Trabalho precário é criticado em palestra no Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba

O professor de economia da Unicamp, José Dari Klein, ministrou palestra no Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba sobre "Precarização do Mercado de Trabalho - Seus Efeitos Sociais e Econômicos"

O trabalho precário e a apropriação, pelo trabalho, da maior parte do tempo que o indivíduo passa acordado seriam as causas das chamadas “doenças do século 21”, como estresse, angústia, ansiedade e outras moléstias psicológicas, na opinião do professor de economia da Unicamp, José Dari Klein, que ministrou palestra no Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba no último dia 13, sobre “Precarização do Mercado de Trabalho – Seus Efeitos Sociais e Econômicos”.

Além do economista, formaram a mesa de palestrantes João Batista Martins César, procurador do trabalho na região de Sorocaba; Érika Mendes de Oliveira, advogada trabalhista do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região; Valmir Leite de Campos, advogado do Sindicato dos Trabalhadores na Alimentação de Sorocaba e Região e Izídio de Brito Correia, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos e  vereador pelo PT de Sorocaba.Para João Batista, a forma de organização do trabalho atual é prejudicial não só para o trabalhador, mas para toda a família.

“Domingo era dia de ficar com a família, era tempo para criar os filhos. Hoje o contato familiar está se perdendo”, afirma.Crise e neoliberalismoSegundo o procurador, a crise econômica mundial atual tem um aspecto positivo, que é mostrar que a tese do pensamento único, do neoliberalismo, acabou. Para ele, o modelo do “pensamento único” defende o mercado, o capital como regulamentador de todas as coisas, da economia ao mundo do trabalho. As leis e o Estado seriam desnecessários, segundo essa tese. “Mas a crise mostrou que esse modelo atual não atende às necessidades do ser humano nem da mãe terra, da preservação do planeta”.Klein, que além de economista é diretor do Centro de Estudos de Economia do Trabalho (Cesit), concorda com o procurador e condena também o aumento desenfreado do consumo como forma de gerar mais empregos. “Se a gente pensar que consumir muito para produzir mais e mais vai gerar emprego para todo mundo, está errado. O planeta não agüenta. Não é ecologicamente sustentável. O ideal é racionalizar a carga individual de trabalho para ter trabalho para todos”.

Crime trabalhista
O professor defende a criminalização do delito trabalhista. “Quando um sujeito rouba um pãozinho numa padaria logo alguém grita: – Pega Ladrão! Agora, um empresário que nega os direitos mais básicos ao trabalhador, como o registro em carteira, 13º, descanso, é poupado. Tem que ser tratado como crime”.Na opinião de Klein, a solução para a terceirização, forma de precarização mais criticada pelo público da palestra, seria regulamentar a questão no Congresso, com os trabalhadores fazendo pressão sobre deputados e senadores para ter seus interesses atendidos.João Batista discorda. “A formação atual do Congresso Nacional é a mais capitalista da história da República. Há poucos representantes sindicais, dos trabalhadores”. Para o procurador, o ideal é a união de todos os que defendem os trabalhadores.

Para ele, “os sindicatos devem ser atuantes, tentar resolver os problemas e, se não conseguirem, devem acionar os órgãos públicos”. João Batista afirma que a lei atual dá instrumentos para combater irregularidades, mas os sindicatos e o Ministério Público devem receber informações dos trabalhadores “E é necessário ter provas “.O papel dos sindicatosJá o professor Klein cobra uma atuação mais ampla do Sindicato para combater a precarização. “Os sindicatos não podem se limitar a resolver problemas localizados por empresas ou somente nas suas categorias profissionais.

O sindicato tem que ser classista, atuar pela classe trabalhadora. Tem que ir para a sociedade e ocupar seu espaço”. Izídio é da mesma opinião que o professor e vê necessidade de uma mudança de foco por parte do movimento sindical. “Temos dado prioridade a conquistas e benefícios de curta duração, como a participação nos resultados, que é paga anualmente aos trabalhadores. É necessário focarmos mais na organização dos trabalhadores como forma de defender direitos e combater a precarização”.

Espírito de solidariedade
“As vezes deixamos de perceber que a participação nos resultados é boa para o trabalhador mas é melhor ainda para o patrão. Ela acaba com o espírito de solidariedade no local de trabalho.

Chega ao cúmulo de um trabalhador que se afasta da empresa devido a acidente ou doença ocupacional ser criticado pelos companheiros porque prejudicou as metas da PLR”, afirma o vereador sindicalista.Sobre a comentada reforma nas leis trabalhistas, o professor Klein afirma: “O empresariado conservador defende enxugar as leis, mas nós não temos legislação demais; temos é flexibilização demais [nas leis trabalhistas]. Tem muitos trabalhadores não protegidos por Lei”.

A maior parte do público foi formada por dirigentes sindicais, que puderam fazer perguntas aos palestrantes. O evento foi coordenado por Valdeci Henrique da Silva, secretário geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região.

Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região