Greve geral na Espanha tem adesão de 10 milhões de trabalhadores

Sindicatos calculam que 70% dos trabalhadores no país estão paralisados

As confederações sindicais espanholas CCOO (Comissões Operárias) e UGT (União Geral de Trabalhadores) afirmaram nesta quarta-feira que cerca de 10 milhões de trabalhadores — dos 15,5 milhões que há no total — aderiram à greve geral que começou hoje na Espanha contra a reforma trabalhista e possíveis mudanças na previdência.

Em entrevista coletiva, os secretários de organização da UGT, José Javier Cubillo e da CCOO, Antonio del Campo, também denunciaram hoje “a agressividade física” que se está praticando contra os piquetes.

O secretário de comunicação do CCOO, Fernando Lezcano, alertou que “alguém disparou o gatilho esta noite”, em referência à advertência policial contra uma manifestação em uma fábrica em Madri.

Por parte do Governo, o ministro do Trabalho espanhol, Celestino Corbacho, destacou que as primeiras oito horas da jornada de greve transcorreram com “normalidade” e sem incidentes relevantes, salvo em algumas cidades nas quais os serviços essenciais não tinham sido cumpridos.

Os cidadãos estão exercendo tanto o direito à greve como o de ir trabalhar com as “incidências próprias” de um dia “desta natureza”, disse Corbacho. Ele acredita que os serviços essenciais possam ser restabelecidos naquelas cidades onde não estão sendo totalmente cumpridos.

O primeiro-ministro da Espanha, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, reiterou hoje sua oferta de diálogo com sindicatos e empresários sobre a reforma trabalhista e previdenciária.

O presidente da entidade patronal CEOE (Confederação Espanhola de Organizações Empresariais), Gerardo Díaz Ferrán, ressaltou que a greve só tem adesão onde há “piquetes coativos”.

Ferrán considerou que ainda é muito em cedo para saber o custo econômico da paralisação, mas afirmou que, de qualquer maneira, “todos os espanhóis” vão pagar e ela “será muito ruim para a Espanha”.

Às 7h local (2h de Brasília), somente 95 dos 234 voos previstos — 40% — foram registrados em funcionamento nos aeroportos da Espanha. Por enquanto, são mantidos os serviços essenciais pactuados com o governo para a jornada de greve geral, informaram fontes aeroportuárias.

Dos 57 voos previstos no aeroporto de Madri-Barajas, 32 funcionaram, enquanto em Barcelona 12 dos 28 programados o fizeram, segundo as fontes de AENA (Aeroportos Espanhóis e Navegação Aérea).

Reformas
No dia 9 de setembro, os deputados espanhois aprovaram uma lei para flexibilizar o mercado de trabalho, num contexto de elevadas taxas de desemprego, indicou o parlamento em um comunicado.
A reforma da previdência eleva a idade de aposentadoria dos atuais 65 anos para 67.

Em protesto contra a nova legislação, os dois principais sindicatos do país anunciaram a convocação da greve geral para hoje.

A reforma é considerada essencial para reativar a economia e combater a recessão, da qual a Espanha ainda não se livrou.

O governo socialista de José Luis Rodriguez Zapatero aprovou sua própria versão das reformas — que tornam mais fácil e barato para as empresas demitir funcionários — em junho, depois que as negociações com sindicatos e trabalhadores fracassaram.

O FMI (Fundo Monetário Internacional) indicou que a reforma trabalhista é “absolutamente crucial” para que a Espanha reverta a taxa de desemprego, que ultrapassou os 20% nos últimos meses, e combata o enorme deficit público.

Desemprego
No dia 24 deste mês, o governo espanhol revisou para cima sua previsão da taxa de desemprego para 2011, que estimou em 19,3%, quatro décimos mais do que tinha calculado no último quadro macroeconômico.
O Executivo, que mantém a estimativa de um crescimento da economia de 1,3% para 2011, também modificou para baixo sua previsão de investimento, que reduziu para 1,3% contra 1,5% calculado inicialmente.

Da Folha de S. Paulo