Gráficos de São Paulo vão à Justiça para retomar sindicato invadido pela Força

Desde o último dia 29, funcionários da Força Sindical permanecem na sede do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Gráficas do Estado de São Paulo (Stig), na região central da capital paulista. A invasão ocorreu por após os trabalhadores se desfiliarem dessa central e ingressarem na CUT.

Com medo da situação, os funcionários da entidade estão em casa e os cursos foram suspensos.

Na manhã desta quarta-feira (31), representantes da Central Única dos Trabalhadores e da direção dos gráficos foram até o local para tentar o diálogo. Porém, em mais uma demonstração de repúdio à democracia e desrespeito à categoria, resolveram permanecer.

“Pedimos para que os seguranças e ‘bate-paus’ lá presentes deixassem o lugar para que pudéssemos ingressar, mas fomos impedidos disso. Tivemos que acionar a polícia, que compareceu e identificou as pessoas. São funcionários da Força contratados para criar essa confusão, que sequer são gráficos”, disse Marcelo Fiorio, secretário de Organização Sindical da CUT-SP.

Diante disso, o Stig registrou um Boletim de Ocorrência e ingressará com uma ação de reintegração de posse do prédio. Porém, é importante destacar, mesmo com os problemas o trabalho na base continua, com apoio da CUT. “Independente disso, estamos desenvolvendo o trabalho. Os dirigentes estão nas bases conversando com os trabalhadores, contando esses fatos, discutindo as pautas da campanha salarial e informando que o sindicato está atuando normalmente, por enquanto, na sede da nossa central. O sindicato não é o edifício, mas sim a vontade dos trabalhadores e trabalhadoras gráficas se organizarem livremente”, explica o dirigente.

Olha o golpe
No último dia 13, por ampla maioria, a direção executiva do Stig decidiu pela desfiliação da Força e filiação à CUT. Porém, diante das ameaças e da pressão, parte da diretoria resolveu em uma reunião no dia 20 fazer uma reunião e protocolar uma ata com uma série de denúncias contra o presidente da organização, Márcio Vasconcelos.

O objetivo era desestabilizar o dirigente e a seguir, esse grupo ingressou com uma ação na Justiça pedindo o afastamento de Vasconcelos. A tentativa de golpe, porém, foi identificada pela juíza do Trabalho, Juliana Nagase, que indeferiu o pedido, conforme comprova o documento ao lado. Observa a magistrada que seria necessária uma assembleia geral extraordinária com a presença e aprovação da maioria absoluta dos associados para que isso acontecesse.

“A luta deve ocorrer na base e a base já respondeu dizendo que quer a continuidade da campanha salarial continue e demonstrou quem deseja que a representa”, indica Fiorio.

Ele refere-se à assembleia do último domingo, dia 28, um dia antes da invasão. Na ocasião, os trabalhadores definiram as reivindicações e estratégias para a campanha salarial deste ano e referendou a filiação à Central Única dos Trabalhadores.

Porque a truculência
Desde que decidiu filiar-se à CUT, a direção do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Gráficas de São Paulo passou a sofrer com ameaças. A assembleia que iria dar início à campanha salarial, no dia 13, não pode acontecer por conta da ação violenta de pessoas ligadas à Força, que impediram a realização do encontro.

Na tarde do dia 25, uma bomba foi atirada contra a sede da entidade por pessoas não identificadas.

Além disso, o presidente Marcio Vasconcelos afirmou durante a cerimônia de filiação à CUT que muitos diretores recebiam ameaças, sendo inclusive intimidados ao dialogar com a base nas portas das empresas.

Tanta violência tem um motivo simples: com 89 anos de história, o Stig é o maior sindicato de gráficos da América Latina, com 50 mil trabalhadores na base e 17 mil filiados. Mais do que a importância histórica, representa um grande prejuízo para quem está preocupado com os dividendos que o imposto sindical traz.

E foi justamente a luta que a CUT  trava pelo fim da cobrança desse mecanismo que financia muitas entidades sem qualquer representatividade que influenciou a decisão do sindicato. “Nascemos lutando por liberdade e autonomia sindical, contra o poder normativo da Justiça do Trabalho, contra o imposto sindical. Os gráficos começaram a enxergar a diferença entre nós e as demais, principalmente a Força. E a celebração do Paulinho da Força no 1.º de Maio, dizendo que quem não defendia o imposto era contra o movimento sindical, foi a gota d´água”, lembra Marcelo Fiorio.

A invasão do sindicato apenas reforça o que defende a CUT: para que tenhamos um movimento sindical mais democrático e realmente representativo, a liberdade, a autonomia sindical e o fim do imposto substituído por uma contribuição negocial definida em assembleia são essenciais.

Da CUT Nacional