Memória: Há 51 anos, 500 mil trabalhadores protestaram contra a fome em SP

População sofria com a carestia dos preços dos alimentos


Crédito: “São Paulo: metrópole em trânsito : percursos urbanos e culturais”.
Ed. Senac – 2004

Secas no Nordeste e enchentes no Sul provocaram um aumento 40% no custo de vida no País em 1959. Faltava alimento para a população, mas os comerciantes escondiam suas mercadorias para impor o aumento de preços.

Sindicalistas denunciavam a situação. O secretário geral dos Metalúrgicos de São Paulo perguntava quem era o responsável pela fome, a nudez, a tuberculose e a miséria que rondavam os lares das modestas famílias dos trabalhadores paulistas.

O presidente do Sindicato dos Têxteis, Nelson Rustici, dizia: “O povo está passando fome. Há milhares de trabalhadores que comem apenas feijão, todos os dias”.

Apesar dos apelos o governo não tomou qualquer atitude. Revoltados, sindicatos e associações de moradores marcaram uma greve que reivindicava a intervenção nos frigoríficos para garantir o abastecimento de carne, feijão, arroz e óleo a preços tabelados e a isenção de impostos sobre artigos de primeira necessidade.

Ilegal
Há exatos 51 anos o movimento foi deflagrado. No dia 2 de dezembro, 500 mil trabalhadores cruzaram os braços em São Paulo.

Para surpresa geral, Juscelino Kubitschek, um dos presidentes mais democráticos da história do País, declarou a greve ilegal.

A população não aceitou a decisão e parou a cidade, saqueando depósitos e armazéns.

Movimento cresce até a ditadura
A greve dos 500 mil, como a mobilização ficou conhecida, marcou a mudança de lutas específicas da população por melhorias urbanas para uma luta articulada e mais geral, aproximando as associações de bairro do movimento sindical e estimulando a formação de novas organizações populares.

Enquanto as Sociedades Amigos de Bairro tinham reivindicações como abastecimento e barateamento do custo de vida, criação de hospitais, iluminação pública e teatro, as pautas dos sindicatos eram a luta contra a carestia, aumento de salário, defesa da previdência social e cumprimento da legislação trabalhista.

Golpe militar
O movimento grevista também reafirmou a liderança do Pacto de Unidade Intersindical, que havia sido criado em 1953 apesar da proibição de articulação entre sindicatos de diferentes ramos da produção.

Essa articulação entre associações de bairros e sindicatos contra a exploração, a fome e pela ampliação de direitos ampliou conquistas e transformações sociais, que foram crescendo até serem reprimidas pelo golpe que os militares deram em 1964, jogando o País em uma ditadura que durou 21 anos.

Da Redação