O que está em jogo para o emprego na indústria nas eleições presidenciais

Há menos de uma semana do segundo turno das eleições para a Presidência da República, marcado para o próximo dia 26, o presidente do Sindicato, Rafael Marques, fez uma análise sobre os dois projetos em disputa e suas implicações para os metalúrgicos do ABC.

Tribuna Metalúrgica – Quais as prin­cipais diferenças entre os dois projetos e o que isso significa para a categoria?

Rafael Marques – Em um projeto o Estado estimula as pessoas em maior fra­gilidade social a superar seus problemas, levando educação, saúde, saneamento, previdência e tudo o mais que os traba­lhadores necessitam, mas seu salário, por melhor que seja, é insuficiente para pagar. Esse projeto nós apoiamos. O outro pro­jeto só funciona se existir um grande nú­mero de trabalhadores desempregados. Com muita gente sem emprego os patrões podem negociar um salário menor para aumentar seus lucros. É simples entender, pense em cebolas. Quando tem muita ce­bola na feira o preço é baixo, quando tem pouca ela custa mais caro. Nesse projeto o trabalhador é usado como um excedente de produção, como cebola. Esse projeto não interessa a nós.

TM – O que é exatamente essa polí­tica defendida pelos patrões?

RM – O Brasil viveu momentos de abertura indiscriminada aos mercados internacionais, na década de 90, e o resultado foi negativo. Perdemos nossa indústria de informática, eletroeletrô­nicos e deixou-se de avançar em novas empreitadas na indústria tecnológica. Só na nossa categoria, 40 mil trabalhadores perderam o emprego.

TM – Como é esta política em países desenvolvidos?

RM – Qualquer país desenvolvido protege seus mercados. Não é fácil entrar no mercado alemão ou de qualquer país da Europa ou ainda no mercado japonês, não é nada fácil. Eles protegem sua in­dústria, seus mercados e seus empregos.

TM – Como é, hoje, a política indus­trial para o setor automotivo adotada no Brasil?

RM – O novo Regime Automotivo, o Inovar-Auto, é uma conquista, que às vezes não temos a dimensão da impor­tância dela. As matrizes das montadoras criticaram no início e foram contrárias a ter que cumprir regras estabelecidas aqui no Brasil. Algumas inclusive pres­sionaram os governos de seus países de origem para representarem junto à Organização Mundial do Comércio, a OMC, contra o Brasil.

TM – Apesar deste posicionamento contrário às regras, as montadoras estão destinando recursos para o Brasil. Por quê?

RM – Porque o Brasil é o quinto maior mercado de veículos do mundo e continua em expansão. Hoje temos um veículo para cada quatro habitantes, isto é 50 milhões de veículos. Como a frota nacional é de 40 milhões, ainda tem dez milhões para crescer. Se compararmos com os EUA, que tem 2,4 por habitante, nosso mercado potencial é de quase cem milhões de veículos. Por isso, mesmo sen­do contrárias a ter que cumprir regras, as montadoras querem vir para cá e já confirmaram investimentos na ordem de R$ 10 bilhões só aqui na região e mais de R$ 53 bilhões previstos em todo o País.

TM – O que a política do Inovar­-Auto pode representar para o futuro do Brasil?

RM – As medidas ainda estão sendo aprimoradas, como a exigên­cia de conteúdo nacional, que reflete positivamente no setor de autopeças. Defendemos a continuidade desta po­lítica econômica que levará o Brasil a um estágio superior de crescimento, melhorar sua posição no ranking mundial das maiores economias e também no ranking de desenvolvi­mento humano, com o objetivo de melhorar profundamente as condições de vida do seu povo.

TM – Por que ainda há pessoas contrárias a este crescimento?

RM – As grandes corporações estão acostumadas a mandar nos estados, é assim que funciona. O grande capita­lista vê no estado, um estado para lhe servir. Cada vez que o estado toma me­didas que não estão em sintonia com a sua visão ultraliberal para explorar os mercados e a mão de obra no mundo, estabelece o conflito de interesses.

TM – Então, o que está em jogo nestas eleições presidenciais?

RM – Essa eleição é uma disputa de dois projetos, um com aliança com o povo trabalhador, com as periferias do Brasil e as políticas de soberania nacional e outro com entrega do pa­trimônio brasileiro, via privatizações e abertura indiscriminada dos merca­dos, é isso que está em jogo.

Da Redação