Inadimplência começa a cair

Sinais de melhora após trimestre ruim

Os bancos começam a relatar sinais claros de que os negócios melhoraram a partir de abril, após dois dos piores trimestres da história do sistema financeiro.

Levantamento da Austin Ratings mostra que o lucro líquido dos grandes bancos caiu 27% no primeiro trimestre em comparação com igual período de 2008; e o dos médios encolheu 30%.

Os resultados foram afetados pelo forte aumento das despesas com provisões, desencadeado pela piora da inadimplência. O saldo de provisões cresceu 60% nos grandes bancos e 127,8% nos médios. Mas a receita de crédito não acompanhou: aumentou 19,2% nos grandes e diminuiu 7,3% nos médios.

O cenário está mudando, dizem os bancos. “O crédito melhorou tanto no atacado quanto no varejo, em demanda e pontualidade dos pagamentos, a partir de abril, e ganhou impulso em maio. Estamos voltando ao patamar de julho e agosto de 2008”, afirmou Osias Brito, diretor vice-presidente do Banco Fibra, que divulgou ontem o balanço do primeiro trimestre. “O pior já ficou para trás”, disse Clive Botelho, o vice-presidente do Pine, no início da semana, também ao comentar os resultados.

Milto Bardini, o vice-presidente do BicBanco, constata igualmente uma melhora na inadimplência após abril. “As medidas tomadas pela autoridade monetária, a maior oferta de crédito reduziram a tensão no mercado. Espero a retomada do crescimento do crédito agora”, disse Bardini. Segundo o vice-presidente do ABC Brasil, Anis Chacur Neto, “a liquidez está excelente, nos níveis pré-crise”.

O BicBanco assim como o Fibra, o Pine e o ABC Brasil têm como principal negócio o crédito para empresas médias que se caracteriza por operações de curto prazo. Qualquer mudança de humor do mercado é rapidamente sentida pelo banco, para o bem e para o mal. No caso, agora, para o bem.

Os sinais de maior demanda por crédito também foram captados pela Serasa Experian. O indicador de demanda por crédito, que avalia pelo número de consultas a CPF e CNPJ, começou a dar sinais de melhora em março, confirmados em abril, tanto entre pessoas físicas quanto empresas.

O índice de demanda de crédito de consumidores subiu 10,8% em abril em comparação com março, quando havia crescido 5,8% sobre fevereiro. Com isso, a demanda por crédito se aproximada do patamar de novembro. Em relação ao mesmo mês de 2008, ainda há queda; e, no acumulado do primeiro quadrimestre, a procura dos consumidores por crédito é 6,3% inferior à de igual período de 2008.

Entre as empresas, o movimento é igual, segundo a Serasa Experian: a demanda por crédito, que havia crescido 5,8% em março sobre fevereiro, aumentou mais 5,2% em abril sobre março.

“A direção mudou. Estávamos descendo a ladeira. Agora começamos a subir”, disse o economista gerente de indicadores da Serasa Experian, Luiz Rabi. O especialista atribuiu a melhoria dos indicadores a um conjunto de medidas, incluindo a redução dos juros, a melhoria do cenário externo, que trouxe novo fluxo de recursos para o país, e à queda do risco.

Para ele, esses fatores indicam que a economia voltará a crescer no segundo trimestre, depois de dois trimestres seguidos de desempenho negativo. “A economia estava na UTI. Agora já consegue respirar sem ajuda de aparelhos.”

Esses sinais podem não aparecer ainda nos principais indicadores econômicos, mas isso deve acontecer nos próximos meses. “Não dá para esperar taxas muito positivas. Mas há indicações consistentes de recuperação. Não é um movimento zigue-zague”, disse Rabi, lembrando que a melhoria delineada em março confirmou-se em abril.

Os grandes bancos, ao divulgar os resultados do primeiro trimestre, foram mais cautelosos ao situar a expectativa de recuperação dos negócios no segundo semestre, mais especificamente no quarto trimestre. Milton Vargas, vice-presidente de relações com investidores do Bradesco , avalia que o crédito vai se normalizar somente a partir do quarto trimestre. Até lá, a inadimplência deve continuar subindo, depois de um longo período de estabilidade, disse. Vargas acredita que a taxa total do banco, considerando os atrasos superiores a 90 dias, bata em 4,9% em agosto ou setembro, para depois começar a recuar. Se confirmada, será a taxa mais alta desde o segundo trimestre de 2002, quando chegou a 5,4%.

Em seminário realizado pela “Reuters”, na semana passada, o presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, disse que a demanda por crédito já estava se recuperando no segundo trimestre, por questões sazonais e pela percepção de melhora da economia.

Segundo ele, o ano não será “fantástico” para os resultados do banco, apesar dos sinais de que o Brasil já está saindo da crise global. A crise de crédito provocou o aumento da inadimplência na carteira do banco para 5,6% no primeiro trimestre e a estimativa é de que chegue a 6,9% até o terceiro trimestre – nível descrito por ele como “administrável”.

A projeção do Bradesco é que o crédito no Brasil cresça 12% este ano. A estimativa inicial era de uma expansão de 13% a 17%. O número, porém, vai ser revisto, após a análise do segundo trimestre.

Do Valor Econômico