ONU sugere ao Brasil cortar juros e gastar mais

Organização agora prevê que a economia global vai na direção de crescimento zero em 2009, seu cenário mais pessimista, considerando o mergulho dos países industrializados na recessão e o maior impacto da crise sobre os emergentes

O Brasil deveria cortar os juros com urgência e fazer mais gastos públicos para frear a deterioração da atividade econômica, alertou ontem a Organização das Nações Unidas (ONU). O cenário de referencia da ONU para o Brasil previa expansão econômica de 2,9% este ano. Mas agora aposta em queda maior, com a economia crescendo apenas 0,5%, que é seu cenário pessimista. “O Brasil está entrando em recessão, nosso cenário mais pessimista para o país é hoje bem possível”, afirmou Heiner Flassbeck, principal economista da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad).
“O Brasil é um dos países com espaço para cortar juros e para mais gastos públicos”, acrescentou o economista ao apresentar o relatório da ONU sobre a situação e perspectivas da economia mundial para este ano. “Programas de estímulo devem ser adotados de vez, ao invés de em conta-gotas. Endividamento público é a única saída no momento”, disse.
A ONU agora prevê que a economia global vai na direção de crescimento zero em 2009, seu cenário mais pessimista, considerando o mergulho dos países industrializados na recessão e o maior impacto da crise sobre os emergentes.
Para a América Latina, espera “desaceleração significativa”, com maior impacto no México e nos países da América Central, mais dependentes dos Estados Unidos. Por sua vez, a América do Sul é mais sensível ao menor dinamismo econômico na Europa, China e outros mercados asiáticos. A ONU avalia que a região está mais bem equipada para enfrentar a crise, nota que a demanda interna liderou o crescimento em 2008, mas que os choques externos são piores que previstos.
O desemprego pode chegar a 9% na América Latina, revertendo a tendência positiva de alta do emprego formal dos últimos cinco anos. A região deverá também registrar déficit maior nas contas correntes em 2009, após anos de superávit. A inflação deve cair na maioria dos países. Mas a maior depreciação de moedas nacionais no curto prazo, manterá pressões inflacionárias, apesar da reduzida influência dos preços das commodities globais, segundo a ONU.
A entidade prevê deterioração da situação fiscal da região, na medida em que exportadores de petróleo e outras commodities enfrentam forte queda nos preços e na demanda. Mais riscos sobre a economia latino-americana vêm do exterior, reitera a ONU. O risco por investidores estrangeiros poderá reverter o fluxo de capital, causar mais volatibilidade nas taxas de câmbio, maior pressão para as moedas nacionais se desvalorizarem e endurecer severamente o acesso ao crédito doméstico.
Nesse cenário, a ONU constata que a sustentabilidade fiscal continua a ser um desafio para vários países da região. E sugere que para estimular a economia e atenuar os efeitos sociais de choques externos, eles precisarão adotar pacotes em conexão com políticas internacionais e assim manter o peso desses pacotes em “proporções administráveis”.

 

Do Valor Econômico