Dia de luta contra bancos leva multidões às ruas em 82 países
Meio milhão em Madri e mais 250 mil em Barcelona; “Mãos ao alto! Isto é um assalto!”, ironizou a multidão em frente ao BC da Espanha. A ampla solidariedade alcançou todos os continentes
O grito de “Somos os 99%” ecoou no mundo inteiro no sábado. Em 1500 cidades de 82 países, manifestantes foram às ruas contra a ganância e a impunidade dos banqueiros; contra os pacotes de “ajustes” e para denunciar os ataques às aposentadorias e à juventude, bem como em defesa da recuperação dos empregos ceifados pela crise econômica, desatada pelo estouro da especulação em 2008. Uma ampla solidariedade com o movimento Ocupem Wall Street, iniciado há um mês, alcançou todos os continentes.
O Dia Mundial pela Mudança, convocado contra a ganância dos especuladores financeiros, espalhou-se da Times Square em Nova Iorque a Chicago, duas cidades onde houve maior repressão e mais de duzentas pessoas foram presas –; e alastrou-se de costa a costa nos EUA até a Puerta del Sol em Madri, a Paris e Roma; do Cairo a Seul; de Santiago do Chile, passando pelo Canadá, onde as maiores concentrações aconteceram em Montreal e Vancouver e, nesta, um cartaz na multidão denunciava: “Ganância é a nova peste negra”; de Mumbai a Johanesburgo; e de Londres a Hong Kong e Sydney. Em todos os recantos, um mesmo sentimento e percepção de que, enquanto uma minoria de 1% se mantiver arrancando lucros com a crise que criaram, não haverá recuperação dos empregos e melhoria das condições de vida.
“O mundo versus os banqueiros”, preocupou-se o jornal “Guardian” de Londres. De ações com algumas centenas de pessoas, a grandes manifestações, como na capital do Chile, que reuniu 50 mil estudantes e trabalhadores. Em Jacarta, manifestantes atiraram sapatos na embaixada dos EUA. Em Bruxelas, sede da burocracia da União Europeia milhares de pessoas se pronunciaram diante da Bolsa de Valores ornada com uma faixa: “a Bolsa ou a vida”.
Com a Europa vergando sob o fardo dos pacotes salva-banco e em crise aberta, não é de surpreender que tenham ocorrido ali os maiores protestos. Meio milhão se manifestaram em Madri e mais 250 mil em Barcelona, convocados pelo movimento de indignados espanhol; houve atos massivos em todas as capitais provinciais. “Mãos ao alto! Isto é um assalto!”, ironizou a multidão diante do prédio do Banco de Espanha (BC). “Culpados, culpados!”, bradaram ao passarem por prédios de bancos e caixas de poupança falidas.
Em Roma, em meio à crise do governo Berlusconi, que quase naufragou na semana passada, 200 mil foram às ruas repudiar as medidas adicionais de arrocho. No final, grupos encapuzados enfrentaram a polícia, queimaram automóveis e quebraram portas de bancos. Em Portugal, dezenas de milhares se manifestaram em Lisboa e no Porto contra o projeto do novo governo de aumentar em meia hora a jornada de trabalho e de cortar o bônus de natal dos servidores, entre os ataques aos direitos dos cidadãos, cobrados pelo FMI e União Europeia.
Alemanha
Em Londres, milhares de pessoas se reuniram às portas da catedral Saint Paul após a Scotland Yard impedir que chegassem até à Bolsa de valores. Ali, o líder do WikiLeaks, Julian Assange, falou em apoio ao movimento, que chamou de “culminância de um sonho”. Em Paris, uma imensa bandeira francesa encabeçou manifestação diante da assembleia nacional. Atos foram realizados ainda em muitas cidades.
Na Alemanha, mobilizações em Berlim e mais cinquenta cidades. Milhares se manifestaram em Frankfurt, diante do Banco Central Europeu. Em Colônia, um boneco caracterizado como Ângela Merkel, acompanhado por um esqueleto, chamava a atenção. Na depauperada Grécia, e às vésperas de outra greve geral, o povo novamente ocupou a praça Sintagma, diante do parlamento. Atos ainda em Helsinki, Zurique, Varsóvia, Viena, Belgrado, Sarajevo e Estocolmo.
Do Hora do Povo