABCD MAIOR – Quanto deverá ser o reajuste salarial que o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC planeja reivindicar na campanha salarial deste ano?
NOBRE – Este é um índice estratégico negociado entre FEM-CUT/SP (Federação dos Sindicatos Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores), sindicatos da categoria e bancadas patronais. Mas se na campanha do ano passado, em plena crise econômica internacional, conseguimos aumento real acima da inflação, neste ano a tendência é de conquistas superiores.
ABCD MAIOR – Na campanha de 2010, há propostas para estender a jornada de trabalho de 40 horas para todos os trabalhadores da base do sindicato? E quanto à licença maternidade de 180 dias?
NOBRE – A redução da jornada de trabalho é importante não apenas para o trabalhador, mas, principalmente, para o futuro econômico do Brasil. Além do impacto positivo na geração de postos de trabalho, a redução da jornada vai permitir que os trabalhadores brasileiros invistam em sua própria educação, não só no ensino formal, mas também em qualificação e capacitação profissional. Com uma jornada menor, o trabalhador terá mais tempo para se qualificar, condição essencial para o trabalho moderno, que todo dia incorpora novas tecnologias de produção. Hoje, a falta de formação profissional provoca um dos principais gargalos da economia do País. Em uma de suas entrevistas recentes, o presidente Barack Obama afirmou que o trabalhador que não cursar, no mínimo, uma universidade em um futuro próximo não terá condições de estar no mercado de trabalho.
Na nossa base, mais de 80% da categoria trabalham menos de 44 horas semanais, uma realidade bem melhor que a do restante do País. Nas montadoras, 100% dos trabalhadores trabalham 40 horas semanais há mais de uma década. Já a ampliação da licença maternidade para 180 dias estará na pauta da campanha porque representa mais saúde para mãe e filho. Até agora, seis empresas da base aderiram à ampliação. Seguiremos na luta pela adesão total na base.
ABCD MAIOR – Mesmo com desenvolvimento econômico do País e balanço positivo do setor automotivo há expectativa de greves durante a campanha salarial?
NOBRE – As negociações de campanha salarial nunca são fáceis. Quando estamos na crise, os empresários dizem que reajustar salário aprofunda a crise. Quando estamos em um bom momento, dizem que reajustar salários vai prejudicar o crescimento. Portanto, é preciso muita organização para conquistar um bom acordo. O nosso desejo é sempre de não precisar recorrer à greve, mas se ela for necessária estaremos prontos para fazê-la.
ABCD MAIOR – O sr. acredita que o crescimento apresentado pela indústria vai continuar no decorrer do ano e gerar novas contratações? A categoria, que hoje tem 100 mil metalúrgicos no ABCD, pode crescer?
NOBRE – A recuperação do nível de emprego na categoria começou ainda no segundo semestre de 2009, quando fechamos o ano com um saldo positivo de 1,9 mil postos de trabalho, e prossegue, tanto que já retomamos o patamar de 100 mil trabalhadores na base atingido em maio de 2008. As montadoras contrataram milhares de trabalhadores entre outubro do ano passado e o início deste ano, e seguem contratando. A nossa luta agora também é pela efetivação dos trabalhadores que foram contratados por tempo determinado. O consumo interno segue aquecido e com sinais de que se manterá assim, favorecendo produção e venda e, consequentemente, a criação de novos postos de trabalho.
ABCD MAIOR – Diante do atual quadro de retomada do crescimento econômico, o sr. considera perigoso o País crescer mais de 6% ao ano?
NOBRE – Não. Por mais que os últimos anos provem que o crescimento do PIB traz mais empregos, mais salários e gere mais consumo, existe uma parcela de economistas e administradores que têm medo desse crescimento. Esse pensamento conservador nos levaria à recessão típica dos anos 1990, de triste memória para os trabalhadores. A história já provou que crescimento cria as condições políticas e econômicas necessárias para um círculo virtuoso de mais crescimento.
ABCD MAIOR – O polo industrial do ABCD sempre teve o perfil de grandes plantas que se resumem a reproduzir produtos. O que é preciso para que a Região passe também a produzir tecnologia, desde as montadoras até a pequena e média indústria? Em que o sindicato pode contribuir para isso?
NOBRE – A Região tem potencial para receber e consolidar o Polo Tecnológico devido à sua forte vocação industrial e à capacidade de criar novas áreas para o desenvolvimento da economia, espaço que será estratégico para a sobrevivência da Região. O sindicato, por exemplo, está na luta para trazer a produção do caça sueco Gripen, que disputa com jatos franceses e dos EUA a licitação para renovação da frota da FAB (Força Aérea Brasileira). Os suecos se comprometem a transferir tecnologia e parte da produção para São Bernardo. Tecnologia que poderá ser aproveitada em diversas áreas – automotiva, naval e eletroeletrônica -, além de capacitar nossas universidades.
ABCD MAIOR – O aumento da importação de autopeças já foi apontada pelo setor empresarial e trabalhadores como um problema a ser resolvido. Por que, até agora, o Ministério do Desenvolvimento não retomou o nível normal da alíquota sobre autopeças importadas?
NOBRE – As montadoras não têm pátria, tanto faz de onde vêm as peças e, por isso, as indústrias automobilísticas pressionam o governo para facilitar cada vez mais as importações. O problema é que, a persistir o crescimento das importações de autopeças, pode haver desnacionalização da produção e desemprego no setor. Por isso, é urgente discutir um plano de nacionalização de peças, que inclua tecnologia, desenvolvimento, formação e qualificação de trabalhadores. Hoje, um veículo montado no Brasil tem entre 16% e 20% de peças importadas. Há 12 anos, esse índice era de 5%. Em 2009, o Brasil importou R$ 16,3 bilhões em peças, mas exportou R$ 11,8 bilhões.
ABCD MAIOR – O Sindicato apoiará candidatos nas eleições deste ano?
NOBRE – As cinco principais centrais sindicais do País, entre elas CUT, à qual o sindicato é filiado, já declaram apoio à candidata do PT (Partido dos Trabalhadores) à Presidência, Dilma Rousseff. O apoio leva em conta que é importante dar continuidade ao projeto democrático popular e às políticas sociais do governo Lula, que tiraram milhões de brasileiros da miséria e introduziram outros milhões na classe C. Os próximos anos vão depender das eleições de outubro de 2010, por isso apoiamos os candidatos que convergem para esse projeto.
Da redação com ABCD Maior