Em março, construção e automóveis puxam vendas do varejo

Especialistas projetam para o ano crescimento de 3% a 3,8% no volume de vendas do comércio - incremento inferior aos 9,1% registrados em 2008 e aos 7,2% apurados no acumulado de 12 meses até março

O aumento de setores favorecidos pela desoneração tributária, o crescimento baixo da renda disponível e o início de recuperação do crédito para pessoas físicas devem permitir ao comércio varejista vivenciar um processo de desaceleração lenta no ritmo de vendas, diferentemente do que ocorreu na indústria. Especialistas projetam para o ano crescimento de 3% a 3,8% no volume de vendas do comércio – incremento inferior aos 9,1% registrados em 2008 e aos 7,2% apurados no acumulado de 12 meses até março, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em março, as vendas no comércio varejista cresceram 0,3%, em relação a fevereiro, feito o ajuste sazonal. A variação foi menor que as apuradas em janeiro (1,9%) e fevereiro (1,5%). Conforme relatório do IBGE, a ocorrência da Páscoa em abril este ano comprometeu o desempenho do grupo hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que representa 51% do indicador. Em março, o grupo teve variação zero; em janeiro e fevereiro, cresceu 0,7% e 2,4%, respectivamente. Quando os dados de venda de automóveis são agregados á série do IBGE, o crescimento sobre fevereiro, em volume, sobe para 2%.

No trimestre, o comércio (sem automóveis) cresceu 3,8% em comparação com o mesmo período de 2008, e de 2,2% sobre o quarto trimestre, com ajuste sazonal. Na comparação por trimestre móvel, houve crescimento de 1,2% no acumulado de janeiro a março contra o intervalo de dezembro a fevereiro. A variação foi maior que as verificadas no trimestre até fevereiro (0,92%) e até janeiro (0,12%), de acordo com cálculo da LCA Consultores. A comparação do desempenho acumulado em 12 meses também apresentou desaceleração, saindo de 9,13% no ano passado para 7,11% nos 12 meses até março.

“Nos primeiros meses do ano houve recuperação das perdas do quarto trimestre, que foram fortes. A tendência é de desaceleração lenta ao longo do ano”, avaliou Douglas Uemura, economista da LCA. Para abril, a consultoria estima que o comércio tenha crescido 6,5% sobre igual mês do ano passado e 0,8% em relação a março, por conta do efeito calendário. Para o ano, a LCA projeta expansão de 3,6%.

Thaís Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados, também espera expansão do varejo em abril apesar do menor número de dias úteis, devido à influência da Páscoa sobre as vendas de hiper e supermercados. Outro fator que deve estimular o varejo em abril é a redução do IPI para eletrodomésticos da linha branca e materiais de construção. Em março, o grupo móveis e eletrodomésticos teve queda de 2,2%, a segunda consecutiva. “A redução do IPI impulsionou as vendas de automóveis em março e vai impulsionar construção e linha branca a partir de abril, juntamente com a melhora na oferta de crédito”, observou Luiz Góes, sócio sênior e diretor da GS&MD-Gouvêa de Souza. De acordo com dados do Banco Central, em março, as concessões de crédito para pessoa física cresceram 21,5% sobre fevereiro; no trimestre, o aumento foi de 9,5%.

Uemura, da LCA, também observou que a melhora na concessão de crédito e nos indicadores de confiança dos consumidores acabaram levando redes varejistas a apostar novamente nas vendas a prazo, elevando o mix de itens e o número de prestações, como já informaram recentemente ao Valor a B2W (resultante da fusão do Submarino com a Americanas.com) e a Renner.

“Houve uma melhora na oferta de crédito para pessoa física, mas ainda muito atrelado à aquisição de veículos e ao setor de construção”, afirmou Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. Em março, o grupo material de construção registrou aumento de 3% nas vendas, mas havia expectativa de melhora após a aprovação da desoneração fiscal e da criação do programa Minha Casa, Minha Vida. O grupo veículos e motos, partes e peças cresceu 3,9%; conforme os economistas, a expectativa de que o governo não renovaria a redução do IPI a partir de abril provocou um aumento das encomendas. A alta dos dois grupos proporcionou um crescimento de 2% ao comércio varejista ampliado.

Os demais segmentos acompanharam a evolução da massa real de rendimentos e cresceram acima da média do varejo. Além da renda, influenciou no desempenho de vestuário e calçados (1,9%) o lançamento da coleção outono-inverno. O grupo de produtos farmacêuticos (1,4%) teve influência da absorção do reajuste do salário mínimo.

Do Valor Econômico