Os EUA não estão falidos

A notícia talvez vise assustar e provocar o desmonte preventivo do Estado de Bem-Estar

Eu acreditava contar com Dean Baker, do Centro de Pesquisa Política e Econômica, para derrubar a recente coluna de Larry Kotlikoff  “Iiik! Dívida!” no New York Times. Mas em seu blog Dean não foi longe o suficiente.

Na coluna “A conta de cartão de crédito escondida dos EUA”, Kotlikoff calcula o valor atual descontado de lacunas de financiamento previstas em programas federais, aponta que são números realmente grandes e declara que os EUA estão falidos. Como disse Dean, isso é tolo, desonesto ou ambos. A economia americana deverá crescer muito no futuro. Enquanto isso, as taxas de juro reais deverão ficar apenas ligeiramente acima das taxas de crescimento.

Por isso, qualquer lacuna persistente entre os gastos e as receitas como porcentagem do PIB será um número enorme se transformado em valores atuais. No entanto, o valor atual do PIB futuro esperado também é imenso – alguns quatrilhões de dólares. Então, a lacuna é grande comparada com os recursos disponíveis para cobri-la? Kotlikoff não nos dá meios para julgar.

As perguntas certas são como o caminho fiscal provavelmente se apresentará na realidade e se há algo que deveríamos fazer agora para melhorar a história. É verdade que, se as políticas atuais continuarem sem mudança, haverá uma grande probabilidade de enfrentarmos uma lacuna fiscal insustentável, se olharmos longe o bastante. A Lei de Stein se aplica: se algo não pode durar para sempre, ele vai parar. Mais cedo ou mais tarde, teremos alguma combinação de cortes de benefícios e/ou aumentos de receita.

Dizer que isso significa que os EUA estão falidos é uma hipérbole; mais importante, não é útil. O que, então, deveríamos fazer agora?

A resposta que todos os sujeitos com pânico de déficit oferecem é basicamente que devemos cortar os futuros benefícios. Mas por que, exatamente, isso é algo que deve ser feito já? Se enunciar a suposta lógica, parece que para evitar futuros cortes de benefícios devemos cortar os futuros benefícios. Eu pedi esclarecimentos várias vezes e nunca os recebi.

Pode-se afirmar que é melhor evitar mudanças abruptas – colocar as coisas em um caminho suave para a sustentabilidade. Mas essa é uma tese muito mais fraca do que se poderia esperar, diante de todos os gritos de falência e crise.

E as evocações do tipo Dr. Maligno de 200 trilhões de dólares não servem a qualquer objetivo, a menos que o seu verdadeiro objetivo seja assustar as pessoas para que desmontem preventivamente o Estado de Bem-Estar Social.

O ataque da direita ao astrofísico Neil de Grasse Tyson – que atingiu uma espécie de apogeu em recente reportagem na National Review – é notável. De um lado, existe a reprovação desdenhosa a qualquer pessoa que tente trazer fatos e provas para o debate político. Ao mesmo tempo, há a afirmação de que os “peritos” liberais são fingidos, e não verdadeiros peritos.

Os cientistas como grupo são muito mais liberais, de inclinação democrática, que a população como um todo. Os conservadores usam essa disparidade para atacar os cientistas, ou acadêmicos em geral, por sua inclinação.

Então, o que está acontecendo? Uma explicação simples seria que a atual doutrina republicana realmente é contra a ciência e os intelectuais, e que os cientistas reagem a isso. Mas essa seria uma visão desequilibrada. Então, a direita tenta insistir em que figuras públicas como Tyson são fingidas e que há algum tipo de conspiração que leva os cientistas em geral a ter opiniões semelhantes. Que tal simplesmente usar a Navalha de Occam?

Jonathan Cohn examinou em The New Republic as evidências sobre os prêmios do seguro-saúde nos EUA e descobriu que as coisas não estão muito ruins: “A cobertura ficará mais cara para a maioria dos consumidores, como sempre faz”, escreveu em 4 de agosto. “As mudanças nos prêmios vão variar enormemente, de estado para estado e de plano para plano. Mas, de modo geral, os aumentos dos prêmios em 2015 não serão significativamente piores do que foram no passado. Poderão até ser um pouco melhores.”

Charles Gaba, que dirige a ACASignups.net, acha praticamente a mesma coisa. Há uma clara tendência dentro da tendência: os estados que fizeram o máximo para que a Lei de Acesso à Saúde funcionasse estão oferecendo bons negócios para seus residentes. A Califórnia ruma para um aumento de apenas 4,2%. Por outro lado, as coisas não parecem boas na Flórida. De modo geral, mais evidências de que essa reforma funciona quando os políticos permitem.

Por Paul Krugman do The New York Times