Chineses diversificam e avançam em máquinas
De janeiro a maio de 2009, a exportação chinesa de escavadeiras com capacidade de carga maior que 19 metros cúbicos foi de US$ 253,1 mil. No mesmo período de 2010, saltou para US$ 7,4 milhões, e nos cinco primeiros meses deste ano alcançou US$ 22,9 milhões. Essas máquinas de alta capacidade são o sexto bem de capital mais importado pelo Brasil, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A China já é o quarto fornecedor mais importante desses equipamentos, atrás da Coreia do Sul, Japão e EUA.
O ritmo de crescimento das exportações de escavadeiras pelos chineses, porém, não foi acompanhado por nenhum dos demais países que estão à frente. Em 2009, Bélgica e Reino Unido vendiam ao Brasil mais máquinas dessa categoria do que a China. De janeiro a maio deste ano, o país asiático exportou ao Brasil mais que os dois países europeus juntos.
As escavadeiras são apenas um exemplo da evolução da exportação de bens de capital pelos chineses ao Brasil. Em 2005, a participação da China na importação de máquinas e equipamentos pelo Brasil era de 3,5%, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq). Em 2011, levando em conta o acumulado de janeiro a abril, a fatia já havia subido para 13,2%.
O percentual significa praticamente um empate com a posição atual da Alemanha. A diferença é que os alemães perderam participação no período -caíram de 17,8% para 13,7%. Os EUA continuam líderes, mas também tiveram sua fatia reduzida, de 31,6% para os atuais 25,2%.
Existem diferentes formas de classificação do que se considera bens de capital, mas a evolução da participação dos três países no fornecimento desses itens – incluídos no capítulo 84 da classificação do ministério – mostra a diferença de estratégia na pauta exportadora de máquinas e equipamentos desses fornecedores.
O capítulo 84 reúne reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos. Embora nem todos os itens do capítulo sejam classificados pelo ministério como bens de capital, é nele que se reúne boa parte das máquinas e equipamentos pesados.
Nesse capítulo, a Alemanha forneceu ao Brasil cerca de US$ 1,1 bilhão de janeiro a maio de 2009. No mesmo período deste ano, as vendas atingiram US$ 1,5 bilhão. A China forneceu valor igual ao da Alemanha em 2009, mas neste ano os desembarques originados do país asiáticos saltaram para US$ 2,5 bilhões – perto dos US$ 2,8 bilhões vendidos ao Brasil pelos EUA.
Levantamento da Abimaq feito para o Valor mostra as diferenças da pauta exportadora de máquinas e equipamentos entre os três países. A China, que antes fornecia mais máquinas para as indústrias de bens de consumo, tem aumentado a velocidade de exportação para a indústria de transformação e de base, começando a incomodar mais EUA e Alemanha.
Os EUA seguram a liderança com uma pauta mais concentrada. Segundo dados da Abimaq, a importação brasileira de equipamentos pesados para infraestrutura e indústria de base e de máquinas rodoviárias procedentes dos EUA somou US$ 1,1 bilhão, o que significa um terço do total de US$ 2,9 bilhões em máquinas e equipamentos.
“Os EUA mantêm uma pauta concentrada, e em suas exportações de máquinas e equipamentos pesados ainda há muito fornecimento para filiais de empresas americanas”, diz Welber Barral, sócio da Barral M Jorge Consultores e ex-secretário de Comércio Exterior. Assim, muitas dessas exportações ao Brasil são definidas pela matriz, que seleciona e contrata um fornecedor americano global para todas as subsidiárias da companhia no mundo.
Os EUA ainda estão bem à frente da China no fornecimento de máquinas para logística e para as indústrias de transformação e de base. A diferença relativa, porém, tem diminuído.
Diferentemente dos americanos, a Alemanha e a China têm uma pauta mais diversificada. Tradicionais fornecedores de bens de capital no mercado internacional, porém, os alemães têm perdido participação no fornecimento de bens e equipamentos, porque os chineses têm conseguido aproveitar mais a demanda brasileira aquecida para aumentar as exportações ao Brasil em maior velocidade.
Os chineses avançaram de forma significativa em bens como máquinas para movimentação de cargas, para a construção civil e para o setor agrícola. “Nesses equipamentos, os europeus têm perdido exportações para os chineses, principalmente em razão dos preços”, diz Barral.
De janeiro a maio do ano passado, o Brasil comprou da Alemanha US$ 134,9 milhões em máquinas para logística e construção civil. No mesmo período deste ano, o valor aumentou para US$ 182,4 milhões, com crescimento de 35,2%. No mesma categoria de máquinas e igual período de comparação, as exportação chinesa saltou de US$ 136 milhões para US$ 273,6 milhões, numa variação de 101,16%.
Paulo Eduardo Pinto, diretor da trading Transaex, explica que, hoje, os chineses exportam ao Brasil equipamentos pesados, para montagem de usinas de aço, de cimento e termelétricas, além de abastecer com máquinas segmentos da indústria de transformação. O executivo lembra que a China entrou nesses mercados pouco a pouco, muitas vezes como subfornecedor de integradores europeus, que eram contratados para organizar e montar toda a fábrica.
O fornecimento de equipamentos pela China foi aumentando em quantidade e qualidade, com a presença de componentes cada vez mais sofisticados, conta Pinto, e hoje as companhias chinesas já começaram a assumir o papel de integradoras, usando subfornecedores europeus e americanos. “O papel está começando a se inverter”, diz ele.
Do Valor Econômico