Acordos tem garantido ganho real dos salários

Metalúrgicos já começaram a realizar plenárias regionais para preparar campanha. A primeira aconteceu sábado (9), em Sorocaba

Categorias profissionais com data-base para renovação da convenção coletiva de trabalho no primeiro semestre tem conseguido negociar acordos que garantem reposição da inflação e aumento real de salário, apesar da crise. O que mudou foi o porcentual dos ganhos: em vez de se concentrarem na faixa entre 2% e 3% acima da inflação, têm ficado entre 0,5% e 1%.

Sob os efeitos da crise, as negociações ficaram mais difíceis. Muitas empresas começam a negociar oferecendo reajuste abaixo da inflação, enquanto sindicalistas reivindicam aumentos de dois dígitos. Um exemplo é o dos 25 mil sapateiros de Franca, no interior paulista, que pediam 16,75%. Com data-base em 1º de fevereiro, os trabalhadores só fecharam acordo em 30 de abril. Eles aceitaram 7% (ganho real de 0,5%), a ser aplicado em duas etapas: 6,5% retroativos a fevereiro, e 0,5% a partir de julho.

Em setores menos afetados pela crise, as negociações têm favorecido ganhos salariais. Na indústria de alimentação do setor de doces e conservas, os salários foram corrigidos em 7,5% – aumento de 1,18% além da inflação acumulada desde o reajuste do ano passado. O acordo beneficiou 25 mil trabalhadores no Estado de São Paulo, com data-base em 1º de março. No segmento de bebidas, o aumento real foi de 0,7%, o que, somado à inflação de 6,2%, medida pela variação do INPC de 12 meses, corresponde a um reajuste de 7%. Também com data-base em 1º de março, a categoria reúne 12 mil trabalhadores no Estado.

“Os resultados das negociações estão muito parecidos com os do ano passado, quando quase 90% das categorias conseguiram reajustes iguais ou superiores à inflação”, diz Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O professor de Relações do Trabalho e consultor da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Pastore, vê nesses acordos mais um indicador de que a crise não é generalizada. Segundo ele, os resultados das negociações este ano serão diferenciados não apenas por setores, mas também pelas regiões.

Metalúrgicos
No último sábado (9), em Sorocaba, os metalúrgicos do Estado de São Paulo começaram o debate da Campanha Salarial 2009.

A Federação Estadual dos Metalúricos da CUT (FEM/ CUTSP) promoveu uma Plenária Regional no Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba, que reuniu cerca de 60 dirigentes dos sindicatos de Sorocaba, Salto, Matão, Monte Alto, Cajamar, ABC, Pinda, Itu, Taubaté e Araraquara.

Na abertura dos trabalhos, os dirigentes fizeram uma análise sobre os efeitos da crise financeira mundial no ramo e afirmaram que a fase pior já passou. “A crise financeira atingiu vários setores. No nosso ramo, o setor de autopeças foi o mais afetado. Visando evitar demissões, nossos sindicatos fizeram acordos de lay off (suspensão temporária de contrato). As medidas de prorrogação do IPI ajudaram a reaquecer a economia e, por exemplo, hoje várias autopeças da nossa base anunciaram a suspensão do lay off e voltaram a contratar. Têm fábricas que estão fazendo horas extras”, explicou Valmir Marques (Biro Biro).

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba, Adenilson Terto da Silva, elogiou a iniciativa das Plenárias. “Acho correto as plenárias da FEM porque, além de debater temas de interesse da categoria, nos permitirá construir uma Campanha Unificada”, conta.

Terto ainda salientou que a categoria não aceitará dos patrões “a desculpa da crise” nas rodadas de negociação. “Esta será uma Campanha atípica, mas se depender da nossa ousadia, realizaremos diversas mobilizações. O nosso objetivo é conquistar melhorias nos direitos sociais e aumento real nos salários”, frisou.

Biro Biro disse que a categoria não ficará na defensiva. “Vamos buscar o que é nosso. Construiremos fortes mobilizações e lutaremos para ampliar as nossas conquistas”, concluiu.
 
Saúde e próxima Plenária
Na segunda parte da Plenária, os sindicalistas debateram a melhoria e a inclusão de novos direitos sociais. Participaram deste painel a coordenadora da Federação, Maria da Paixão, o assessor jurídico, Raimundo Oliveira e o diretor da FEM Gonçalo de Campos Filho.

Representando a Diretoria dos Metalúrgicos de Sorocaba, João Farane, que é vice-presidente da Federação, entregou à Federação as contribuições do Sindicato. O documento destaca clásulas que valorizam a saúde, como por exemplo a prevenção a acidentes de trabalho.

Todas as contribuições serão analisadas por um grupo de trabalho formado pela FEM e na Plenária Estatutária, agendada para 27 de junho, serão aprovadas e farão parte das pautas de reivindicações que serão entregues às bancadas patronais. A próxima Plenária da FEM acontecerá, no dia 30 de maio, no Sindicato dos Metalúrgicos de Araraquara. A última será em Taubaté, no dia 6 de junho.

Neste ano, a Federação negociará a renovação, ampliação e melhoria de todas as cláusulas econômicas e sociais da Convenção Coletiva de Trabalho com as bancadas patronais das Montadoras, Grupo 2 (máquinas e eletrônicos), Grupo 3 (Autopeças, Forjaria e Parafusos), Grupo 8 (trefilação, artefatos de ferro, materiais ferroviários entre outros), Grupo 10 (funilaria, mecânica, material bélico entre outros), Fundição e Aeroespacial.

Plenária Estatutária e base
Após as plenárias regionais, as propostas apresentadas pelos sindicatos filiados serão submetidas à votação na Plenária Estatutária, que acontecerá, no dia 27 de junho, às 10h, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Da Redação, com informações da Agência Estado