Brasil e EUA afirmam que eleições não bastam para superar crise hondurenha

Os dois países também concordaram em que Roberto Micheletti, que preside o Governo de fato instalado em junho, "deve partir

O Brasil e os Estados Unidos concordaram hoje em que Manuel Zelaya continua sendo o presidente legítimo de Honduras e que as eleições realizadas nesse país em novembro não bastam para superar a crise, disseram fontes oficiais brasileiras.

Também concordaram em que Roberto Micheletti, que preside o Governo de fato instalado em junho, “deve partir”, disse o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência brasileira, Marco Aurélio Garcia, após receber o secretário de Estado adjunto americano para a América Latina, Arturo Valenzuela.

“Há pequenas diferenças sobre a eleição, mas concordamos em que não são condição suficiente para a normalização democrática”, disse García, cujo Governo não reconhece o processo eleitoral nem seus resultados.

Outro ponto de concordância expressado pelos dois, segundo García, é que “seria fundamental que possa ser concedido um salvo-conduto” que permita a Zelaya deixar a Embaixada do Brasil em Tegucigalpa para “seguir adiante” e “ter os contatos políticos necessários” para buscar uma saída para a crise.

“Os Estados Unidos mantêm a mesma posição que manteve na Organização dos Estados Americanos (OEA) e considera Zelaya como o presidente legítimo de Honduras”, disse o assessor.

Garcia disse a jornalistas que, segundo a opinião expressada por Valenzuela, Washington acredita que as eleições vencidas por Porfirio Lobo “podem criar um cenário propício” para “começar” a superar a crise após a deposição de Zelaya, em junho.

“A preocupação dos Estados Unidos e do Brasil é que o episódio hondurenho não seja um precedente que desestabilize a América Latina e, particularmente, a América Central, onde os processos democráticos são mais recentes”, disse Garcia.

Segundo o funcionário, Estados Unidos e Brasil criarão um “mecanismo de consulta” para manter um “estreito contato” sobre a situação em Honduras.

Garcia disse que a crise hondurenha foi o fator dominante na reunião com Valenzuela, na qual também foram tratados outros assuntos da agenda latino-americana.

Afirmou que, nesse marco, reiterou “a impressão” brasileira de que o possível uso pelos Estados Unidos de bases militares em solo colombiano “não é um fator positivo” e que “sugeriu” a Washington que busque um diálogo mais direto com alguns países da região, para “eliminar as guerras de declarações”.

Também repassaram a aproximação do Brasil com o Irã, e Garcia reiterou que a intenção do Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é buscar uma fórmula para que esse país “tenha um papel positivo no Oriente Médio e se submeta às normas internacionais sobre o uso pacífico da energia atômica”.

Valenzuela, que hoje inicia em Brasília uma viagem que o levará também à Argentina, Uruguai e Paraguai, avaliou o encontro com o assessor de Lula como “muito construtiva”.

O funcionário americano, em breves declarações, disse que se sentiu “muito impressionado” com as concordâncias “em aspectos fundamentais das relações e os pontos de vista semelhantes em relação a diversos assuntos hemisféricos”.

 

Da EFE