França tributa ricos e empresas para manter meta de deficit público

Em uma tentativa “histórica” e “sem precedentes” de reduzir o déficit público, a França apresentou nesta sexta-feira (28/09) seu orçamento para 2013 com um choque fiscal de austeridade nas contas do governo e um aumento de impostos no valor de 20 bilhões de euros (cerca de R$ 50 bi), a serem pagos por grandes empresas e pelas famílias francesas mais ricas.

Esse é o primeiro orçamento apresentado pelo governo socialista do presidente François Hollande. Em sua medida mais controversa, o documento prevê, além da captação sobre os mais ricos, um imposto “excepcional” de 75% sobre grandes fortunas, que deve afetar de 2 a 3 mil pessoas e trazer 210 milhões de euros a mais aos cofres públicos.

“Este é um orçamento de combate para botar o país de volta nos trilhos. É um orçamento que busca trazer de volta a confiança e quebrar a espiral da dívida, que cresce mais e mais”, disse o primeiro-ministro francês, o socialista Jean-Marc Ayrault. Ele e Hollande garantiram que o aumento de impostos não atingirá as famílias de baixa renda.

Por outro lado, o governo pretende cortar 10 bilhões de euros nos gastos do Estado. Os setores mais afetados serão a Defesa, que terá cortes de 2,2 bilhões, e projetos de investimento, que terão redução de 1,2 bilhões. A previdência também sofrerá com as medidas e deve perder 2,5 bilhões.

As medidas de austeridade e aumento de impostos pretendem derrubar progressivamente o déficit francês até 2017. O valor estimado para 2012 é de 81,1 bilhões de euros, ou 4,5% do PIB (Produto Interno Bruto) do país. O choque nas contas prevê que, em um ano, o déficit caia para 61,6 bilhões, ou 3% do PIB. Em 2017, a expectativa é que o valor esteja em apenas 0,3%.

Em outra previsão considerada otimista por analistas, o novo orçamento francês afirma que o país crescerá 0,8% em 2013 – número alinhado às previsões do FMI (Fundo Monetário Internacional) feitas em julho. Ayrault defende a projeção e diz considerar o valor “realista e ambicioso”. “Um orçamento não é nada se não vier acompanhado de vontade política”, disse Hollande.

Reações
O bloco socialista, maioria na Assembleia francesa, classificou o novo orçamento como “justo, rigoroso e construtivo”. “A batalha pelo redirecionamento do nosso país, pelo emprego, pelo retorno da confiança e do poder de compra, está bem encaminhada”, disse o presidente do grupo no Senado, François Rebsamen.

A oposição direitista, encabeçada pela UMP (União por um Movimento Popular), criticou a falta de continuidade do projeto do ex-presidente Nicolas Sarkozy, que também buscava a redução do déficit com medidas de austeridade.

Já Marine Le Pen, da Frente Nacional, de extrema direita, acusou o governo de destruir a economia do país para salvar o euro. “O orçamento adotado hoje coloca o país no mesmo caminho da Grécia, da Irlanda, de Portugal e da Espanha, um caminho que parar no muro do euro”, disse.

 

Do Opera Mundi