Professores abrem caminho para greve geral contra recessão em Portugal

Professores de Portugal fazem greve geral em dia de exames
Cerca de 75 mil alunos do último ano do ensino secundário de Portugal, equivalente ao ensino médio no Brasil, deveriam fazer hoje as provas de português do exame nacional aplicado pelo Ministério da Educação e da Ciência para avaliar a qualidade do ensino e para que os alunos possam ingressar na universidade.
A aplicação total das provas não está garantida, porém. Os professores portugueses da rede pública de todos os níveis de ensino, da pré-escola até o ensino superior, fazem greve geral hoje e resistem às medidas de austeridade que o governo poderá adotar até setembro para diminuir os gastos públicos com educação.
Diferentemente do Brasil, o ano letivo em Portugal começa no segundo semestre. Os professores lusitanos temem que, até lá, o governo português demita docentes, aumente a carga horária de 35 para 40 horas semanais, obriguem os professores a dar aulas em cidades diferentes e deixem milhares de docentes fora de sala de aula, em regime de mobilidade especial – o que pode obrigar a requalificação profissional, sem garantias de que os professores não serão despedidos no futuro.
O governo português tem como meta, até o próximo ano, demitir 30 mil servidores públicos. Como ocorre no Brasil, a área de educação (juntamente com a da saúde) é a que tem o maior número de funcionários no Estado. O governo português alega que é possível fazer cortes de pessoal na educação e agrupar escolas, pois é cada vez menor o número de crianças em idade escolar – a população de Portugal é uma das que mais envelhecem na Europa.
As duas federações nacionais de professores portugueses criticam o governo e reclamam da intransigência do Ministério da Educação e Ciência em aceitar a remarcação do exame para outra data. Segundo o ministério, seria prejudicial aos alunos reagendar os exames, além de oneroso refazer todas as providências para realizar as provas.
No final do dia, é esperado que haja um balanço da adesão dos professores à greve, e o que governo eventualmente estabeleça uma segunda data de avaliação para os alunos que não puderem fazer prova hoje.
Da Agência Brasil via Rede Brasil Atual

Manifestantes protestam contra a crise no ano passado em Lisboa

Temendo um endurecimento das políticas de austeridade, a esquerda e os sindicatos de Portugal querem transformar a greve geral do dia 27 e a que será realizada hoje pelos professores do país, em uma advertência ao governo conservador.

Em seus dois anos no poder, o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, enfrentou três greves gerais e manifestações e interrupções setoriais quase todas as semanas.

Porém, seus opositores se mostram agora decididos a lutar com unhas e dentes contra o plano de reformas, aprovado pela União Europeia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), para reduzir ainda mais, e de forma permanente, as despesas do Estado luso em 4,7 bilhões de euros.

Embora o governo tenha negado que vá endurecer suas medidas ou antecipar para 2014 a aplicação de cortes previstos para 2015, um relatório do FMI divulgado esta semana foi considerado uma prova, por toda a oposição, que Passos Coelho quer ir de novo “além” do pactuado no resgate financeiro luso.

O atrito da coalizão conservadora que governa Portugal com a esquerda e os sindicatos acontece em meio a uma crise econômica que não remete, com três anos consecutivos de recessão, uma queda do PIB que será em 2013 de pelo menos 2,3% e um desemprego que segue em aumento e atinge 18% da população.

O horizonte político começa, além disso, a se complicar pela proximidade das primeiras eleições, as municipais do próximo dia 29 de setembro, após a vitória dos conservadores nas gerais que aconteceram, há dois anos, após o pedido do resgate.

Os pleitos municipais foram convocados esta semana quando as enquetes de opinião predizem uma folgada vitória do Partido Socialista (PS).

A principal força de oposição pediu e negociou o resgate antes de perder o poder e exige agora sua renegociação e o fim das medidas de austeridade de Passos Coelho, com o argumento que foram mais duras que o pactuado e fazem parte de sua estratégia “neoliberal” para acabar com os custos do Estado social.

Os sindicatos e as duas organizações marxistas que completam o arco parlamentar luso e também sobem nas pesquisas com a perda de popularidade dos conservadores, tomaram as bandeiras de manifestações e greves no Portugal da crise e dos contínuos sacrifícios do resgate.

Os professores, que representam mais de um terço dos 500 mil funcionários públicos deste país de 10,5 milhões de habitantes, se manifestaram no sábado contra o Executivo e o desafiam amanhã com uma controvertida greve que coincide com o principal exame nacional dos estudantes do ensino médio.

Os líderes da maior central sindical lusa, a Confederação Geral de Trabalhadores de Portugal (CGTP, comunista), pediram hoje que essa greve, rejeitada pelo governo, ganhe bastante adesão e prepare o terreno para a greve geral do próximo dia 27.

Os dois protestos contam com o respaldo do outro grande sindicato português, a União Geral de Trabalhadores (UGT, socialista), e as duas centrais pediram a seus 1,2 milhões de filiados que deem um recado contundente ao Executivo com essa greve.

No entanto, apesar do aumento do clima de conflito social e da proximidade de seu primeiro teste eleitoral, o primeiro-ministro não se mostra disposto a suavizar as políticas de austeridade, que considera indispensáveis para sanear a economia e voltar aos mercados financeiros no final deste ano.

Passos Coelho assegura que lhe preocupa mais a recuperação do país que os resultados das eleições, embora em seu partido, o Social Democrata (PSD, centro-direita) os problemas sociais e a falta de crescimento e emprego não deixem de levantar vozes de alerta.

A última surgiu nesta semana, mais uma vez a do presidente Aníbal Cavaco Silva, a figura mais influente do PSD, que tanto em Portugal como em visita às instituições europeias, ressaltou a importância de um “consenso” nacional em seu país e de mais ações contra a crise da dívida.

Da Agência Brasil via Rede Brasil Atual