Ford, Otis e o seu voto…

A disputa pelas prefeituras e pelos legislativos municipais já começou. A partir de agora, nós (e)leitores e (e)leitoras vamos ter oportunidade de ouvir muitos discursos políticos sérios mas, também, muito blá-blá-blá e muita mentira. Por isto, para sobreviver a este burburinho eleitoral, você vai precisar despir-se de preconceitos e cuidar para não perder sua capacidade de ouvir e separar idéias e candidatos que merecem sua atenção daqueles que você deve rejeitar.

A dura luta pela sobrevivência alimenta na cidadania um certo sentimento de rejeição à política e aos políticos de uma forma geral. As campanhas eleitorais sucedem-se e nós continuamos com problemas cada dia mais graves. Esta realidade, no entanto, só reforça a importância de prestarmos mais atenção aos discursos que vamos ouvir nos próximos três meses. Temos de refletir sobre eles e confrontá-los com as experiências concretas e reais da vida da nossa comunidade. Só assim, teremos condições de medir com rigor como pensam e agem os que hoje pedem nosso voto para representar-nos nas câmaras e prefeituras.

Esta semana, por exemplo, nós metalúrgicos e metalúrgicas da região vivemos dois momentos, dos mais dramáticos. Episódios que não aparecem pintados de sangue nas capas dos jornais ou nas manchetes de rádio e tv. Mas tão graves quanto crimes hediondos, até porque vitimam ou ameaçam centenas e milhares de pessoas. Um deles, por enquanto, com final feliz. O outro, ainda por chegar ao seu desfecho final.

O final feliz diz respeito à permanência da Elevadores Otis em São Bernardo. É a garantia de sobrevivência para seus 473 trabalhadores e trabalhadoras e para milhares de outras famílias indiretamente alcançados pela atividade econômica da empresa na região. Outro episódio desta semana que julgo igualmente importante neste momento de reflexão para você (e)leitor e (e)leitora é a situação dos cerca de 700 trabalhadores da Ford-Taboão, ameaçados de demissão.

Você certamente lembra o começo desta história. As 2.800 demissões do Natal de 1998, a luta da CUT em defesa destes empregos e, depois, sua reversão em afastamento com direito a salário e voluntariado. Na semana passada reunimos os afastados para discutir a proposta da fábrica que quer trocar a demissão de 573 deles por um pacote de incentivos e readmissão de apenas 100. O rosto de cada companheiro e companheira afastado era um retrato do desespero diante da falta de perspectiva no mercado de trabalho.

Você, leitor, acompanhou o resultado desta reunião. Os afastados não aceitaram a proposta da empresa. Mas, também, não conseguem vislumbrar uma saída melhor e preferem tentar caminhar para que se mantenha o afastamento da forma como está hoje, com salários reduzidos pela metade. Foram 18 meses de resistência dos trabalhadores e trabalhadoras da Ford e de seu Sindicato, com muitas vitórias, inclusive a volta de 800 para dentro da fábrica. Agora, a questão é saber se ainda será possível continuar mantendo estes empregos.

Nossa região precisa aproveitar estas experiências dramáticas para pensar nas responsabilidades e no papel jogado por cada um dos partidos e candidatos que hoje pedem nosso voto. Durante muito tempo você leu e ouviu muitas mentiras, como aquela que culpava a ação sindical em defesa dos salários, para explicar o problema da desindustrialização do ABC. O caso da Otis mostra, na verdade, um sindicato da CUT à frente da luta por sua permanência em São Bernardo. Os verdadeiros responsáveis pela desindustrialização, no entanto, são partidos e políticos que se omitem diante de uma guerra fiscal fratricida e patrocinada por políticas econômicas descompromissadas com o País. A crise é consequência do modelo de dependência neoliberal e globalização subordinada inventado pelo ex-presidente Collor e implementado pelo atual presidente com apoio de um leque de partidos muito bem representados na nossa região e que dão sustentação às políticas rece