China exerce maior influência sobre EUA

Dona de 1,2 trilhão de dólares em títulos da dívida pública americana, a China, maior credora do país, exigiu garantias para seus ativos após o rebaixamento da nota de risco dos EUA pela agência Standard and Poor´s, na última semana. Porém, o governo de Pequim ainda não sinalizou com uma mudança na política de investimento na maior economia do mundo.

“Não há abalo para a China porque são reservas e a oscilação moderada não chega a ser um problema”, afirma o doutor em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Luiz Augusto Estrella Faria, sobre possíveis prejuízos da potência asiática com os papéis americanos. Ele ainda completa que a medida “foi um jogo político da agência para mostrar que é independente. Tanto é que não foi seguida pelas outras”.

Porém, para um outro doutor em economia e professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Antonio Carlos Diegues, o governo de Pequim não avalia apenas o risco da dívida dos EUA para investir no país. “A China compra esses títulos por razões mais políticas do que econômicas”, aponta.  “Essa atitude faz parte de um projeto de aproximação iniciado nos anos 70, quando os EUA ofereceram seu mercado consumidor à China, para que o país se afastasse da União Soviética”.

Esse movimento consolidou a relação entre as duas nações nas décadas seguintes. De acordo com dados da Organização Mundial do Comércio de 2009, os EUA são o segundo maior importador da China, além de possuírem inúmeras unidades de suas empresas no país – entre elas, gigantes como a Apple -, em busca de lucros maiores devido à produção mais barata na região. “Essa relação é boa para ambos, pois a China ganha exportando para os EUA, que por sua vez recebe produtos mais baratos. Logo, isso influência a China a investir o excesso de seu superávit nos títulos da dívida americana”, diz Diegues.

Além disso, as reservas chinesas em dólar dão ao país asiático mais influência e capacidade de pressionar os EUA, como aconteceu durante as negociações da elevação do teto da dívida americana. “Ter dólares é sinônimo de poder e permite um melhor tratamento por parte dos americanos”. Opinião também defendida pela doutora em economia e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Luciana Acioly. “A China ganha voz e isso é muito importante para um país emergente”.

Porém, a economista alerta que esse maior alcance chinês não é suficiente para colocar o país em condições de fazer demandas mais efetivas aos americanos. “Seu discurso pode até ser levado em consideração, mas não tem força para interferir diretamente na economia dos EUA”.

Nesse cenário, desde o início dos anos 2000, a China procura também aumentar sua presença em outros países, variando investimentos. “O governo foi para a Oceania rivalizar com os japoneses e a Austrália, além de realizar negócios com empresas e comprar minério na América Latina”, explica Acioly. “Essa tática faz parte da política chinesa Going Global, na qual o país lança suas empresas em outros países”.

Outra recente abordagem chinesa é a reaproximação de seus vizinhos, com os quais procura estabelecer relações comerciais mais amplas, uma vez que os prognósticos de recuperação de Europa e EUA não são animadores.

Moeda
Após as turbulentas negociações da elevação do teto da dívida pública nos EUA,  a China afirmou que o dólar não é mais confiável para a realização de transações econômicas internacionais e pediu a adoção de uma moeda alternativa. “Gostemos ou não, o dólar ainda não tem substituto. Mais de 70% dos contratos internacionais usam a moeda como referência”, afirma Acioly.

Porém, desde 2009, a China tenta fortalecer sua moeda no cenário internacional com um programa que permite a algumas empresas pagar importações e exportações em yuan. Segundo o banco UBS Securities, 55 bilhões de dólares em contratos foram firmados com a moeda chinesa como referência no primeiro trimestre de 2011. “É uma tentativa de tornar o yuan mais forte e colocá-lo como um possível substituto ao dólar, mas ainda estamos muito distantes disso”, conclui.

Da Carta Capital