Bancos começam a retomar o crédito

A volta da liquidez para os bancos médios também favorece a retomada dos empréstimos

Os bancos começam, ainda de forma gradual, a retomar a oferta de crédito. As instituições, que estavam mais restritivas desde outubro, começam seletivamente a disponibilizar linhas a setores e empresas que sofrem menos com a crise. A volta da liquidez para os bancos médios também favorece uma retomada dos empréstimos.

A visão dos bancos é que o pior da crise pode ter ficado para trás e a partir do segundo semestre a economia deverá voltar a apresentar crescimento. Além disso, à medida que não surgem fatos novos, as condições para se avaliar os riscos se tornam menos nebulosas.

Assim, há uma maior segurança na precificação do risco e por consequência, na concessão do crédito. Alguns bancos começaram até mesmo a recontratar pessoal das equipes que foram desmontadas com a crise e a retomar o contato com as empresas para ofertar linhas de crédito.

“Ainda é cedo para falar em mudança no risco, mas temos a impressão de que o mais forte já foi. Deixamos de ter sobressaltos. Antes, toda semana havia notícias negativas de bancos estrangeiros com situação de prejuízos enormes. Isso não tem aparecido mais. O humor do mundo deu uma melhorada”, afirma Silvio de Carvalho, diretor Itaú Unibanco.

Mas essa retomada ainda é lenta e corresponde ainda a seletividade dos banco e a uma menor demanda por recursos tanto por parte das empresas quanto das pessoas físicas. Por isso, o crédito deve crescer menos da metade do que se expandiu em 2008. “O credito não vai crescer neste ano como cresceu em 2008. Apenas no fim do ano veremos um crescimento, na margem, próximo ao que tínhamos antes da crise”, afirmou Norberto Barbedo, vice-presidente do Bradesco.

Os bancos também começam a encontrar formas de conceder crédito com menor exposição ao risco. O Bradesco criou uma linha de financiamento para o fomento das cadeias produtivas com base nos contratos entre o banco e empresas de primeira linha. Em apenas dois meses o volume atingiu R$ 300 milhões. “Essa foi uma forma encontrada de viabilizar crédito para pequenas e médias empresas dentro do ciclo de cadeia produtiva”.

Outro ponto favorável é o fim do período de balanços. Com mais informações à disposição, as instituições financeiras começam a ter uma melhor visão da economia e da real situação das empresas. Um ponto de interrogação era em que medida a crise afetou as empresas e se elas teriam derivativos exóticos, ponderou Barbedo. “Hoje o mercado já conhece quem operou e já sabe o impacto da crise em termos setoriais ou de empresas. Quando tem visibilidade melhora a confiança”.

Maércio Soncini, vice presidente do Banco Fibra afirma que a demanda saudável de crédito está dando alguns sinais de recuperação, mas ainda continua num patamar pequeno. “A demanda por capital de giro se acomodou num patamar menor. Hoje a oferta de crédito atende essa demanda”.

Seguindo esses primeiros sinais de melhora, o Fibra já está expandindo a equipe para ampliar as operações. “Estamos tentando nos antecipar e sair um pouco na frente”, disse.

Apesar da melhora, a percepção com relação ao crédito é pior do que a realidade por três fatores, afirma Soncini. Em primeiro lugar, a queda no faturamento das empresas faz com que os bancos reduzam os limites disponíveis. Além disso, a análise de risco hoje é mais rigorosa por conta do cenário adverso. Por fim, com o aumento da concentração bancária, há menos bancos ofertando crédito.

Para as empresas, as medidas anunciadas até agora pelo governo foram boas, mas o crédito ainda não está com uma dinâmica razoável. Segundo Milton Bogus, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), as pequenas e médias estão recorrendo às empresas de factoring, pagando juros mais altos. “As empresas reclamam da dificuldade das renovações das linhas. Se o crédito não fluir, teremos um problema maior de inadimplência e até de informalidade”, disse.

Segundo Bogus um dos pontos fundamentais é o fundo de aval para garantir os empréstimos. Outra saída seria estender a garantia dada pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) aos depósitos a prazo dos bancos também para os tomadores de crédito.

Do Valor Econômico