25 anos da greve geral de 1983 – O trabalhador quer sua parte e exige mudanças

A greve geral do dia 21
de julho de 1983 envolveu
cerca de 3 milhões de trabalhadores
e representou um
dos maiores desafios operários
contra a política de
arrocho econômico promovida
pela ditadura militar.

Desde 1981, os trabalhadores
sofriam com uma
forte recessão, demissões
em massa e inflação.

Mas, diferentemente da
crise do petróleo na década
de 70, o País tinha dificuldade
para conseguir dinheiro
internacional, pois já era o
maior devedor mundial.

Os investimentos caem
e só nos dois primeiros
meses do ano mais de 50
mil trabalhadores são demitidos.

Nas ruas, os desempregados
saqueiam supermercados
e, nas empresas,
os trabalhadores protestam
contra as demissões e o arrocho.

O governo enviou decreto
ao Congresso determinando
que os salários só
poderiam ser reajustados
em 80% da inflação.

Aqui no ABC, os metalúrgicos
passam por cima
da lei e fazem acordos garantindo
reajuste de 100%
da inflação para quem ganha
até 10 salários mínimos.

Todos à luta – Em julho, os petroleiros
fazem greve nacional
contra as demissões e o
governo militar intervém
no Sindicato de Campinas
e Paulínia.

Em solidariedade aos
patroleiros, 60 mil metalúrgicos
do ABC param na primeira
greve essencialmente
política durante a ditadura
militar, sem razões trabalhistas
ou econômicas.

É nesse contexto que
uma comissão nacional de
sindicalistas que discutia a
criação da CUT convoca a
greve geral.

Apesar de o governo
colocar as forças policiais
e militares nas ruas, a greve
foi forte em São Paulo e Rio
Grande do Sul, com adesão
de trabalhadores de várias
categorias em setores da indústria,
bancos, transporte e
comércio.

Aqui na região param
cerca de 83 mil metalúrgicos,
6 mil químicos, 4 mil
motoristas, além de trabalhadores
de outras categorias.

A data ficou marcada
como sendo o dia em que os
trabalhadores promoveram
o maior desafio à ditadura
militar.

No dia 28 de agosto daquele
ano trabalhadores de
todo o País fazem congresso
nacional em São Bernardo
e criam a CUT – Central
Única dos Trabalhadores.

“Os trabalhadores já não tinham medo de fazer greve”

O companheiro Cícero José dos Santos, hoje com 62 anos,
trabalhou entre 1970 e 1996 na Ford e ele lembra muito bem
como foi essa greve geral.

Qual era sua função na empresa?
Eu colocava grampos
de plástico nas portas dos
carros, no setor de
tapeçaria da Ford.
Era suplente da
Comissão de Fábrica.
Os trabalhadores
já paravam a
produção sem dificuldades,
apenas
com o trabalho
de mobilização. Já tinha
a Comissão de Fábrica,
o trabalho era um pouco
mais fácil.

Como era esse trabalho?
A gente andava pela
seção, distribuía a Tribuna
e outros panfletos
e fazia o trabalho
de convencimento
até no banheiro.
Era um governo
duro, o País tinha
muitos problemas,
era muito arrocho
salarial e havia necessidade
de mudanças.
O bolo econômico havia
crescido nos anos anteriores
e os trabalhadores não
tiveram nenhuma participação.
Depois veio o arrocho
e o governo militar
apresentou para a gente a
conta a ser paga.

Como foi no dia da greve?
Lembro que tudo parou,
inclusive as empresas
de ônibus. Na Ford,
não houve produção. O
pessoal parou na entrada,
houve assembléia e depois
saímos em caminhada. No
final do dia voltei a pé à
Cohab 2, lá em Itaquera.