Cooptação e repressão

Poucos ainda se lembram, mas os filmes e as fotos das décadas de 60 e 70, ou melhor, os relatos de companheiros, alguns ainda nas fábricas, a maioria já aposentados, podem ajudar a entender o que era a repressão daqueles anos.

Repressão política e policial nas ruas, que transpunha os portões das fábricas, espancava, prendia, intimidava e amordaçava o grito de repúdio e os sonhos dos trabalhadores.

Restruturação

O declínio da produção em massa e o florescimento do sistema Toyota de produção apontaram a necessidade de as empresas baixarem a guarda, ganhar a confiança dos trabalhadores, fazê-los falar e, assim, apoderar-se dos conhecimentos que eles tinham do trabalho e da produção.

Os CCQ, os KAIZEN, os PMC e até mesmos os trabalhos em grupos, embora com baixíssima autonomia, foram parte importante dessa estratégia.

A receita ficou completa com tecnologia produtiva e organizativa, chefes menos autoritários, mais líderes e facilitadores e trabalhadores envolvidos e comprometidos com o sucesso da empresa.

Tá dominado!

Menos postos de trabalho e farta disponibilidade de mão de obra, principalmente nos países pobres o processo de globalização, a ideologia hegemônica do capital e os sonhos de consumo garantem a submissão dos trabalhadores. Com isso, a repressão está de volta, disfarçada, muito mais perversa e eficaz.

Vigilância por câmeras em tempo real, dispositivos de controle de redes de informática, pontos eletrônicos em portarias, restaurantes e até em instalações sanitárias dentro das fábricas, aliam-se a um poderoso sistema de controle social fora do trabalho. Tudo justificado pela necessidade de “coibir a violência”

Quatro suicídios consecutivos dentro da matriz da Renault, na França, um deles muito parecido com um caso ocorrido há poucos meses em uma montadora no ABC, podem parecer fatos isolados. Não são!

A vida requer mais liberdade, mais sonhos, mais afetividade e mais confiança. Precisamos trocar a repressão pela persuasão.

Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente