Carros chineses avançam e ameaçam posição do México
Assim como já acontece em diversos setores da economia brasileira, a China avança a passos largos para conquistar uma posição de relevância no mercado automobilístico nacional.
Com preços mais baixos do que a concorrência internacional, o país asiático superou, em menos de dois anos, os Estados Unidos e o Japão e cresce rapidamente para tomar a posição ocupada hoje pelo México, um tradicional parceiro da indústria automobilística nacional, cujos carros ingressam ao país com alíquota zero de importação.
Se há um ano as marcas chinesas tinham uma discreta participação de 2,4% nas importações de veículos, hoje elas já respondem por 9,1% do volume de carros, caminhões e ônibus vindos do exterior.
O movimento está gerando uma mudança na composição das principais fontes de suprimento de veículos do mercado brasileiro, em um processo marcado pela diminuição da participação dos carros argentinos na pauta de importações.
Em 2009, os chineses representavam apenas 0,9% das importações brasileiras, empatados com os Estados Unidos e ainda atrás do Japão e do México, que, na época, tinham 2,3% e 11% do mercado importador, respectivamente.
Atualmente, além do México, a China tem à sua frente apenas a União Europeia, a Coreia do Sul e a Argentina. Os argentinos, contudo, que tinham 57,4% das compras externas brasileiras, viram essa participação ceder para 40% neste ano.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que 49,23 mil veículos chineses entraram no Brasil no período de janeiro e julho, quase seis vezes mais do que o registrado no mesmo período de 2010 (8,46 mil).
A chegada da JAC Motors, no começo do ano, com uma estratégia agressiva em marketing e distribuição ajudou a catalisar esse desempenho, num momento em que o câmbio favorável, por si só, tem levado as importações de veículos a crescer incomparavelmente mais rápido do que as vendas de montadoras instaladas no país.
Hoje, as marcas chinesas JAC, Chery e Lifan estão na lista dos automóveis mais vendidos no Brasil. A China também mostra participação crescente no mercado de utilitários leves, onde a Hafei, com suas picapes e vans Towner, ocupa, neste ano, a décima posição no ranking de emplacamentos.
Em comum, os planos dessas marcas incluem a instalação de fábricas no país, após um primeiro ciclo de desenvolvimento das redes de distribuição e introdução de produtos.
Os empreendimentos mais notórios são os da Chery – que investe US$ 400 milhões em uma unidade fabril em Jacareí, no interior de São Paulo – e da JAC, que, aliada ao empresário Sérgio Habib, negocia o local para uma fábrica com capacidade anual de 100 mil carros e orçamento estimado em US$ 600 milhões.
Contudo, também há projetos e estudos, em fase final de negociação, relacionados à montagem dos veículos de fabricantes como Hafei, Jinbei, Haima, Lifan e Changan – conduzidos em parceria com os representantes dessas marcas no Brasil.
A CN Auto – que importa utilitários da Hafei e da Jinbei – diz que, após mais um ano de discussões, a decisão sobre a construção de uma fábrica no país deverá ser tomada até dezembro. Segundo Ricardo Strunz, diretor-geral da importadora, duas cidades no Sudeste estão no páreo para receber o investimento.
Strunz diz que as vendas da empresa – projetadas em 18 mil veículos para o próximo ano – já justificam o início da produção local. Mas a CN Auto ainda não tem definidos os modelos a serem produzidos na unidade – entre as vans Towner, da Hafei, e Topic, da Jinbei, ou mesmo os carros da também chinesa Brilliance, que passam a ser importados neste ano. “Todas querem conversar sobre essa possibilidade, mas ainda estou definindo meu sócio. Ninguém faz uma fábrica sozinho”, diz Strunz.
No Grupo Effa – que importa picapes, vans e furgões da Hafei, além de automóveis da Lifan, estes montados no Uruguai -, está sendo discutido com os governos de Goiás e Santa Catarina o plano de construir duas fábricas: uma para a produção de carros da Lifan e outra para veículos de marca própria. Os investimentos são estimados pela montadora em US$ 100 milhões para cada unidade.
Também já foram anunciados planos de investimento em produção no Brasil pela fabricante de caminhões Foton e pela Districar, empresa do grupo português Tricos, responsável pela distribuição dos veículos das chinesas Changan e Haima, além dos sofisticados carros da coreana sul-coreana SsangYong.
Abdul Ibraimo, presidente da Districar, diz que finaliza as negociações com três Estados para anunciar o local da fábrica até o mês que vem. Com investimentos de R$ 300 milhões a unidade terá capacidade anual de produção, em regime de CKD, de 60 mil unidades dos veículos hoje importados pelo grupo.
Do Valor Econômico