Metas da política industrial serão mantidas pelo governo federal
Perspectiva de retomada do crescimento contribui para a continuidade da Política de Desenvolvimento Produtivo
As quatro metas que sustentam a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), lançada pelo governo em 2008, serão mantidas apesar do forte baque sentido pela economia no início do ano. A decisão foi tomada com base nas perspectivas de retomada do crescimento, que podem resultar em aumento dos investimentos, melhora do desempenho do comércio exterior e ampliação dos gastos com pesquisa e desenvolvimento, objetivos centrais da segunda iniciativa de política industrial do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O governo ainda não sabe se conseguirá cumprir à risca as chamadas “macrometas”, mas os coordenadores da PDP relativizam a questão. “Quando temos uma meta para um programa, definimos o que fazer, com que dinheiro e em que prazo. Quando temos uma meta de política, temos um indicador, um referencial”, afirmou Reginaldo Arcuri, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (Abdi) e membro da secretaria-executiva da PDP. “O que interessa, fundamentalmente neste caso, não é apenas o resultado em si, mas poder acompanhar o que aconteceu, por que aconteceu”, salientou.
Para Arcuri, as perspectivas em relação ao desempenho da economia este ano e 2010 ainda estão contaminadas por um alto grau de imprevisibilidade, o que impede ser taxativo em relação ao cumprimento das metas e também sustenta a decisão de não alterá-las. “Não vamos mudar meta nenhuma porque elas são indicadores e é desejável ter isso. Em segundo lugar, o nível de volatilidade da economia mundial, e obviamente seus reflexos no Brasil, como até as pedras da rua sabem, é enorme.”
Investimentos Uma das metas definidas pelo governo no âmbito da PDP é elevar a proporção dos investimentos no País para algo equivalente a 21% do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano. Os investimentos foram os que mais sofreram com a crise financeira global, mas Arcuri pondera que os anúncios de novas inversões têm surgido com força.
“Temos de esperar isso entrar no fluxo normal de produção para sabermos efetivamente quanto será”, disse ele. “Alguém pode dizer que 21% hoje talvez não seja possível. Outro vai dizer que, se acelerarmos tanto, talvez seja. Para dizer o que aconteceu e o que não aconteceu, se foi bom ou mau, temos de esperar os dados”, acrescentou o presidente da Abdi.
O crescimento do número de micro e pequenas empresas no comércio exterior também é outra meta fixada que pode ser difícil de ser atingida. Estudo elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que entre 2005 e 2008, enquanto as exportações brasileiras cresceram 56%, os embarques feitos pelas micro e pequenas indústrias encolheram 6,5%, reduzindo a participação dessas empresas no valor total exportado para menos de 1%.
“Provavelmente, a queda ainda vai ser maior este ano porque o comércio mundial encolheu”, disse Renato da Fonseca, gerente executivo de pesquisa da CNI.
O número de exportadores dentro desse universo de micro e pequenas indústrias também sofreu um baque neste período. Enquanto em 2005 mais de 8 mil dessas empresas vendiam parte de sua produção no exterior, no ano passado esse número caiu para pouco mais de 6 mil. Na avaliação de Fonseca, boa parte dessa queda reflete a saída das empresas que estavam começando a trilhar o caminho do comércio exterior. “É uma perda importante para o País, porque dificilmente essas empresas voltam.”
Mesmo desconhecendo o estudo, Arcuri reconhece que esse é um segmento que precisa de “esforço concentrado” para deslanchar. “O trabalho é aumentar o esforço já feito para alcançar as metas.”
Do O Estado de S.Paulo