Memória: Há 47 anos ditadura militar tentava acabar com movimento sindical

Às 20h30 do dia 31 de março de 1964 policiais invadiram a sede do nosso Sindicato, uma casa no atual endereço, espancaram o vigia e entraram no prédio quebrando e destruindo o que encontravam pela frente e levando embora equipamentos gráficos e arquivos.

Nesse dia e nos seguintes ao golpe militar que depôs o presidente da República João Goulart cerca de 2.000 sindicatos sofreram intervenção, tiveram suas diretorias cassadas, perseguidas, presas e exiladas.

Esses sindicalistas, muitos deles militantes comunistas, e outros opositores ao golpe, deixaram o País para não serem presos, desarticulando qualquer tipo de resistência.

Os militares colocaram no comando dos sindicatos interventores do Movimento Sindical Democrático, um grupo de sindicalistas de direita que havia apoiado o golpe. Eles imprimiram um caráter assistencialista nos sindicatos, acabando com a organização operária.

Com isso, os militares conseguiram desarticular os movimentos operários e populares, que eles consideravam como as principais forças políticas do País em condições de resistir ao golpe.

Os opositores à ditadura só retornaram ao País ou saíram da clandestinidade em 1979, com a aprovação da lei da anistia. A ditadura acabou somente em 1985.


Orisson: “Cai na clandestinidade e saí do País”

“Para fugir da prisão, eu saí para a casa de um amigo. Fiquei lá por uns dois dias e ainda fui para a porta da fábrica distribuir panfletos. Também tivemos um enfrentamento com a polícia perto da Mercedes, demos uns tiros e os soldados ficaram com medo. A polícia começou a prender o pessoal e perguntar onde eu estava. Fiquei numa situação difícil. Encontrei o Aníbal, militante do Partido Comunista, e fui para a casa dele. Como estava na clandestinidade e podia ser preso, saí do País”.

Orisson Saraiva de Castro, secretário geral do Sindicato na época, viajou para o Maranhão, depois trabalhou num garimpo em Porto Velho, foi para Bolívia e depois retornou ao Brasil, sempre clandestino.  Em 1972 foi para o Chile, passou pelo Panamá e viveu alguns anos em Moçambique.


Zé Fernandes: “Vivi 15 anos na clandestinidade”

‘Eu estava na União Soviética fazendo curso sobre reforma agrária e soube do golpe pelo rádio. Não podia voltar para não ser preso e acabei ficando lá um ano. Depois voltei e vivi 15 anos na clandestinidade. Como não podia aparecer em minha casa, que todo mês era visitada pela polícia, fui para Marília porque tinha um grupo de militantes comunistas. Em 1968, perdi uma reunião de membros do partido marcado para uma casa em Santo Amaro, na capital, por causa de desencontro com a pessoa que me levaria para lá. No local houve um confronto entre a polícia e o pessoal que estava na casa. Morreram bastante companheiros, acho que uns 10. O Anacleto Potomatti, que presidia o Sindicato, foi preso, espancado e ficou cerca de 15 dias detido no Deops. Depois de solto não encontrava mais emprego e mudou-se para Barra Mansa, no Rio”.

José Fernandes, 1º secretário do Sindicato.


Rolando: “Botaram minha cabeça a prêmio”

“Tive de passar para a clandestinidade imediatamente, botaram a minha cabeça a prêmio e ofereceram 100 contos pelo rádio para quem indicasse onde me achar. Eu me mudei para São Paulo na clandestinidade até que em maio de 1969 a polícia me encontrou”.

Rolando Fratti, metalúrgico em Santo André, militante do Partido Comunista e depois membro da coordenação nacional da Aliança Liberadora Nacional (ALN). Em 1969 saiu da prisão trocado pelo embaixador americano seqüestrado, foi para o México, depois Cuba, Itália e Chile.

Da Redação