Acabar com rotatividade e precarização são prioridades

 


Foto: Roberto Parizzoti


Eduardo Guterra (CNTT), Regina Cruz (CNTV), Juvândia Leite (presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região), Sérgio Nobre (secretário-geral da CUT), Vagner Freitas (presidente da CUT), Alci Araújo (Contracs) e Carlos Cordeiro (presidente da Contraf) durante abertura do encontro.

Dividir as experiências de negociação coletiva, reverter a precarização do trabalho e articular a organização dos trabalhadores para discutir a conjuntura e a política. Esses foram os pontos principais que as lideranças dos macrossetores de comércio, serviços e logística destacaram na abertura do encontro.

Em sua intervenção, o presidente da Central, Vagner Freitas, explicou que o objetivo dos debates é falar para além do universo cutista.

“Se não entendermos como funciona a economia teremos dificuldade em fazer propostas plausíveis para melhorar a vida dos trabalhadores.”

O dirigente mandou ainda um recado aos “sindicalistas” que se aproveitam das reivindicações legítimas dos portuários, contrários à Medida Provisória 595/2012 – que precariza as relações trabalhistas e gera disputa desleal entre portos privados e públicos –, para garantir visibilidade eleitoreira. Clique aqui para saber mais.

“Na mesa de negociação o Paulinho da Força quer discutir a cargo de quem ficará a administração, se da União ou do Estado, e esse tipo de debate é para quem defende interesses de grupos econômicos específicos ou tem interesses eleitoreiros. Nós iremos fazer uma interlocução dentro do governo, ao mesmo tempo em que mobilizaremos a categoria para a greve, caso seja necessário”, questionou.

Crise e economia
O jornalista Luís Nassif, que mediou a mesa seguinte, ressaltou que o Brasil passa por um processo de inclusão em todos os níveis e setores, inclusive político, graças à internet e às redes sociais.

“Antes, a pauta econômica passava pelo filtro da mídia, que são aqueles quatro grupos de comunicação – Organizações Globo, Grupo Folha, Editora Abril e Grupo Estado. Hoje, todos estão discutindo esse tema na internet. Por isso o movimento sindical tem a missão de ser protagonista nesse processo”, disse.

O professor Antônio Lacerda da PUC-SP também destacou o papel da mídia como defensora dos poderosos grupos econômicos e apresentou dados que desmentem um suposto cenário de estagnação da economia vendida pela velha imprensa. Segundo ele, não há desajuste fiscal e a inflação no Brasil está na média de outros países em desenvolvimento.

Porém, em um recorte específico sobre a exportação de produtos de maior valor agregado, ele comentou que o Brasil continua exportando matéria-prima para importar industrializados, em um cenário de indústria estagnada.

“O desafio é fazer ajustes que passam por um agenda de queda de juros com câmbio desvalorizado, política industrial, política regulatória, investimento em infraestrutura, educação e pelo incentivo à capacidade de inovação das microempresas. Precisamos aproveitar o enorme potencial de consumo para ampliar a produção de valor agregado local.”

Lacerda defendeu que o país siga o exemplo dos bancos centrais da Europa e dos EUA e continue cortando os juros – que atingiram o nível histórico mais baixo – para diminuir o custo do crédito ao consumidor, da dívida do Estado e produzir uma realidade mais favorável ao investimento.

Cenário positivo –Contrariando a velha mídia, Lacerda acredita que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro vai ser maior a partir de 2013. Se em 2012, fatores externos como a crise na Europa e a desaceleração chinesa, além de internos, como a quebra da safra por conta da seca no Sul e Nordeste resultaram em um “pibinho”, em 2013 será justamente o potencial de crescimento o responsável pela recuperação.

“Todos os setores estão ampliando investimento no Brasil porque há gargalos.”

No cenário internacional, ele aposta na recuperação gradual do EUA e na busca por mercados com maiores taxas de expansão. No Brasil, na reativação da demanda e na equação desemprego baixo/massa salarial real crescente.

Em períodos de emprego pleno, como esse pelo qual passa o Brasil, o professor destaca que a qualificação profissional deve ser preocupação constante para as lideranças sindicais.

“Nosso desafio em relação ao emprego é mais qualitativo do que quantitativo, ao contrário da Europa, que tem alto nível de desemprego devido à crise e precisará gerar postos antes de pensar em qualificá-los.”

O papel do BNDES 
Lacerda alerta ainda para a responsabilidade do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) sobre a democratização nas relações trabalhistas.

“Cada vez mais há o processo de substituição de empresas locais por globais, a desnacionalização. O centro de decisão não está mais no país, o trabalhador não conhece o patrão e o papel do BNDES deve ser também de apoiar empresas que mantenham suas sedes aqui.”

Para Antônio Lacerda, perspectivas são boas, mas Brasil deve investir em infraestrutura e tecnologia para exportar produtos de maior valor agregado
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Precarizar para lucrar

Presidente da Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), Carlos Cordeiro, também abordou a rotatividade e destacou que no setor bancário, a maior parte das vagas pagavam entre um e um e meio salário mínimo.

De acordo com o o dirigente, entre 2004 e 2011, apesar dos ganhos reais conquistados a cada campanha salarial, não houve mudança no salário médio por conta da demissão de bancários experientes para contratação de outros ganhando menos.

Segundo ele, discutir a convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) – contra demissão imotivada – é essencial.

“No Brasil, o Santander é responsável por 25% do lucro de toda a rede e cortou 1.400 postos de trabalho.”

Ainda no ramo financeiro, Cordeiro destacou a precarização dos serviços por meio da transferência do papel dos bancos para correspondentes como lotéricas e correios.

“O trabalhador faz o papel de bancário, mas ganhando o equivalente a 25% do salário.”

Para o dirigente, que defende critérios sociais para definição da taxa de juros pelo Comitê de Políticas Monetárias (Copom), dois grandes passos podem fazer com que as discrepâncias do sistema financeiro sejam discutidas com seriedade: a criação de um Observatório do Sistema Financeiro, já em fase de implementação, e a Conferência Nacional do Sistema Financeiro, proposta que parece ter sido em recebida pela presidenta Dilma Rousseff, para quem reserva também críticas.

“Os grandes projetos do país ainda são pensados, mas não colocados na mesa para discutir com os trabalhadores.”

Também para o presidente da Confederação dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (Contracs), Alci Araújo, é preciso maior equilíbrio na relação entre patrão e empregado o macrossetor.

“A economia vai bem, mas não conseguimos o mesmo crescimento do empresário. Ainda enfrentamos extensas jornadas e a rotatividade atinge de 30% a 55% do trabalhador do comércio. O momento de crescimento do PIB, em 2013, deve ser também de melhores condições de trabalho.”

 

Da CUT