A Brastemp e o ABC
A notícia da transferência da Brastemp de São Bernardo para Joinville, por mais dolorosa que seja para a região, não abala nossa certeza de que 2001 será o primeiro ano da recuperação econômica do ABC. A decisão da Multibrás, anunciada esta semana, é fato isolado, e não compromete o dinamismo que a região vem demonstrando e que você também, leitor e leitora deste jornal, deve estar sentindo.
Basta lembrar um pouco o noticiário econômico deste primeiro mês do ano. São todas notícias positivas para a região. O faturamento médio das micro e pequenas empresas do Grande ABC apresentou aumento significativo nos últimos tempos (22,7% entre novembro de 1999 e novembro de 2000). No balanço do ano 2000 foram criados 40 mil postos de trabalho, o que significou uma redução de 12,6% no desemprego na região. Só no ano passado, surgiram cerca de 3 mil novas empresas comerciais e industriais no ABC.
Também aparecem nas páginas econômicas manifestações de satisfação com a região por parte de setores industriais como o gráfico, que dão conta de faturamento em 2000 entre 10% e 30% superiores a 1999. Os fabricantes de máquinas e equipamentos do Grande ABC também dão notícias de seu otimismo em relação aos negócios para este ano. Esperam crescimento global do setor acima de 10% no faturamento para este ano. No setor petroquímico, segmento estratégico para a região, o desempenho não foi diferente. A Petroquímica União (Mauá), faturou em 2000 R$ 1,7 bilhão, representando crescimento de 65% frente ao resultado de R$ 1,045 bilhão, em 1999.
O noticiário sobre os investimentos também é bastante positivo. A Eletropaulo anunciou a antecipação de investimentos de R$ 2 milhões para instalação e reforma da Linha de Distribuição Aérea (LDA) de 13 mil volts da estação de distribuição de energia de Capuava, voltada ao atendimento das indústrias dos pólos de Capuava e de Sertãozinho, em Mauá. A fábrica da Ford de São Bernardo também passou a produzir caminhões e picapes. São mais 700 empregos, elevando para 5,6 mil o número de empregados da Ford em São Bernardo.
A mídia também registra, ainda em janeiro, a confirmação por parte da Volkswagen de investimentos de R$ 1,6 bilhão na reestruturação de sua fábrica na via Anchieta. A DaimlerChrysler – que está encerrando atividades no Paraná – vai investir R$ 600 milhões nos próximos anos na Mercedes-Benz de São Bernardo. No pólo petroquímico os investimentos previstos também são elevados. O noticiário registrado neste mês de janeiro fala em pelo menos US$ 1,5 bilhão. Apenas a Petroquímica União estima investimentos diretos e indiretos no pólo em torno de US$ 2 bilhões. Na mesma direção vem as notícias da instalação de uma agência do Banco Rural em Santo André, da inauguração de uma unidade da Transportadora GM Sul em Mauá, com a abertura de 140 postos de trabalho.
Nada mais natural que, num momento em que a economia nacional dá sinais de retomada de seu dinamismo, o ABC, pela natureza industrial de sua economia, acabe aparecendo como vanguarda da retomada da atividade econômica. O quadro estrutural positivo comprova que a decisão da Multibrás é um fato isolado e injustificável da conjuntura regional e atende apenas a um projeto de reestruturação do grupo internacional, a Whirlpool Corporation, controladora da Multibrás.
Uma semana atrás, a Whirlpool anunciava ganho líquido global de US$ 376 milhões, destacando, conforme registrou o Diário do Grande ABC, que a América do Sul foi o local com melhor desempenho. David Whitwan, chairman do grupo, disse ao Diário que os resultados da planta de São Bernardo foram considerados “muito bons”. A decisão de transferir a unidade de São Bernardo para Joinville é, portanto, um exemplo da selvageria de matrizes de multinacionais e do desrespeito a qualquer tipo de política de globalização solidária reclamadas com veemência nos últimos dias pelos participantes do Fórum Social Mundial, realizado em Port