Memória: Greve cancelou demissões anunciadas pela Autolatina

Movimento completou 20 anos nesta semana


Passeata na Ford. Foto: Roberto Parizotti

Em 1991, assim que a direção da Autolatina, holding que reunia a Ford e Volks, anunciou a demissão de 3.550 companheiros nas fábricas de São Bernardo, os trabalhadores desligaram as máquinas e só retomaram a produção quando as dispensas foram suspensas.

O País atravessava uma grave recessão desde que o então presidente Collor baixara pacote econômico congelando os preços e acabando com a política salarial. Os mais penalizados foram os trabalhadores, que amargavam demissões e arrocho salarial.

Foi nesse quadro que, no dia 17 de fevereiro, a Autolatina alegou queda nas vendas e avisou que iria demitir, colocando os trabalhadores na Ford Ipiranga em licença remunerada.

Imediatamente os trabalhadores na Ford e Volks iniciam a resistência. Realizam passeatas, param a Anchieta, fazem manifestação em frente aos prédios da Autolatina e da Fiesp.

Vicentinho, então presidente do Sindicato, propõe a redução da jornada de 44 para 40 horas semanais, sem redução de salário, como alternativa às demissões. A Autolatina respondeu que era uma proposta inaceitável.

No Congresso Nacional, o dirigente mostrou que os salários pesavam apenas 3,6% no preço final dos veículos das montadoras. Para Vicentinho, as demissões seriam uma forma de a Autolatina forçar o governo a descongelar os preços dos carros e reduzir os impostos do setor automotivo.

A greve durou uma semana, até a Autolatina cancelar as demissões e abrir um pacote.

O envolvimento de trabalhadores de várias fábricas na Ford e na Volks na greve foi um ganho político, na avaliação de João Ferreira Passos, o Bagaço, da Comissão de Fábrica na Ford e diretor do Sindicato entre 1990 e 1999.
“Foi a primeira vez que fizemos uma greve conjunta com o pessoal na Ford Ipiranga”, disse.


Ele lembrou que o anuncio da suspensão das demissões foi um dos momentos mais felizes para os metalúrgicos dessas duas fábricas.


Passeata na Volks

União foi o segredo da vitória
“A partir daquele momento, a gente passou a ter um elo com os trabalhadores do Ipiranga e também com os companheiros de Taubaté, com quem tínhamos entrado em contato”, recordou.

“Essa união entre os trabalhadores de várias fábricas fez com que a resistência fosse vitoriosa”, concluiu Bagaço.

Da Redação