Crise leva multinacionais a deixarem a Europa
A Telefônica que estava em Madri, passou sua Sede para São Paulo
A Cable & Wireless Communications, companhia de telecom que tem sua origem nos tempos do império britânico, decidiu transferir sua sede para a Flórida (EUA) após 140 anos em Londres, na semana passada. A espanhola Telefónica mudou de Madri para São Paulo sua sede operacional para as Américas, no fim do ano passado. E a Fiat, símbolo industrial italiano, recuou pelo momento no projeto de transferir sua sede social de Turim para Chicago (EUA) no caso de uma fusão com a Chrysler, sua filial americana, por causa dos protestos na Itália.
Esse início de movimento de transferência do poder decisório para outros mercados fora da Europa em crise, acompanhando os investimentos, começa a chamar a atenção, ao ponto de economista da Organização Internacional do Trabalho (OIT) falar de “risco para os europeus”.
Em relatório sobre o trabalho no mundo, a OIT também constata que a classe média está encolhendo na Europa e outros mercados desenvolvidos, por causa do desemprego de longa duração, da deterioração da qualidade do emprego e de trabalhadores que abandonam o mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, a classe média cresce nos emergentes e o consumo continua em expansão. E a tendência das empresas é de ficarem mais próximas desses mercados consumidores.
“O encolhimento dos grupos com renda intermediária nas economias avançadas é inquietante, tanto em razão da capacidade de integração dessas sociedades como por razões econômicas”, afirmou Raymond Torres, diretor do Instituto Internacional de Estudos Sociais, da OIT. “As decisões de investimento no longo prazo pelas empresas dependem também da presença de uma vasta e estável classe média que esteja em condições de consumir.”
A BusinessEurope, organização que representa milhares de empresas na Europa, admite que as companhias são atraídas pelos mercados em expansão e levam em conta as perspectivas frágeis no velho continente. Mas seu economista Andre Vandenhovel faz algumas nuances. De um lado, ele constata que indústrias europeias com uso intensivo de energia estão se deslocando principalmente para os Estados Unidos, empurradas pelos altos custos na Europa.
Esse movimento envolve empresas de metalurgia, químicos e outros. É sobretudo uma reação ao custo médio mais caro na Europa, em relação aos EUA, de 25% no preço do petróleo, de 35% na eletricidade e de 500% no gás natural.
James Zhan, diretor da divisão de investimentos da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), diz não ter notado “movimento maciço” de sede social de companhias de países desenvolvidos para os emergentes. Ele diz que o que tem havido mais recentemente é o aumento de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, sobretudo na Ásia.
Conforme a OIT, as economias desenvolvidas representaram apenas um terço do investimento mundial em 2012, ante mais de 60% em 2000. Ao mesmo tempo, o crescimento do emprego continua frágil nesses mercados, reduzindo a capacidade de consumo.
Já as economias emergentes representaram mais de 47% do investimento mundial em 2012, comparado a apenas 27% em 2000. O emprego aumentou 7% em média entre 2007 e 2012.
Na Espanha, as famílias com renda intermediária só representavam 46% em 2011, ante 50% em 2007, quando a crise começou. O salário mínimo em Portugal estagnou em € 400 e na Grécia em € 550.
Nos EUA, os 7% mais ricos aumentaram de 56% para 63% sua fatia na renda total da população, enquanto 93% da população viu sua renda líquida diminuir.
A Cable & Wireless Comunications disse que sua mudança para a Flórida reflete uma decisão de focar mais nas operações na América Latina e Caribe. Ao mudar a sede operacional nas Américas para São Paulo, a Telefónica disse que queria ficar mais perto dos clientes.
Quanto à Fiat, uma transferência da sede social para a América do Norte levaria em conta o fato de a região representar a maior parte do ganho operacional. “Mesmo se mover a sede para os EUA não significa abandonar usinas e produção, isso afetaria o futuro da companhia na Itália”, advertiu Carlo Dell´Aringa, vice-ministro do Trabalho. O governo italiano promete relançar o mercado automobilístico italiano, atingido pela recessão. As vendas na Itália caíram 20% no ano passado e a expectativa é de declinar mais 5% neste ano.
Do Valor Econômico via CNM CUT