Casos de violência em Honduras cresceram após golpe de Estado, revela organização

Mais de um ano após o golpe de Estado contra o presidente Manuel Zelaya, os casos de violação de direitos humanos em Honduras cresceram, de acordo com COFADEH (Comitê de Familiares de Detidos Desaparecidos em Honduras), organização criada logo depois da crise institucional no país centro-americano.

Segundo Bertha Oliva, coordenadora nacional do COFADEH, na segunda-feira (30/8) a organização irá apresentar em um relatório sobre a situação dos direitos humanos em Honduras – feito entre 27 de janeiro e 31 de julho – que a violência hoje é maior do que na época do golpe.

“A situação que estamos vivendo agora é mais grave do que no início do golpe. Conseguimos comprovar que o número de casos supera em 45% os do período de crise. Há uma estratégia sistemática, seletiva e silenciosa para violar os direitos humanos em Honduras, o que nos preocupa muito”, relatou Oliva.

De acordo com a ativista, mais de mil casos de violência foram registrados no governo de Porfirio Lobo, entre eles, 23 assassinatos políticos, sendo que 11 por conflito de terra e um por abuso de autoridade. Além disso, mais de 170 hondurenhos tiveram de abandonar o país após ameaças de mortes –128 haviam sido apontados pelo CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos) como cidadãos em risco.

“O que pretende ser passado ao mundo, que tudo está bem em Honduras, é falso. É preciso arrancar a máscara do governo”, afirmou Oliva, que considera o presidente Lobo responsável pelo o que está acontecendo. “Da parte dele não escutamos sequer uma declaração pública exigindo o fim das perseguições e assassinatos. O que está nos matando é o silêncio. Precisamos fazer pressão, senão, morreremos.”

Em sua opinião, somente a atuação da comunidade internacional pode alterar o cenário de violência. Porém, ela não acredita que haverá pressão sobre o governo atual. “Boa parte dos países não considera o tema dos direitos humanos como um elemento essencial e prioritário. Muitos já aceitaram a volta de Honduras às instâncias internacionais”.

No final de julho o SICA (Sistema de Integração Centro-americano) reintegrou Honduras ao bloco, mesmo com a desaprovação de um dos membros, a Nicarágua. Na mesma linha, países como El Salvador, Costa Rica e os Estados Unidos pressionam para a reintegração de Honduras à OEA (Organização dos Estados Americanos).

Em documento recente, o COFADEH pede à comunidade internacional “para que se inicie urgentemente a investigação e posterior tomada de providências quanto aos graves episódios de violação dos direitos humanos cometidos no governo de Lobo Sosa  contra o povo hondurenho”.

Exemplos
Dois grupos bastante afetados pela violência em Honduras, segundo Oliva, são os jornalistas e professores. No último dia 24 de agosto, Israel Zelaya Díaz, locutor da Rádio Internacional, se tornou o nono jornalista a ser assassinado em 2010 em Honduras. Seu corpo foi encontrado próximo à cidade de San Pedro Sula, com marcas de balas de revólver.

Recentemente, durante uma assembleia do Sindicato dos Jornalistas, Zelaya Díaz havia denunciado uma tentativa de assassinato contra ele, após desconhecidos terem ateado fogo em sua casa

Em comunicado emitido na quarta-feira (25/8), o IPI (Instituto Internacional de Jornalismo), por meio do chefe do departamento de liberdade de imprensa da entidade, Anthony Mills, afirmou que “apesar de o motivo do ataque contra Zelaya ainda não estar claro, é preciso sublinhar que de novo Honduras se converteu em um dos países mais perigosos para jornalistas no mundo”. Em 2009, cinco jornalistas foram mortos, segundo o IPI. Entre 2000 e 2008, somente dois jornalistas perderam a vida por causa do ofício.

Leia relatório feito pelo IPI um ano após o golpe em Honduras

A violenta repressão contra os professores pode ser vista no último dia 19 de agosto, após uma manifestação ser violentamente reprimida, deixando um saldo de quatro pessoas feridas e 10 presas.  Atualmente, mais de 60 mil professores estão em greve nacional para exigir que o governo pague salários e aposentadorias atrasados. Os grevistas pedem também a restituição de 10 diretores que foram demitidos após o golpe de Estado.

Do Opera Mundi