O suicídio laboral

Veja abaixo trechos do depoimento enviado a Tribuna Metalúrgica por um trabalhador na base, que foi derrotado pelo suicídio laboral e hoje luta para se reerguer. Leia o texto completo em smabc.org.br

Esse desejo de morte no trabalho é, na verdade, um desejo de vida.

“Suicídio laboral é a morte funcional, o desespero, o jogar tudo para cima dos trabalhadores que, não suportando mais as opressões do dia-a-dia, decidem por fim em suas carreiras.
Isso aconteceu comigo.
Trabalhei por 20 anos numa multinacional, onde a moeda tornou-se um capital maior que o ser humano.
Tive a infelicidade de conviver com um chefe energúmeno, que não cumprimentava seus subordinados e andava pelos corredores com o olhar fixo no chão.
Era comum a gritaria, a humilhação e a exposição dos trabalhadores à situações ridículas, aos mandos e desmandos. A soma disso tudo ao tempo de convívio é a receita para o desgaste emocional, físico e mental dos trabalhadores.
Engolimos as humilhações, as ofensas, os xingamentos e, feitos cordeiros, continuamos a pastar o nosso solo.
Um dia, porém, todas essas manifestações de maus tratos com o corpo se apresenta de maneira agressiva.
A depressão, a angústia e aquela sensação de insanidade começam a nos rondar cada vez mais perto.
Tentamos relaxar, pensamos em férias e estes são os primeiro sinais de que necessitamos urgentemente de ajuda. Começamos a buscar auxílio médico e, a cada dose de brvalium, diempax e lexotan, a nossa personalidade sofre alterações bruscas.
Perdemos um pouco de nós mesmos, já não nos reconhecemos.
Os amigos se afastam e nos acusam de distantes, a família cobra por aquela pessoa de antes. O suicida laboral vive às margens do social.
O profissional cede aos caprichos dos tiranos e decide por fim à sua carreira. É comum nessa etapa a entrega ao fumo, ao álcool, às drogas.
O desejo de morte no trabalho é tão forte que o suicida consegue vencer todos os seus medos e preo-cupações.
Já não importa se o seu salário será menor em outra empresa ou se a idade é avançada. Por mais contraditório que possa parecer, esse desejo de morte no trabalho é, em verdade, um desejo de vida.
O suicida laboral vê nessa ruptura um novo horizonte, de paz e longe das tolices do poder ditatorial. Livrar-se desses ditadores é sinônimo de renovação.
Fica aí o alerta. Denunciem todo tipo de abuso de poder e de assédio moral. Filiem-se aos seus sindicatos.
Se eu fosse sócio do sindicato, é certo que não teria acabado com minha carreira. Gravem a última frase do suicida laboral: ‘Prefiro morrer de fome em casa do que morrer infartado na empresa”.