Organização sindical ajuda minimizar crise econômica, diz Frank Pata
Frank Pata, presidente do Comitê Mundial de Trabalhadores na Volks. Foto: Paulo de Souza/SMABC
O Comitê Mundial dos Trabalhadores da Volkswagen é considerado um modelo de organização que contribui para driblar as crises, como no caso da Europa, de acordo com o presidente da instituição, Frank Pata.O sindicalista disse que a criação do comitê na Volkswagen em 1998 teve o objetivo de estreitar as discussões da empresa com os trabalhadores e o reflexo foi assegurar o emprego, os locais de produção e suas estruturas. No Brasil, Frank Pata diz que o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC já é uma entidade que contribui com as discussões mundiais. O Comitê é uma espécie de comissão de fábrica mundial.
ABCD MAIOR: Qual a importância da formação de comitê mundial para os trabalhadores na montadora?
A Frank Pata – O comitê é o diferencial da Volkswagen em relação aos concorrentes porque este grupo discute com grande periodicidade a saúde financeira e a qualidade dos trabalhos exercidos nas unidades no mundo. Quando alguma não está bem, ou apresenta problemas, o grupo se une para buscar soluções e não assiste ao caos, como está acontecendo atualmente com a crise na Europa.
Esta crise na Europa impactou a economia de alguns países mais intensamente como a Espanha, Itália, França, Portugal e a Grécia. Mas, na Alemanha, onde está a matriz da Volkswagen, o cenário econômico é ainda um pouco melhor. Há alguma relação com a atuação do comitê?
A Alemanha realmente está melhor do que os demais países, já que pelo menos, não estamos no vermelho e sofrendo com a queda de emprego em massa. Mas, estamos atentos a todos os problemas vivenciados nos países vizinhos e nos preparando para não ter os mesmos cenários. O comitê, neste caso, define ações para prevenir um quadro de crise. Temos ainda este privilégio de montar estratégias para evitar o caos na fábrica. Só na Europa estão cerca de 300 mil trabalhadores do quadro de 545 mil que tem a Volkswagen em todo o mundo. Obtivemos a liderança nas vendas pelo quarto ano seguido na Europa, apesar de queda significativa de vendas de veículos.
Diante deste cenário de crise, qual é a postura dos sindicatos e das montadoras na Europa?
Todos estão atrás de soluções, mas acreditamos que só a partir de 2015 haverá uma retomada nos países mais afetados. Não há uma receita, o cenário é o pior possível. Cerca de 50% dos jovens estão desempregados, a maioria da população sobrevive da aposentadoria dos mais velhos. Não existe perspectiva de emprego, os jovens não conseguem formar famílias, comprar uma casa, construir a vida. O mercado de automóvel foi totalmente afetado como os demais ramos, com isso algumas plantas estão sendo fechadas. A Fiat demitiu cerca de oito mil trabalhadores, a Renault mais sete mil. Os sindicatos não são muito unidos, e as empresas também não têm uma tradição de muito diálogo. A Fiat do Brasil é uma das melhores plantas desta fábrica, mas não é articulada como a Volks para pensar em estratégias globais, e assim assiste essa demissão em massa, sem poder ajudar. A cada dia acompanhamos a crise da indústria na Europa cada vez pior. São muitas demissões em massa, a situação é muito grave, sendo difícil empresa e sindicato encontrarem soluções.
Você acredita que em época de crise uma das medidas adotadas para garantir os empregos nas matrizes é realmente as filiais ajudarem?
Não sei se é correto e também não posso afirmar se é isso que as outras marcas estão fazendo. Acredito que as filiais podem ajudar a elaborar saídas e soluções para evitar o caos nas matrizes. Enviar recursos é uma saída, mas afeta os investimentos das filiais, então é uma decisão que precisa ser bem avaliada, mesmo no desespero, para não criar outro problema.
Diante deste cenário econômico na Europa, qual seria uma possível saída para garantir os empregos até que a situação melhore?
Está difícil enxergar uma saída diante desta situação. Esta crise está se arrastando já há alguns anos. Claro que as fábricas e os governos buscam adotar medidas para evitar o quadro de desemprego, já que uma população sem salário, não aquece o mercado consumidor interno. Mas, está complicado afirmar o que poderia ser feito. Acredito que boa parte do que era possível implantar foi feito. A expectativa agora é de que com o tempo a situação vá melhorando e assim, convoquem esses trabalhadores de volta às fábricas. E esta crise afeta também países de outros continentes, como o Brasil. Porém, a diferença é que o governo brasileiro adotou medidas para fortalecer o consumo interno e assim os reflexos desta crise causam menos impacto às multinacionais deste país e os setores que dependem da saúde financeira estável do mercado externo. A indústria brasileira também demitiu, mas não na dimensão que poderia ter sido, caso essas medidas não fossem adotadas.
Com esta crise, a cadeia de fornecedores da Volkswagen foi afetada em outros países da Europa?
A demanda da Volkswagen também caiu com este cenário de crise na Europa, mas mantivemos a cadeia de fornecedores e que não foi muito afetada. Acreditamos que cerca de um milhão de pessoas estejam envolvidas diretamente e três milhões indiretamente, levando-se em conta as famílias dos empregados nessa cadeia.
Como funciona o comitê mundial?
Temos membros das comissões de fábrica e da diretoria da Volks. As tarefas são assegurar o emprego, os locais de produção e estruturas, avaliar a remuneração, horário, condições de trabalho, elaborar novas formas de organização no local de trabalho, efeitos de desenvolvimento e decisões políticas na fábrica. Buscamos minimizar ou acabar com os problemas pontuais e articular ações que avançam nas relações de trabalho. Cada país traz os pontos a serem avaliados e junto com a fábrica buscamos as melhores soluções. E já obtivemos muitos avanços em todos esses itens.
Qual a importância de ter uma comissão da América no comitê mundial?
Os assuntos das plantas do Brasil, Argentina, México e Estados Unidos terão um grupo próprio para discutir os pontos necessários para avançar. E terá um espaço específico de destaque como temos o da China, que conta com 13 plantas da Volks. Acreditamos que irá estreitar as relações e melhorar diversos pontos ao trabalhador. No Brasil, temos o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que é um dos mais avançados do mundo, e que já auxilia nas negociações, agora isso será intensificado.
Do ABCD Maior