Time do Peru deve ser punido por racismo de torcedores

Sempre que Tinga tocava na bola, a torcida fazia gestos e sons imitando macacos

O Real Garcilaso, do Peru, será julgado pelo Tribunal Disciplinar da Conmebol pelos atos racistas da torcida presente no estádio de Huancayo contra o jogador brasileiro Tinga, do Cruzeiro. A data ainda será marcada, mas deve ocorrer em fevereiro.

Anteontem à noite, Tinga entrou em campo aos 20 minutos do segundo tempo na derrota do Cruzeiro por 2 a 1 para o Garcilaso, em Huancayo.

Sempre que o jogador tocava na bola, a torcida fazia gestos e sons imitando macacos.

“Eu trocaria todos os meu títulos pelo fim do preconceito. Trocaria por um mundo com igualdade entre todas as raças”, disse Tinga.

Em virtude do caso, a presidente Dilma saiu em defesa de Tinga no Twitter, e o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, ligou para o presidente da Conmebol, Eugenio Figueredo, pedindo punição.

A clareza dos atos racistas nas imagens e nos áudios torna a punição iminente, mas provavelmente não resultará em perda de ponto ou exclusão do time peruano da Libertadores, como chega a prever o estatuto da Conmebol.

A orientação do Comitê Disciplinar da Fifa, que serve de base para as confederações, em casos de racismo envolvendo torcedores é o de, na primeira vez, punir o clube com multa e obrigá-lo atuar com portões fechados.

Apenas na reincidência o clube é punido mais severamente, com perda de pontos, rebaixamento e até eliminação da competição.

Cinco casos de racismo julgados por Fifa e pela União Europeia de Futebol (Uefa), em 2013, semelhantes ao de Tinga, resultaram em jogos com portões fechados.

No ano passado, o combate ao racismo foi considerado prioridade para a Fifa, que criou um código com as possíveis punições.

Ineditismo

Esta será a primeira vez que o Tribunal Disciplinar da Conmebol, criado em 2012, julgará um caso de racismo, por isso não há jurisprudência no continente em relação a fatos como esse.

O tribunal é presidido por um brasileiro, o advogado Caio César Vieira Rocha, que também é o vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Por ser brasileiro, Rocha não participará do julgamento que envolve o Cruzeiro.

O primeiro caso de repercussão do tribunal, no ano passado, foi a morte do boliviano Kevin Espada, atingido por um sinalizador lançado por torcedores corintianos em um jogo ante o San Jose.

O Corinthians foi obrigado a jogar com portões fechados toda a Libertadores. Depois, os torcedores do time foram proibidos em jogos que não tinham o mando de campo do clube paulistano.

Da Folha de São Paulo