Austeridade na Europa ameaça ceifar mais 4,5 milhões de empregos

A zona do euro pode perder mais 4,5 milhões de empregos nos próximos quatro anos se os governos mantiverem a política de austeridade, prolongando a recessão e ameaçando a “perenidade da moeda única”. A advertência foi feita ontem pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

A entidade diz que o eventual aumento no desemprego nos 17 países da zona do euro, dos atuais 17,4 milhões de pessoas (11% da população economicamente ativa) para 22 milhões até 2015, iria “causar turbulências sociais, erodir a confiança das pessoas nos governos nacionais, no sistema financeiro e nas instituições europeias”.

“Não é só a zona do euro que está em perigo. O risco é de contágio para toda a economia mundial”, disse o diretor-geral da OIT, Juan Somavia. Ele elogiou a reação de governos de economias emergentes, com planos de estímulo às economias e criação de empregos.

Também a OCDE conclamou os governos dos países ricos a reagir, ilustrando que já havia 48 milhões de pessoas sem emprego em maio nesses países e que o desemprego deve continuar alto em 2013.

O desemprego de longa duração aumenta e muitos trabalhadores se encontram praticamente excluídos do mercado. Cerca de 31,5% da população em idade de trabalhar na zona do euro estava sem emprego ou inativa. E 44% dos que buscam emprego estão sem trabalho há mais de um ano.

Os jovens são os mais afetados, com uma taxa de desemprego de 22%. Mas supera os 30% na Itália, Portugal e Eslováquia, e mesmo 50% na Espanha e na Grécia.

Em 13 dos 17 países do euro foram feitas reformas flexibilizando o mercado de trabalho, em geral para facilitar demissões. Num contexto de depressão macroeconômica, essas reformas tendem a elevar o número de demissões sem criar novos postos de trabalho.

O desemprego aumentou sobretudo na periferia em crise, mas ameaça agora também países que até então tinham sido poupados, como a Alemanha, motor da economia europeia, Áustria e Bélgica.

A OIT reitera que as políticas de austeridade enfraqueceram o crescimento econômico e deterioraram os balanços dos bancos, causando novo aperto de crédito, diminuição dos investimentos e perda líquida de postos de trabalho.

Para os países ricos saírem da “armadilha da austeridade”, a entidade da ONU sugere a recuperação do sistema financeiro subordinada à restauração do crédito para as pequenas empresas, além da promoção de investimentos e a criação de programas de garantia de empregos para jovens, como fez a Suécia com sucesso, e da gestão de diferenças de competitividade entre os países da zona do euro, de forma que a renda do trabalho suba no mesmo ritmo da produtividade nas economias fortes e a moderação salarial nos países com déficit seja completada por políticas para reforçar as bases industriais.

A OCDE nota que nas principais economias emergentes, com exceção da África do Sul, os mercados de trabalho resistem bem à crise até agora. Conforme a entidade, para os industrializados terem a mesma taxa de emprego de antes da crise, são necessários 14 milhões de empregos a mais.

Do Valor Econômico