Três diretores da gestão de 1975 lembram como era a atuação sindical na época

“Braços cruzados, máquinas paradas”

É uma justa homenagem ao Lula, pelo seu valor e sua liderança, e a todos os diretores que tomaram posse com ele em 19 de abril de 1975.

Eu trabalhava na Mercedes, onde era cipeiro, e me sindicalizei em 1974 para frequentar o curso de madureza.

Conheci o Lula, que era o responsável pela escola do Sindicato, e ele me convidou para ser diretor na hora de formar a chapa.

Na fábrica, o ambiente era de repressão total. O diretor da Mercedes responsável pela relação com os trabalhadores era um general, o chefe de segurança era um major, e o pessoal da segurança patrimonial ficava vigiando os ativistas e os trabalhadores com posições políticas.

Mesmo assim, os dirigentes não se acovardavam e encontravam mecanismos para a atividade sindical.

Trabalhava no controle de qualidade e logo que foi eleito diretor passei a trabalhar somente na organização dos companheiros. Meu chefe, avisado, concordou.

Acredito que fui um dos primeiros a conquistar liberdade de locomoção.

Com isso, transformei a entrada do restaurante da Mercedes numa espécie de subsede do Sindicato, onde fazia reuniões e assembléias e também filiava bastante.

Na primeira vez que conversei com Lula ele me disse que o Sindicato que ele queria era de contestação ao sistema político e ao capital.

Ele não queria que a gente ficasse no Sindicato esperando o trabalhador. Então, a gente passou a ir diariamente para a porta de fábrica. Era um trabalho difícil, de perseverança.

Lembro que na posse de 1978, Lula fez um discurso que para mim foi um divisor de águas. Ele disse que a única forma dos trabalhadores conseguirem condições salariais e de trabalho era cruzando os braços, com as máquinas paradas. O discurso foi resultado de três anos de ida às fábricas.

Djalma Bom, 66 anos

 

“Lula privilegiou a porta de fábrica”

A diretoria de 1975 teve sua importância e mostra que o Lula não dirigiu sozinho o Sindicato.

Eu me sindicalizei em 67 e durante doze anos fui diretor. Nos dois mandatos de Lula fui vice-presidente.

Acho a homenagem muito boa para que as pessoas não esqueçam essa parte da história. Fomos presos e muitos sindicalistas chegaram a sumir do País.

É bom reunir essa diretoria para mostrar que o pessoal está vivo e que a coisa não acabou.

Lula colocou um administrador para tocar o Sindicato e privilegiou o trabalho na porta da fábrica. Ele nem gostava de ficar segurando papéis. Ficava batendo o papel na mesa, impaciente.

Lula era uma pessoa inteligente, simpática e com pouco tempo de conversa ele convencia os trabalhadores.

É difícil explicar esse carisma. Era um dos poucos que fazia as pessoas ficarem em silêncio quando falava.

Trabalhei como retificador na Mercedes e a repressão era total. Se a gente conversava com um companheiro, o chefe reclamava que não havia produção, e se a gente fosse para outra seção, o chefe de lá dizia que a gente atrapalhava.

Nessa época a gente já contava com carros com auto-falante para o trabalho na porta de fábrica.

Éramos poucos para esse trabalho, apenas 24 diretores, mas mesmo assim o trabalho de conscientização evoluiu e, em 1978, a partir da greve na Scania, o estouro da boiada aconteceu.

Rubens Teodoro de Arruda, Rubão, 66 anos

 

“Uma homenagem a anos de luta”

Eu trabalhava na Ford e fiquei sócio do Sindicato em 1964. No primeiro mandato do Lula eu ocupava o Conselho Fiscal.

Naquela época, independentemente do cargo na diretoria, todos arregaçavam as mangas e trabalhavam na organização dos trabalhadores.

Com Lula presidente, o Sindicato aumentou o trabalho nas fábricas e a situação começou a melhorar, com maior conscientização dos trabalhadores.

Mesmo com toda a repr