Petrobras pesquisa uso de algas no etanol

 

Algas de tamanho microscópico estão atraindo a atenção de pesquisadores no mundo todo. Base da alimentação no ambiente aquático, elas já vêm sendo exaustivamente estudadas pela indústria farmacêutica, cosmética e alimentícia. Nos últimos anos, os pesquisadores constataram que essas algas são também a matéria-prima com maior potencial para a produção de biocombustíveis.

A descoberta levou a uma corrida internacional de grandes instituições privadas e governamentais, em busca do desenvolvimento da microalga como fonte de energética limpa e sustentável. Acredita-se que existam 300 mil espécies de microalgas no planeta, mas apenas 30 mil estão catalogadas.

Na vanguarda das pesquisas dessa nova fonte energética está a Petrobras, que vai inaugurar, até o final do ano, um núcleo de pesquisa e produção piloto para as microalgas no Rio Grande do Norte. As novas instalações contam com seis tanques de 600 metros quadrados para a produção de microalgas em larga escala.

Para a Petrobras, o investimento vale a pena, já que as microalgas têm potencial para substituir os cerca de 40 bilhões de litros de diesel consumidos pelo Brasil a cada ano de maneira ambientalmente sustentável.

Mas as intenções da estatal brasileira vão ainda mais longe. As microalgas são, além de competentes seqüestradoras de gás carbônico – responsável pelo aquecimento terrestre. Por isso, são capazes de despoluir águas salgadas, removendo esgoto e outros detritos e substâncias.

“Estamos de olho nas águas de produção de petróleo e do potencial das algas para limpar essas águas”, explica o gerente de gestão tecnológica da Petrobrás Biocombustíveis, João Norberto Noschang Neto, em entrevista exclusiva ao Portal Brasil.

O novo núcleo de pesquisas de microalgas no Nordeste brasileiro está sendo montado para dar continuidade aos estudos realizados pela Petrobrás desde 2005. De lá para cá “o que a gente fez foi procurar cepas adequadas para a produção de óleo, biodiesel e etanol”, explica Neto. Em um primeiro momento, pesquisadores da estatal entraram em contato com universidades que já tinham desenvolvido projetos com microalgas com outros objetivos como, por exemplo, a produção de alimentos para crustáceos.

A partir daí, o segundo passo foi selecionar cepas de microalgas que contassem com boa quantidade de óleo, e que esse óleo fosse adequado para a produção de biocombustíveis. “Chegamos a algumas cepas com grande potencial”, informa o técnico.

Produção 20 vezes maior que dendê

Para se ter uma idéia, um dos produtos vegetais com maior potencial para a produção de biocombustível por hectare plantado é o dendê – proveniente da palmeira ou dendezeiro. “A microalga tem capacidade para produzir, numa mesma área, 20 vezes mais óleo que o dendê”, afirma João Norberto Noschang Neto.

Além disso, elas se reproduzem muito rápido. Crescem em decorrência do processo de fotossíntese e, para tanto, não precisam de quase nada, apenas de sol, de água e de gás carbônico. “Quando a gente olha uma piscina que um dia está limpinha e no dia seguinte amanhece verde é porque microalgas se reproduziram ali. Elas se reproduzem muito de um dia para outro”, lembra o gerente.

De acordo com Neto,  algumas cepas com grande potencial foram selecionadas em laboratório: “Já vimos como é a reprodução dessas algas, a que elas são susceptíveis e o que podemos fazer para que se reproduzam mais”. Os pesquisadores descobriram que as microalgas precisam de boa insolação. Além disso, com a injeção CO2 na água elas se reproduzem mais. Depois disso, precisam de um ambiente agitado.

“A gente testou em laboratórios, em pequenos tanques. Agora, estamos partindo para a unidade piloto, no Rio Grande do Norte, porque é um local que tem as condições que as microalgas se adequam muito bem, como sol o ano inteiro”, esclareceu Neto.

Ausência do setor privado

Nos últimos anos, alguns centros de pesquisa, principalmente os privados, acabaram aos poucos se desinteressando pela microalga como fonte energética, de acordo com o técnico da Petrobras. Isso porque algumas iniciativas tiveram resultados negativos na produção de microalgas em escala industrial.

Segundo os estudos, a cultura desses vegetais aquáticos é facilmente contaminável, além de exigir grande quantidade de eletricidade para a extração do óleo. Para o setor privado o empreendimento, por enquanto, não é suficientemente rentável. Por enquanto, continuam avançando nas pesquisas grandes empresas, na maior parte subsidiadas por seus governos, com grande potencial de investimentos, como a Petrobras.

Apesar de não revelar valores, Neto admite que o investimento para montar as estruturas de um núcleo de produção no Nordeste é alto. Mas o resultado pode compensar muito, pois as microalgas podem substituir os cerca de 40 bilhões de litros de diesel consumidos pelo Brasil a cada ano de maneira ambientalmente sustentável.

Para ressalva que a pesquisa é de longo prazo e que ainda vai levar algum tempo para que o biodiesel de microalgas chegue ao mercado consumidor. “Podemos dizer seis anos para uma perspectiva otimista e dez anos, para uma negativa”, finaliza.

Do Portal Brasil