Indústria tem fôlego para atravessar a crise sem demitir

Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, disse nesta segunda-feira (8), em entrevista coletiva à imprensa, que existem mecanismos suficientes para evitar demissões até o final de 2009 e garantiu que, se esses mecanismos não forem esgotados antes de qualquer demissão no setor, a categoria vai fazer " a guerra que tiver que ser feita para manter o emprego"

O presidente do Sindicato, Sérgio Nobre, disse que as fábricas não têm o menor motivo para demitir nesse momento. Segundo ele, os empresários ganharam muito dinheiro nos últimos anos e precisam agora assumir sua parte de responsabilidade diante da crise internacional.

“Se demitirem, as fábricas vão arrumar uma crise com o Sindicato. Vamos fazer a guerra que tiver que ser feita para manter o emprego”, declarou o dirigente em coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira.

O Sindicato convocou a coletiva para mostrar seu ponto de vista a respeito da crise, a qual Sérgio Nobre considera potencializada pela forma como vem sendo noticiada. Ele insistiu na sua afirmação feita semana passada de que economia é também estado de espírito, e se todos acreditaram que tudo vai mal, tudo irá mal.

Faltam elementos
Ele cobrou responsabilidade das empresas e disse que ainda é muito cedo e não existem elementos suficientes para avaliar os verdadeiros impactos  da crise internacional sobre a economia brasileira. “Acredito que só no final do primeiro semestre do ano que vem é que as coisas vão se desenhar”, previu.

Sérgio criticou duramente empresários que ficam prevendo demissões em massa, pois estes repetem um discurso da selvageria do século 19. “No tempo que vivemos o discurso deveria ser o da responsabilidade social, porque o emprego é um dos maiores patrimônios das pessoas”, enfatizou.

Para o presidente do Sindicato, há várias mecanismos para as empresas superarem esse momento e atravessar 2009 sem alterar o nível de emprego como redução da jornada de trabalho, férias, bancos de horas, e afastamento do trabalho para treinamento.

Produção de carros em milhões
2003 – 1,83
2004 – 2,21
2005 – 2,45
2006 – 2,61
2007 – 2,97
2008 – 3,27*
*estimativa

Faturamento setor de autopeças
(em bilhões de dólares)
2002 – 11
2003 – 13,3
2004 – 18,5
2005 – 25,2
2006 – 28,5
2007 – 35,9
2008 – 44,1*
*estimativa

Os números são da Subseção Dieese do Sindicato, com base em dados da Anfavea e do Sindipeças.

Emprego tem de ser protegido
O Congresso Nacional foi acionado para retomar o debate sobre medidas que possam proteger e até mesmo ampliar o emprego no Brasil. Uma delas, é a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais sem redução de salário. Outra é a assinatura da Convenção 158 da OIT, que proíbe a demissão imotivada.

Sérgio Nobre considera todas urgentes porque, na sua opinião, a demissão está banalizada no Brasil. “A atual Constituição impôs multa de 40% sobre o saldo do FGTS como medida de proteção, mas a multa foi incorporada ao custo das empresas e a rotatividade continua alta”.

Segundo o levantamento da Subseção Dieese, a rotatividade no setor de autopeças chega a 24% ao ano. Ou seja, a cada 100 trabalhadores, 24 são substituídos. Fábricas demitem os de maior salário e contratam outros pelo piso.

No setor de manutenção e instalação industrial, a rotatividade chega a 75%, a maior da categoria. Na média de todos os setores, a rotatividade está em 37%. Nas montadoras é de 2,8%, baixa devido à organização no local de trabalho.

Da Redação da Tribuna Metalúrgica