Makita: Resistência continua na fábrica
Trabalhadores, que continuam acampados no estacionamento da empresa - que anunciou fechamento da unidade na semana passada. Eles recebem solidariedade de companheiros de toda a categoria
A forte chuva dos últimos dias não quebra o ânimo do pessoal na Makita, de São Bernardo, que permanece acampado diante da fábrica desde sexta-feira passada. Naquele dia, a multinacional japonesa anunciou, de forma traiçoeira, o fechamento da unidade e a demissão de todos os 285 trabalhadores.
Nos últimos dias chegam demonstrações de solidariedade de toda a categoria, o que ajuda manter o pique o pessoal, apesar da situação. Na manhã desta quarta-feira (9), um grupo de companheiros na Mercedes participou de ato conjunto. Já estiveram por lá companheiros na Otis, Karmann Ghia, Magneti Mareli, Ford e Scania. “Nossa solidariedade veio também para denunciar absurdos como esses que as multinacionais promovem no País contra os trabalhadores”, protestou Aroaldo de Oliveira, o Padre Marcelo, do Comitê Sindical na Mercedes-Benz.
Ambiente
Existe no local um forte clima de revolta contra a atitude da empresa, que até o último momento negava qualquer intenção de fechar a unidade. Há, também, muita raiva por sua tentativa de enganar os trabalhadores.
Isso ocorreu na manhã de sexta-feira, quando ela reuniu os companheiros no refeitório e tentou fazer com que todos assinassem seus pedidos de demissão e abrissem mão de processos, afirmando que o Sindicato tinha conhecimento de tudo. “Foi um gesto indigno e sorrateio”, protestou Claudio Miranda, do Comitê Sindical.
Perder o emprego é muito difícil, mais difícil ainda é para quem tem algum tipo de doença profissional ou de restrição médica. Isso é muito comum entre os companheiros e companheiras na Makita.
Rosi Machado, diretora do nosso Sindicato e trabalhadora na empresa, disse que depois da reestruturação produtiva, há 10 anos, o ritmo de trabalho aumentou severamente.
Segundo ela, antes, as linhas de produção eram contínuas e cada um tinha função definida. Os problemas de saúde existiam, mas não eram tão agudos.
“Quando foram introduzidas as células de produção e os procedimentos das certificações ISO, o pessoal passou a exercer várias operações e muito mais movimentos repetitivos e de grande esforço físico”, descreve Rosi sobre o elevado número de trabalhadores acometidos das LER/Dort.
A operadora de máquinas Lindomar dos Santos Silva já sofreu cirurgia de coluna cervical tem exames prontos para uma cirurgia de coluna lombar, além de sofrer de bursite nos dois ombros e estar com a audição comprometida em um dos ouvidos. Todas doenças reconhecidas. “Não esperava que fizessem isso com a gente. É muita crueldade”, disse.
A situação de Sandra Aparecida da Silva é a mesma. Padece de bursite nos dois ombros e também já teve a coluna operada. “Era por causa do peso que eu puxava e dos seis mil discos de serra que pintava por dia”, recorda. “Faço fisioterapia e não sei como fica a minha vida se perder o plano de saúde”.
Manoel Rodrigues de Souza sofre os mesmos problemas, com bursite diagnosticada nos dois ombros e síndrome do carpo no punho direito. “Perdi a força na mão. Nem um copo consigo segurar”, disse, mostrando o punho. “A demissão foi um impacto muito grande, daqueles que a gente levanta e não sabe o que aconteceu”.
Outra vítima das condições de trabalho é Fernando Freire de Araujo. “Fiquei abalado. Foi uma covardia. Trabalho aqui há tanto tempo e a Makita faz uma coisa dessas”. Ele é outro com tendinite no ombro e síndrome do carpo no punho direito.
Apoios também vem dos parlamentos
O deputado Vicentinho anunciou seu apoio à resistência, pois ele também foi traído pela empresa ao atender inúmeros pedidos para intervir na concorrência que ela dizia sofrer com os produtos chineses. “Como membro da frente parlamentar Brasil/Japão vou denunciar a fábrica à embaixada japonesa”, garantiu.
Os vereadores petistas de São Bernardo Tião Mateus, Zé Ferreira e Paulo Dias, ex-diretor do nosso Sindicato e trabalhador licenciado na Makita, também estiveram com os trabalhadores. Eles tentam também alguma intervenção com a diretoria da fábrica, que desapareceu desde sexta-feira. A vereadora de Diadema, Irene dos Santos (PT) e o secretário de Educação da cidade, Zé Antonio, foram outros que levaram apoio.
Da Redação