Os 30 anos da primeira greve geral dos metalúrgicos

No dia 13 de março de 1979, os metalúrgicos do ABC desencadearam a primeira greve geral de uma categoria urbana no País após o golpe militar de 1964


De cima de uma mesa, Lula comandou a primeira assembleia no Vila Euclides

A primeira greve geral durante a ditadura

A campanha salarial da categoria em 1979 aconteceu na esteira das greves deflagradas a partir de maio de 1978, que reuniram milhares de trabalhadores num dos primeiros movimentos após o golpe militar de 1964.

A Federação dos Metalúrgicos coordenava a campanha, que reunia 34 sindicatos de todo o Estado. As principais reivindicações eram reajuste de 78,1%, piso de três salários mínimos, garantia no emprego, 40 horas semanais e estabilidade para os acidentados.

No início de março, as negociações com a Fiesp chegaram a um impasse. No dia 9, assembléias de metalúrgicos recusaram a contraproposta patronal e tiraram indicativo de greve a partir do dia 13.

Um dia antes, porém, a Federação dos Metalúrgicos rompeu a campanha unitária e aceitou 44% de reajuste da Fiesp. Os metalúrgicos do ABC mantiveram a deliberação de greve.

Cerca de 113 mil companheiros cruzaram os braços em São Bernardo e Diadema, acompanhados por 47 mil companheiros de Santo André e região e outros 25 mil de São Caetano. O pessoal de Santa Bárbara também participou. Era a primeira greve geral urbana de uma categoria no País após 1964.

Assembléias monstros, repressão e cassação

A primeira assembléia durante a greve foi realizada no mesmo dia 13, no Estádio de Vila Euclides. Como não havia palanque nem sistema de som, Lula, presidente do Sindicato na época, falou para mais de 60 mil trabalhadores de cima de uma mesa e suas palavras eram sucessivamente repetidas e passadas para trás.

Nesse mesmo dia, a Fiesp pediu julgamento no Tribunal Regional do Trabalho (TRT).

O Tribunal concedeu apenas os 44% de reajuste e declarou a greve ilegal. Em resposta, os metalúrgicos decidem continuar parados. No domingo, dia 18, trabalhadores e suas famílias realizaram nova assembléia no Estádio de Vila Euclides com 80 mil pessoas. Com essas manifestações, o movimento se consolidou e ganhou o apoio da sociedade.

Repressão
A ação repressiva, que desde o início da paralisação era intensa, a partir do dia 19 torna-se mais agressiva e violenta. A Polícia Militar mobiliza toda a sua Tropa de Choque, cavalaria e soldados para o ABC.

No dia 23, o ministro do Trabalho, Murilo Macedo, determina intervenção federal nos três sindicatos de metalúrgicos do ABC: Santo André, São Bernardo e Diadema e São Caetano.

Trégua e fim do movimento

Mesmo com a intervenção, a greve continua até 27 de março quando, em assembléia, foi aprovada uma trégua de 45 dias, acordada entre os patrões e a diretoria cassada do Sindicato.
A trégua previa a suspensão da greve e a reabertura das negociações.

Durante esses 45 dias, o pessoal se manteve mobilizado.

A diretoria do Sindicato, embora destituída pela intervenção, continuava realizando reuniões com os trabalhadores nas portas de fábricas, nos bairros e entregando materiais informativos.

150 mil
A Igreja Matriz de São Bernardo passou a ser a sede da direção do movimento.

Sem poder imprimir a Tribuna Metalúrgica, o ABCD Jornal, informativo que existia em edição semanal, passou a circular quase diariamente com linha editorial fornecida pela diretoria e distribuição gratuita.

Realizaram-se shows, torneios de futebol e várias atividades com o objetivo de arrecadar fundos. O ato de 1º de Maio reuniu mais de 150 mil pessoas na Vila Euclides.
Finda a trégua, no dia 13 de maio é realizada nova assembleia e uma proposta de acordo foi apresentada.

Ela estabelecia, entre outros itens, 63% de reajuste. A assembléia aprovou a proposta e a greve foi encerrada.