Trabalho e cidadania começa com empolgação

Curso inaugurado nesta terça-feira, 20, contou com a participação de 20 metalúrgicos da Mercedes Benz

Rossana Lana

Participantes recebem diploma do curso

Companheiros e companheiras na Mercedes Benz estrearam o programa Trabalho e Cidadania organizado pelo Sindicato para os metalúrgicos do ABC dedicarem um dia inteiro à sua formação. 

A inauguração ocorreu na sede da Federação Estadual e Confederação Nacional dos Metalúrgicos (FEM e CNM) da CUT e já existem mais 120 trabalhadores na montadora inscritos para o curso. Na Ford, outra empresa que aderiu ao Programa, as inscrições ainda estão sendo fechadas.

“O mundo mudou. O sindicato, as empresas e o Estado mudaram ao longo dos últimos 30 anos. E o trabalhador, mais jovem, não conhece essa evolução”, disse Sérgio Nobre, presidente do Sindicato, para falar da necessidade do dia de formação.

A liberação dos trabalhadores na base para ter um dia livre, pago pela empresa, para se dedicar a atividades de formação foi uma das principais conquistas da Campanha Salarial do ano passado.

“O emprego cresce e o trabalhador que entra é cada vez mais jovem. Daí a necessidade desse contato mais próximo”, afirmou Nobre.

Formação
Quase 20 mil trabalhadores da indústria automobilística do ABC têm menos de 24 anos de idade. A parcela dos que têm mais de 40 anos, ainda maioria – representando cerca de 35% do total – perde espaço. Na Mercedes, a média de idade do trabalhador, segundo dados do sindicato, é de 32 anos.

“Isso quer dizer que a maioria nasceu no fim dos anos 1970, justamente quando ocorreram as grandes greves e os conflitos do sindicato com as empresas e o Estado. Agora a situação é completamente diferente das últimas três décadas”, comentou Walter Souza, membro do comitê sindical na Mercedes e coordenador do curso.

A avaliação dos participantes


Marcelo Lima de Almeida, 24 anos de MBB, cipeiro, operador de dinamômetro:
“Vim para escutar, participar desse momento rico pelo contato com os trabalhadores. Não que esse contato não exista na fábrica, mas aqui são os trabalhadores que norteiam. São eles que dão o ritmo e não a produção”


Bruna Levitzchi Natal, montadora na montagem final do caminhão pesado, 25 anos de idade, ex-estagiária da administração:
“É meu primeiro contato com o Sindicato. Estou adorando. Tem muita gente que critica, mas na hora de participar das atividades se recusa, não faz nada. É muito fácil julgar assim. Eu, por exemplo, não conhecia a atuação do Sindicato, mas vim aqui. Tô curtindo muito conhecer as lutas e tudo o mais”.


Claudio Anerão, 10 anos de MBB, analista financeiro:
“Espero que o curso se estenda a outros trabalhadores na fábrica porque o pessoal mensalista pouco vai às assembléias. Inclusive porque existe muita pressão contra essa participação. Na realidade, isto aqui não é um curso. É um bate papo, uma oportunidade agradável de conhecer melhor o Sindicato, saber o que acontece nos bastidores. Conhecer melhor, para cobrar mais, também. Às vezes as pessoas não cobram por não conhecerem seus direitos”.


Antonio Carlos Gomes da Silva, 13 anos de MBB, operador de dinamômetro:
“Apesar do pouco tempo, consegui agregar valores que não tinha noção por não ter esse contato direto com o Sindicato. É muito comum quem está de fora prejulgar, julgar e condenar, muitas vezes sem ter propriedade do que realmente ocorre. Isso acontece porque de seu posto de trabalho os companheiros não dispõem desse tempo que tenho aqui. Por isso espero que esse curso se espalhe pela fábrica, que outras pessoas também tenham uma visão mais real do funcionamento do Sindicato. Quem não conhece, pensa que as coisas acontecem do nada, que as negociações são fáceis. Aqui, aprendemos que existe controle, hierarquia, funções específicas. Quem está na fábrica pensa que uma figura, um representante é o Sindicato. Temos que desmistificar isso. Por mais que essa pessoa seja importante, por trás dela existe todo um aparato para sua atuação. São os departamentos do Sindicato, como eu aprendi hoje, aqui. Não que esse aprendizado impeça uma eventual crítica ou elogio. Mas se isto ocorrer, será bem fundamentado. Além de tudo isso, cursos com esse permitem uma interação com os companheiros que não é possível acontecer na fábrica. É uma interação profissional também. Quando eu for na seção de algum companheiro que está aqui, saberei a quem procurar”.


Álvaro Michelin, 21 anos de MBB, técnico de fabricação de protótipos:
“Este curso é uma oportunidade única. As idéias que as pessoas têm do Sindicato nem sempre são verdadeiras. Tenho colegas que detestam a entidade. E o Sindicato não é como eles pensam. Saio daqui conhecendo melhor o Sindicato, inclusive com mais argumentos para debater com pessoas céticas que criticarem a entidade”.


José de Souza Silva Filho, o Fofão, 24 anos de MBB, trabalha na montagem de chassis de ônibus:
“Nunca tive oportunidade de participar de um curso do Sindicato. É ótimo. Já participei de assembléias ou palestras na Sede, mas é a primeira vez que sou convidado para uma atividade como esta, com um dia inteiro à disposição como hoje. Isso é fantástico. Vou levar tudo que ouvi para os companheiros na seção porque eles estão muito curiosos para saber o que houve aqui hoje”.