Crise faz vizinhos do euro hesitarem em aderir à moeda
Mesmo com a crise na zona do euro e as perspectivas pessimistas sobre a economia mundial, outros países que aderiram à União Europeia, mas não à moeda única, vêm registrando índices satisfatórios de crescimento.
Dentre os dez Estados que mantêm moedas próprias na União Europeia, cinco tiveram expansão da atividade econômica nos últimos trimestres, segundo dados da Eurostat, agência oficial de estatísticas do bloco.
Bulgária, Lituânia, Letônia, Polônia e Suécia conseguiram ter resultados mais positivos tanto em relação aos índices da zona do euro quanto da União Europeia.
No primeiro trimestre deste ano, a zona do euro experimentou estagnação econômica. Houve queda de 0,2% do PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre.
Nos mesmos períodos, a Polônia registrou crescimento de 0,8% e 0,6% do PIB, respectivamente; a Lituânia cresceu 0,3% e 0,5%. A Suécia expandiu-se ainda mais: 0,9% e 1,4%.
Charles Hovit, especialista em Europa emergente (fora da zona do euro) da consultoria IHS Global Insight, pondera que a situação não é igual entre todos os países da região. “Bulgária, Letônia e Lituânia mantêm acertos monetários que relacionam suas moedas ao euro em uma taxa fixa de câmbio. Esses Estados não poriam mais em risco sua competitividade se entrassem para a zona do euro, pois já precisam lidar com o fato de que não podem desvalorizar suas moedas para ganhar vantagens no mercado”, afirma Hovit.
Contudo, a Bulgária comunicou semana passada o adiamento, por prazo indeterminado, do plano de adotar o euro. O premiê búlgaro, Boyko Borisov, citou o agravamento da crise e a crescente incerteza quanto ao futuro da moeda única como razões.
Hovit cita outras preocupações: “A Bulgária teme ter de participar de resgates financeiros a outras economias periféricas se adotar o euro e, antes de decidir, também gostaria de saber se a ´união fiscal´ [harmonização de impostos] vai de fato evoluir”.
Lituânia, Polônia e Romênia estão na mesma direção da Bulgária, de esperar os próximos desdobramentos.
Só a Letônia antecipou de 2014 para 2013 a data para decidir seu ingresso ao bloco, motivada pela entrada de sua vizinha Estônia.
O professor de economia política internacional Laszlo Csaba, da Universidade da Europa Central, na Hungria, diz à Folha que, mesmo para os que creem no projeto da moeda única, “não há como negar que é muito útil ter controle sobre a própria taxa de câmbio em tempos de crise”.
Csaba avalia que, entre 2009 e 2012, o controle cambial protegeu a Hungria de choques ainda maiores durante a crise do euro em comparação com a Estônia.
Segundo ele, enquanto os húngaros sofreram queda de 6,3% na produção, a Estônia teve redução de quase 20%.
Mas Csaba diz que “a longo prazo, abster-se da zona do euro não é uma opção”.
Da Folha de S. Paulo