Após 33 dias de mobilização dos Metalúrgicos do ABC, Makita cede e assina acordo

Documento assinado na 2ª Vara do Trabalho de São Bernardo do Campo garante pacote extra de benefícios para os 285 profissionais dispensados pela multinacional japonesa, que fechou sua fábrica no ABC

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a Makita, unidade de São Bernardo da multinacional japonesa, firmaram acordo judicial, na tarde desta quarta-feira (07). Com a mediação do juiz Pedro Rogério dos Santos, titular da 2ª Vara do Trabalho do município, o acordo garantiu indenização extra aos 285 trabalhadores demitidos no mês passado, após serem informados de que a fábrica seria fechada.

Pelo acordo, além do pagamento das verbas rescisórias garantidas por lei, os trabalhadores vão receber um salário por ano trabalhado, com teto de R$ 25 mil. Segundo, Adriana Terra, coordenadora do Departamento Jurídico do Sindicato, este item do acordo atende a 80% dos funcionários da empresa.

O seguro médico e odontológico foi estendido de três para seis meses para funcionários e seus dependentes. Os trabalhadores que têm estabilidade – período pré-aposentadoria, portadores de doença ocupacionais e gestantes, entre outros – terão seus casos negociados individualmente, conforme convenção coletiva da categoria e legislação em vigor.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, afirmou, após a assinatura do acordo, que “uma etapa importante da luta foi vencida hoje, porque os trabalhadores da Makita vão receber além dos seus direitos legais, mas a luta continua porque a outra etapa é recolocar esses profissionais no mercado de trabalho. “As chances são boas porque a economia e os empregos vivem um momento de recuperação no Brasil”, disse o dirigente.

O diretor da Executiva Moisés Selerges, coordenador de Base de São Bernardo, que acompanhou os trabalhadores durante os 33 dias de manifestações e protestos, parabenizou a todos pela persistência e à militância do sindicato pela solidariedade”. Este problema todo poderia ter sido evitado, se tivesse havido transparência, compromisso com os trabalhadores e responsabilidade social por parte da Makita. Desejamos sorte aos trabalhadores de Ponta Grossa (onde a Makita inaugurou nova unidade) e, principalmente, esperamos que a empresa não repita este episódio no Paraná”, disse Moisés Selerges.

A reunião que resultou no acordo assinado nesta quarta-feira foi marcada somente depois que o Sindicato ingressou com uma contestação ao interdito proibitório solicitado pela Makita contra o Sindicato, por conta do acampamento dos demitidos em frente à fábrica. No pedido de interdito, mais uma vez a Makita usa de má fé porque informava à Justiça apenas que a empresa faz uma reestruturação sem informar que fechou a fábrica e demitiu em massa.

33 DIAS DE MOBILIZAÇÃO – Desde o anúncio do fechamento da empresa, em 4 de setembro, os trabalhadores demitidos e o Sindicato se mobilizaram. Ontem (06/10), 300 pessoas fizeram uma caminhada de protesto até a Praça Matriz de São Bernardo. No sábado (03), os trabalhadores panfletaram na rua Marechal Deodoro (SBC) para enunciar o descaso da Makita com seus funcionários.

Na semana passada, a categoria se manifestou em frente ao Consulado-Geral do Japão, em São Paulo e o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, foi recebido pelo cônsul-geral do Japão em São Paulo, a quem pediu para interceder pelos funcionários demitidos.

O Sindicato também encaminhou à OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico) denúncia formal contra a Makita. A CNM/CUT (Confederação Nacional dos Metalúrgicos) entrou em contato com dirigentes sindicais no Japão, na quinta-feira (1°) para exigir que a matriz entre em contato com a Makita no Brasil para exigir providências.

HISTÓRICO – Desde 2004, quando a Makita iniciou a construção de uma planta em Ponta Grossa, no Paraná, começaram os rumores de que a unidade de São Bernardo seria fechada. O Sindicato mantém conversas com a empresa desde aquela época e sempre foi informado pela direção da Makita que a fábrica não fecharia nem demitiria os funcionários da planta no ABC, que apenas estava expandindo seus negócios.

Após o fechamento inesperado e mobilização dos dispensados em São Bernardo, novamente o Sindicato procurou a empresa que, pressionada por protestos e até apelo do Poder Público local, concordou em firmar acordo que garantia ampliação de pacote de benefícios aos demitidos e solução para os casos de trabalhadores que não poderiam ter sido dispensados – período pré-aposentadoria, grávidas, portadores de doenças ocupacionais. A empresa mais uma vez descumpriu o acordo e os trabalhadores voltaram a protestar em frente à fábrica, onde permaneceram acampados até esta quarta.

Da Assimp