Produção industrial global perde fôlego
A produção industrial global está próxima da estagnação, confirmando que a desaceleração na economia mundial é mais forte e ampla, e não só momentânea.
Ao mesmo tempo, cresce o sentimento no mercado de que o aperto fiscal nos Estados Unidos e na Europa vai entravar a economia internacional por vários anos, afetando o comércio internacional, os mercados de ações, os preços de commodities industriais e mantendo as taxas de juros baixas por mais tempo do que se previa.
O índice JPMorgan Global Manufacturing PMI, publicado pela consultoria britânica Markit, mostrou ontem que a produção industrial piorou em todas as grandes economias, com exceção do Japão. Para analistas, a maior surpresa foi o tamanho da desaceleração do índice dos EUA, que agora está no mais baixo nivel desde que a recessão americana acabou. Isso dificulta uma reação à expansão fraca do PIB no segundo trimestre.
Nos 17 países da zona do euro, a freada no crescimento da produção industrial é atribuída principalmente à Alemanha e à França, confirmando que os motores da economia europeia não estão mais imunes aos problemas da periferia. A produção na Espanha voltou a cair, sem surpresa, mas agravando o temor com o futuro do país.Também nos emergentes a produção industrial desacelerou em julho. Na China, os dados foram melhores que as estimativas do mercado e reforçam o sentimento de que a segunda maior economia do mundo terá mesmo um pouso suave e não uma queda brusca, como temiam alguns economistas. Igualmente confirmou-se retração no Brasil, na Índia e na Rússia.
O Japão foi a única grande economia com crescimento mais sólido, mas sua produção industrial continua 5% abaixo do nível de antes do terremoto e do tsunami.
A desaceleração da economia global foi atribuída inicialmente a dois choques de oferta: primeiro, a alta nos preços do petróleo no rastro das turbulências políticas no Oriente Médio; e depois a interrupção na cadeia de suprimento causada pelo tsunami no Japão.
O impacto dos choques se atenuou no início deste segundo semestre e a atividade pode até subir um pouco. Mas todos os indicadores apontam para uma demanda do consumidor persistentemente fraca, com o desemprego alto na Europa e nos EUA e problemas no setor imobiliário americano.
Agora, dois outros fatores podem amortecer a demanda no médio prazo. Primeiro é a consolidação fiscal deflagrada este ano e que deve se intensificar em 2012. A expectativa é que, com as medidas bilionárias de estímulo expirando, a política nos EUA se tornará mais restritiva.
Segundo: boa parte dos analistas continua vendo sério risco de mais choques financeiros. Existe ainda a forte probabilidade de rebaixamento no rating de crédito dos EUA, mas sobretudo a crise da dívida soberana na zona do euro pode voltar com força.
Os mercados receberam o acordo político sobre o teto da dívida nos EUA primeiro com alívio e depois com ceticismo. O sentimento é que o rating de crédito da maior economia do mundo poderá ser rebaixado, já que o corte proposto no déficit não será suficiente para realmente combater o problema.
No entanto, a expectativa é que, mesmo se os EUA perderem o rating AAA, os rendimentos dos títulos do Tesouro de dez anos já caíram muito e ficarão por volta de 2,5% ao final do ano. E o dólar é visto com perspectivas menos ruins que o euro. Já em relação ao franco suíço, o dólar caiu de novo ontem a um nível muito baixo. A moeda suíça, vista como refúgio seguro, valorizou 33% frente ao dólar e 22% frente ao euro em 12 meses.
Nos EUA, em todo caso, os dados apontam para uma queda importante nos ganhos das empresas este ano. No primeiro trimestre, o lucro foi superior a média de 11,8% que vem desde os anos 1960. Mas o desemprego por volta de 9% da população ativa reduz as perspectivas de mais negócios.
Na zona do euro, persiste o temor de que Espanha e Itália sejam mais afetados pela crise da dívida soberana. O modesto crescimento da região pode afetar mais a recuperação global em 2012 e 2013. A alta da inflação global, que preocupava os bancos centrais, poderá ser revertida assim que os preços de commodities se estabilizarem ou até caírem.
A taxa de desemprego na zona do euro sinaliza que o mercado de trabalho está enfraquecendo e que a economia europeia se desacelera. A taxa permaneceu em 9,9% da população ativa, estável há quatro meses, conforme dados anunciados ontem. Há 15,6 milhões de desempregados nos 17 países da zona do euro, 18 mil a mais em junho do que no mês anterior.
Levando em conta que o Índice de Gerente de Compras (PMI, em inglês) para emprego caiu em junho e julho, a conclusão é que as contratações estão diminuindo. Além disso, uma redução no emprego no setor privado deverá ser exacerbada pelos cortes de vagas no setor público em vários países.
Do Valor Econômico