Memória: Trabalhadores pararam a Ipiranguinha em 1906
Movimento permitiu avanço do movimento sindical
Imagem da lateral da fábrica na época. Crédito: Reprodução
Em fevereiro de 1906, os cerca de 500 operários da fábrica de tecidos Silva, Seabra & Cia., mais conhecida como tecelagem Ipiranguinha, entraram em greve por melhores condições de trabalho.
Essa é a primeira paralisação de importância que aconteceu na região, justamente na maior fábrica do ABC, dentro de uma onda de greves que havia começado no ano anterior em diversas categorias, todas elas por melhores salários e jornada menor, entre outras reivindicações.
O movimento na Ipiranguinha começou depois que o patrão reduziu o salário de 170 mil réis para 90 mil réis mensais, manteve o horário das 5h30 às 18h30, com uma hora de almoço, e passou a exigir a produção de 40 metros de pano todo dia, sob pena de demissão.
A greve foi puxada pelos 150 tecelões, que eram os operários qualificados da fábrica. A empresa ficava na avenida Perimetral, junto ao antigo Caminho do Pilar, e ganhou o apelido do bairro.
A Ipiranguinha não quis negociar, proibiu o acesso dos grevistas ao armazém para a compra de alimentos e chamou a polícia, que na época era conhecida como força pública.
A greve ganhou o apoio da recém fundada Federação Operária de São Paulo, de tendência anarquista.
Os grevistas fizeram passeatas pelas ruas da cidade arrecadando contribuições para comprar alimentos e manter o movimento. A polícia reprimiu o movimento, prendendo e espancando os líderes.
Depois de três semanas, a direção da Ipiranguinha anunciou a demissão de todos os grevistas, suspendeu o trabalho do departamento de fiação e fechou a fábrica por tempo indeterminado. Em seguida, anunciou que iria trazer tecelões de Tatuí, cidade do interior do Estado, para reabrir a tecelagem.
Esse foi o golpe final no movimento. Quem lembra é Angela Rosa Lombardi, conhecida por Rosina. Ela havia sido admitida em 1900, com apenas dez anos de idade, e participou da greve.
“Os operários estavam passando necessidade, pois o comércio local já não fornecia mais alimentos aos grevistas. Quando os operários souberam que a direção da fábrica havia resolvido trazer operário de Tatuí para ocupar o lugar dos grevistas, a greve acabou”.
Depois de 35 dias de greve os trabalhadores retornaram ao trabalho sem ver as reivindicações atendidas. Os lideres já haviam sido presos e demitidos.
Operários tinham influência anarquista
No início do século 20, o País tinha uma economia predominantemente agrícola, baseada nas culturas do café, açúcar, algodão e cacau. Aqui na região, quando os primeiros imigrantes europeus chegaram para substituir a mão de obra escrava, em 1877, havia grande número de carvoarias, serrarias e olarias.
Eles foram trabalhar como operários nas indústrias que estavam sendo criadas e trouxeram forte influência do anarquismo. Em 1903 foi fundado o Círculo Socialista de São Paulo e dois anos depois foi a vez da Federação Operária.
A greve na Ipiranguinha, se não teve as reivindicações atendidas, foi mais um passo na organização dos operários.
Em 1906, ferroviários, gráficos, chapeleiros, sapateiros e metalúrgicos fazem greve por jornada de oito horas diária. Em maio do ano seguinte cerca de 10 mil operários do Estado cruzam os braços pelas 8 horas e a conquista é estendida aos pedreiros, carpinteiros, sapateiros, canteiros, gráficos, chapeleiros, costureiras, limpeza pública, metalúrgicos e marceneiros.
A greve também teve um saldo político positivo, com a criação de organizações operárias, entre elas a Liga Operária e o Centro Operário de São Bernardo.
Em 1908, foi fundada a União Internacional dos Canteiros de Ribeirão Pires, reunindo trabalhadores que produziam as pedras para o calçamento das ruas e guias. De orientação anarquista, a entidade ajudou a sustentar a luta operária da região durante a Primeira República.
Da Redação